18 de agosto de 2018

História da Medicina: Questões Propostas

"A avaliação precisa ser espelho e lâmpada, não apenas espelho. Precisa não apenas refletir a realidade, mas iluminá-la, criando enfoques, perspectivas, mostrando relações, atribuindo significados." (Ristoff, 1996)
Ristoff DI. Princípios do Programa de Avaliação Institucional. Avaliação (Campinas). 1996;1(1):47-53.

Questões propostas aos alunos de História da Medicina e da Bioética após a I Unidade do Módulo em 2018.1 para Discussão

(1) Como a história da medicina pode ajudar o médico a entender e enfrentar problemas atuais da sua prática profissional?

(2) Analise ideias, crenças ou percepções sobre o conceito de saúde documentadas em determinado tempo na história das culturas dominantes no mundo ocidental, relacionando-as a seu momento histórico.

(3) Avalie criticamente o seguinte título “A medicina na Grécia Antiga: O nascimento de uma ciência” de artigo publicado na Revista National  Geographic – España, em 18/06/17.

(4) Comente a seguinte assertiva, inserindo sua interpretação na evolução da medicina como ciência e sua repercussão sobre a prática da medicina no século XX: “Graças aos ensaios clínicos, a medicina clínica passou a ser fundamentada em provas de eficácia e segurança, e os médicos não teriam que depender da enganosa experiência subjetiva.” (Miguel Ángel Sánchez González, Universidad Complutense de Madrid, Espanha).

(5) O sentido de saúde e de doença evoluiu em função do momento histórico, das culturas, do sistema social e do nível de conhecimentos. Comente as visões do que representa a doença em dois diferentes períodos históricos e estabeleça um paralelo entre as mesmas.

Imagem: Ciência e Caridade (1897), de Pablo Picasso, em óleo sobre tela, 197 x 249 cm. Museu Picasso (Barcelona, Espanha)

10 de agosto de 2018

Sepsis 3: Controverso Consenso

Figura 1 - Datas e Organizações envolvidas nas reformulações das diretrizes sobre Sepse: Sepsis 1, Sepsis 2 e Sepsis 3

O domínio do conhecimento dos critérios de definição de sepse pelos médicos tem grande relevância por propiciar maior oportunidade de diagnóstico, tratamento imediato e a possível melhora no prognóstico desta condição grave e potencialmente fatal (SINGER et al., 2016). Mesmo os profissionais não diretamente envolvidos em atendimento rotineiro de pacientes críticos devem ser capazes de reconhecer os sintomas e sinais de sepse e providenciar o encaminhamento imediato para que o tratamento possa ser feito prontamente. 
Em 1991, na Conferência Internacional de Consenso de Sepse (American College of Chest Physicians Society – ACCP e Society of Critical Care Medicine – SCCM) definiu-se a Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS), no consenso chamado de Sepsis-1. Em 2001, surgiu o Sepsis-2, após conferências da European Society of Intensive Care Medicine (ESICM), o ACCP, a American Thoracic Society e a Surgical Infection Society, pois se concluiu que o conceito apresentado no Sepsis-1 era inespecífico no diagnóstico da causa da síndrome, criando-se uma lista de possíveis sinais de uma reposta inflamatória sistêmica em resposta a uma infecção. Definições de sepse, sepse grave e choque séptico, que foram ratificadas na reunião de consenso 10 anos antes, foram, então, modificadas. Sinais e sintomas inespecíficos foram valorizados como critérios diagnósticos da sepse em comparação com os critérios identificados na reunião de consenso de 1991, enfatizando-se a necessidade de  diagnóstico precoce (GÜL et al., 2017).
O entendimento do Instituto Latino-Americano de Sepse (ILAS) estava fundamentado nestes parâmetros do Consenso da ACCP/SCCM, o que se supunha permitir o estabelecimento de uma definição universal das manifestações da resposta inflamatória à infecção, conhecidas como Sepsis 1, facilitando seu reconhecimento e tratamento precoces (ILAS, 2015).
A definição de sepse foi, então, atualizada em 2016, após uma nova conferência de consenso e publicaram-se os últimos critérios definidores de sepse, o The Third International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock, conhecidos como “Sepsis 3” (SINGER et al., 2016). Embora as definições tenham sido endossadas por muitas sociedades de terapia intensiva em todo o mundo, também geraram controvérsias, principalmente no que se refere ao aumento da especificidade à custa de redução da sensibilidade dos novos critérios (VINCENT et al., 2016).
O Instituto Latino Americano de Sepse tem uma página na Internet chamada “Sepse em Foco”, em cuja edição nº 5, de março de 2016, ou seja, logo após a divulgação do Sepsis-3, encontrava-se um comunicado explicando porque o órgão não endossou as novas diretrizes. Há vários meses, entretanto, este comunicado foi removido sem que tenham sido inseridas explicações e não foram publicadas mensagens posteriores a respeito das novas diretrizes ou orientação aos profissionais de saúde. Mas ainda está postado na página da "Sepse em Foco" o apelo de que o Sepsis-2 deveria ser mantido (Figura 2). Nesta imagem, lê-se a expressão em inglês "keep calm and don't change sepsis definition". "Keep calm" é uma expressão derivada do slogan criado pelo governo da Grã-Bretanha durante a II Guerra Mundial ("Keep calm and carry on" - "tenha calma e siga em frente") para tranquilizar seus cidadãos sobre possíveis invasões inimigas. 

                                   Figura 2- Fonte - ILAS. Sepse em foco, 2016

Entende-se que a orientação do Instituto Latino-americano de Sepse na América Latina é no sentido da manutenção dos critérios operacionais utilizados anteriormente, os quais segundo Machado et al. (2016), são mais adequados para aplicação em países em desenvolvimento, onde os parâmetros da SIRS continuam a ser recomendados (KAUKONEN et al., 2018).
Portanto, no momento, ainda há controvérsias no Brasil e na América Latina quanto ao novo consenso Sepsis 3, considerando-se que aspectos das novas definições não deveriam ser inteiramente aplicáveis pelo risco de uma redução da sensibilidade e de retardo no reconhecimento da sepse em países com recursos limitados.

Referências
Gül F, Arslantaş MK, Cinel I, Kumar A. Changing Definitions of Sepsis. Turk J Anaesthesiol Reanim 2017; 45: 129-38
ILAS. Instituto Latino Americano de Sepse. Sepse: um problema de saúde pública / Instituto Latino-Americano de Sepse. Brasília: CFM, 2015. http://www.ilas.org.br/assets/arquivos/upload/Livro-ILAS(Sepse-CFM-ILAS).pdf.
ILAS. Sepse em foco. 2016. Disponível em:
Kaukonen KM, Bailey M, Pilcher D, Cooper DJ, Bellomo R. The systemic inflammatory response syndrome criteria and their differential association with mortality. J Crit Care. 2018;46:29-36.
Machado FR, Assunção MSC, Cavalcanti AB, Japiassú AM, Azevedo LCP, Oliveira MC. Chegando a um consenso: vantagens e desvantagens do Sepsis 3 considerando países de recursos limitados. Rev Bras Ter Intensiva 2016;28(4):361-365

Singer M, Deutschman CS, Seymour CW, Shankar-Hari M, Annane D, Bauer M, et al. The Third International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock (Sepsis-3). JAMA. 2016; 315(8):801-10.

Vincent JLMira JPAntonelli M. Sepsis: older and newer concepts. Lancet Respir Med. 2016;4(3):237-40.