28 de abril de 2012

VI Congresso Paraibano dos Estudantes de Medicina

Com o tema "A produção científica na medicina e seu papel na sociedade", o Centro Acadêmico de Medicina da UFPB promove a sexta edição do Congresso Paraibano dos Estudantes de Medicina (VI CPEM), que será realizado em João Pessoa, Paraíba, entre os dias 16 a 18 de agosto de 2012.

Este evento tem como objetivo oferecer oportunidade de debate e reflexão sobre a pesquisa cientíca, estimular a produção do conteúdo acadêmico e despertar a vocação para o campo da pesquisa  ainda na universidade, onde o estudante está em formação. Este evento também tem por objetivo promover a interação entre os estudantes do curso de graduação em medicina da UFPB e de outras escolas da região, do 1º ao 6º ano, interrelacionando ensino, pesquisa e extensão.
Nesse sentido, a pesquisa na graduação é uma atividade motivadora e muito enriquecedora, que torna a formação mais abrangente e dota os graduandos de maior capacidade de observação e análise, além de propiciar o desenvolvimento de sua competência criativa e inquiridora.
Considerando que a apresentação de trabalhos em congressos é uma parte importante no processo de intercâmbio de informações científicas, mas não é suficiente, todos os resumos dos temas livres apresentados no VI CPEM serão publicados em um suplemento da Revista Brasileira de Ciências da Saúde, possibilitando que esses trabalhos tornem-se mais amplamente conhecidos, ao passar a fazer parte do acervo de bibliotecas e acessados pela Internet.

Participe! Inscreva-se! 
Envie seu trabalho científico até o dia 17 de junho de 2012!

25 de abril de 2012

A Fala do CANAL no Debate dos Reitoráveis: Verdades e Equívocos


Por Climério Avelino de Figueredo
Professor do Departamento de Fisiologia e Patologia da UFPB, Campus I

No debate entre os reitoráveis que ocorreu hoje, 19/04/12, promovido pelo Centro Acadêmico Napoleão Laureano (CANAL), o representante do grupo que está na direção deste centro acadêmico, Pablo Cartaxo (meu ex-aluno, estudioso, comprometido, educado e a quem muito prezo), no curto tempo que lhe foi destinado, apresentou a visão deste grupo sobre a universidade, e da qual, anotei os seguintes pontos principais;
· A UFPB e as universidades federais estão submetidas a um insidioso processo de privatização e de precarização (suponho que a precarização se refere ao trabalho dos docentes);
·   Os alunos que ingressam na UFPB são quase que exclusivamente das escolas privadas já que escola pública é de péssima qualidade;
·     A UFPB está um caos;
·   Os candidatos a reitor não têm um projeto de transformação e sim de manutenção do status quo.
Em outras ocasiões, esta visão foi mais bem explicitada e ela coincide com a visão de outras pessoas que militam no movimento docente, discente e de servidores técnico-administrativos, o que não é novidade, visto que elas são oriundas de segmentos da esquerda que são fortemente críticos em relação ao governo e às políticas ditas neoliberais.
Inicialmente, gostaria de afirmar que estas são questões complexas e para bem conhecê-las é necessário muito estudo e a sua resolução não ocorre por atos voluntaristas, nem de forma rápida. Daí porque acredito que parte do que foi dito pelo Pablo é verdadeiro, mas sua visão está cheia de equívocos.
Vejamos!
O processo de privatização e precarização das universidades não ocorre. É apenas um chavão usado pelo movimento sindical e estudantil para manter uma prática no serviço público que é condenável e danosa aos interesses públicos.
O caráter público das universidades e dos HUs é dado por três aspectos: financiamento público de suas despesas, gratuidade do seu acesso e funcionamento de acordo com o interesse público.
As medidas que têm sido propostas e implementadas não comprometem estes três aspectos. A atual situação, sim.
Se observarmos a maneira como funciona a universidade, veremos que este funcionamento não leva em consideração o interesse público e sim o interesse privado. Tomemos como exemplo o HU e, dentro dele, a categoria médica.
Se formos ao HU em uma manhã qualquer, veremos o seguinte, em relação ao trabalho do médico:
1- São raros os que cumprem a jornada de trabalho de quatro horas, por turno. Eles ficam, talvez, metade deste tempo e atendem os pacientes de forma rápida, o que compromete a qualidade do atendimento e a possibilidade de cura, acarretando desperdício de recursos;
2- Muitos chegam cedo, atendem rapidamente os pacientes e vão para seus consultórios, clínicas e hospitais;
3- Outros chegam tarde porque, antes, passam nos hospitais, para visitar seus pacientes, ou nos consultórios, onde fazem atendimento.
Este mesmo comportamento se observa em um grande número de professores que têm a universidade como bico. Eles vêm apenas dar a aula, quando vêm, e retornam às suas atividades privadas, mesmo sendo professores com dedicação exclusiva.
Muitos colocam as aulas no horário que lhes é adequado e não no horário adequado aos alunos. Como consequência, o horário dos alunos fica cheio de “buracos”, o que lhes é muito prejudicial. Conheço muitos casos interessantes que aqui não relato para não alongar o texto
E os servidores técnico-administrativos? Na maioria, eles ficam ociosos a maior parte de sua curta jornada de trabalho e organizam seus horários de acordo com os seus interesses e não segundo o interesse da universidade. Exemplo: excesso de servidores em horários que lhes são convenientes e falta em outros horários importantes para os setores.
Então, caro Pablo, já está tudo privatizado. Sobre isto, os grupos que alegam a suposta privatização, nada ou pouco falam.
É mais fácil culpar o governo.
E a precarização?
Um trabalho é precário quando estão presentes algumas destas características: ambiente físico inadequado, jornada de trabalho prolongada e/ou extenuante, salários irrisórios e assédio moral de chefes que exigem resultados que extrapolam o que normalmente é cabível.
Alguém acha que pelo menos uma destas características está presente nas universidades?
Todo este quiproquó ocorre porque começa a se exigir que nós atinjamos metas, que, é preciso dizer, são muito fáceis, facílimas de atingir, como um mínimo de oito (eu disse oito!) horas de aulas por semana (eu disse por semana!), e que o professor faça pelo menos duas (d-u-a-s!) destas três atividades: ensino, pesquisa e extensão.
A respeito da suposta precarização do trabalho docente, eu envio um texto que produzi semestre passado, intitulado: Por que os professores universitários sofrem tanto?
A democratização do acesso
É verdade que são poucos os alunos oriundos das escolas públicas que ingressam em nossa universidade, notadamente nos cursos mais concorridos, o que demonstra a baixa qualidade do ensino nestas escolas e a grande defasagem em relação às escolas privadas.
Que a escola pública é de baixa qualidade, todos sabemos e isto é o resultado de múltiplos fatores, entre eles o descaso de sucessivos governos. O Pablo falou que antigamente as melhores escolas eram públicas, como o Liceu Paraibano.
Além do descaso governamental, há outros fatores mais complexos envolvidos com esta questão como a universalização do ensino fundamental, a expansão do ensino médio e a mercantilização da educação. Na época em que o Liceu era um dos melhores colégios da Paraíba, o número de colégios, professores e alunos era pequeno, tanto em termos absolutos quanto em termos relativo à população da Paraíba. Então, era mais fácil garantir melhor qualidade.
A mercantilização da educação levou à expansão do ensino privado. Do ponto de vista financeiro é mais interessante pagar o ensino fundamental e o ensino médio e garantir o acesso às universidades públicas.
Por mais que o governo invista nas escolas públicas, dificilmente elas atingirão o patamar das escolas privadas que, para garantir a superioridade adquirida, investirão mais ainda. No entanto, o governo pode e deve melhorar a qualidade do ensino público. Mas, nestas e em outras questões, a responsabilidade, embora seja mais do governo, deve ser compartilhada com a sociedade, com as famílias e com as pessoas, individualmente ou agrupadas.
Dentro desta visão, o que a UFPB poderá fazer? Muito.
Darei um exemplo. Em cada ano civil, são previstos dois semestre letivos, cada um durando cerca de quatro meses e cem dias letivos. Isto significa que durante oito meses por ano, os professores, os servidores técnico-administrativos e toda a infraestrutura da universidade estão ocupados com os alunos da graduação e da pós-graduação. Nos quatro meses restantes, os servidores técnico-administrativos deveriam gozar férias trabalhistas de 30 dias, os professores, de 45 dias (sim, nós estamos entre o grupo de categorias privilegiadas (professores universitários, juízes, parlamentares que têm férias mais longas do que os demais trabalhadores).
Conta elementar: professores, servidores técnico-administrativos e a estrutura universitária ficam ociosos durante 75, 90 e 120 dias, respectivamente, todo ano.
Por que, então, não colocar tudo isto à disposição das escolas públicas oferecendo cursos de capacitação para os professores destas escolas, cursos de extensão para os alunos e, também, para a comunidade?
Ao invés disto, a universidade fica às moscas, com salas de aulas e laboratórios vazios. Os servidores vêm esporadicamente ao trabalho. E os professores? Tirando uma pequena minoria que vem à universidade, os demais podem ser encontrados nas suas residências, nos shoppings centers, nas praias e, principalmente, nas suas atividades privadas.
Caro Pablo e demais militantes do movimento docente, discente e técnico-administrativo, por que vocês se calam sobre isto? 
A UFPB está um caos?
Depende. Se a analisamos pelo aspecto da estrutura física e dos equipamentos, podemos dizer que temos melhorado, graças às verbas do Programa de Apoio à Re-estruturação  e Expansão das Universidades Federais (REUNI), programa ao qual se opuseram quase todos esses que agora denunciam o caos e a suposta privatização das universidades.
Na reunião do Conselho Universitário que votou a adesão da UFPB ao REUNI, os representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) votaram contra a adesão.
Desde o tempo em que eu militava no movimento estudantil, lá atrás, este tinha como uma de suas bandeiras de lutas o aumento das vagas nas universidades públicas. É estranho que no momento em que o governo propõe isto juntamente com o aumento de verbas e de vagas para a contratação de professores, quem mais deveria apoiar esta medida negue o seu apoio.
Qualquer um que conhece a UFPB há algum tempo pode constatar estas melhorias. Em outros aspectos, também avançamos, como o número de vagas ofertadas no PSS, o número de cursos de graduação e pós-graduação, as atividades de pesquisas e de extensão etc.
Mas, se analisamos a UFPB em termos do que avançou e do montante dos recursos que ela recebeu, podemos dizer que há problemas.
Não diria caos, mas situação complicada, nós podemos encontrar no que diz respeito ao cumprimento da jornada de trabalho por parte de professores e servidores técnico-administrativos e à qualidade e à quantidade deste trabalho.
Para sanar estes problemas, medidas como jornada de trabalho de oito horas diárias, aferida com ponto eletrônico digital (este que existe mediante senha que corresponde ao  CPF de cada servidor, é uma piada. Funcionários de um mesmo setor socializam o número de seus CPF e quem chega primeiro ou sai por último tecla a senha dos demais), estabelecimento de metas de desempenho e avaliação do trabalho docente, aí incluída a avaliação por parte dos alunos.
Mas, caro Pablo e demais militantes acima qualificados, cumprimento de jornada de trabalho de oito horas diárias, ponto eletrônico digital, metas de desempenho e avaliação são medidas com as quais vocês não concordam ou sobre elas silenciam. Por quê?      
Muitas outras dificuldades poderiam ser solucionadas se houvesse um melhor gerenciamento dos recursos, evitando desperdícios pelo consumo inadequado de eletricidade, telefone, água e material de expediente. E também pela concessão de passagens e diárias, pelo uso de automóveis e pela distribuição de equipamentos tendo com critério as relações de compadrio e não a funcionalidade com base no interesse público.
Os candidatos a reitor têm um projeto de transformação?
O processo de eleições diretas para os cargos de direção da universidade é algo importante para a sua democratização. No entanto, tal qual na política partidária extra-universidade, ele engendrou uma prática política que está permeada pelo interesse de grupos corporativistas organizados e pelo interesse de pessoas que  utilizam o bem público para tirar vantagens pessoais.
Se contrapor a estes interesses implica altas chances de derrotas. Além disto, nas universidades, o poder é muito fragmentado. Devido a isto, o poder de mudança na mão de um reitor é muito limitado.
Mas, se bem utilizado e em conjunto com outras forças mudancistas, pode ter uma ação incrementalista, para usar um termo do campo da análise de políticas públicas. Uma mudança consistente no âmbito da UFPB contrariará muitos interesses.
Por isto, tal qual o Pablo, não acredito que haja muitas mudanças, qualquer que seja o eleito, ou a eleita. Por conta do momento delicado, não aprofundarei a análise se a prática dos candidatos e candidatas é coerente com o discurso de campanha.
Mas uma coisa é preciso que se diga: o que propõem os atores acima explicitados vai de encontro a uma mudança que vise ao interesse público, pois são propostas que fortalecem as piores práticas corporativistas existentes nas universidades.    
Além destes pontos importantes na fala do Pablo, para finalizar, comento brevemente a primeira pergunta feita pelos membros da diretoria do CANAL que foi sobre a realização de estágios pelos estudantes de medicina em outros hospitais além do HU, o que reforçaria o seu aprendizado.
Sobre isto, quero dizer que na  minha época de estudante, de forma precária, isto existia, mas que os dirigentes dos hospitais onde os estágios eram realizados reclamavam que os professores orientadores dos alunos não compareciam, deixando-os perdidos, o que os transformava em meros executores de tarefas, ou seja, mão de obra gratuita para os hospitais.
Dos alunos, escuto muitas reclamações a respeito da ausência de professores em sala de aula, do não aproveitamento de todo o tempo destinado à aula, da prática de  mandar monitores e mestrandos/doutorandos em seu lugar (quando é obrigação do professor estar presente em sala de aula). Tem mais: professores que não dominam o conteúdo da disciplina, que não atualizam o material didático, que não corrigem e publicam as notas no tempo hábil, que têm comportamento autoritário para com os alunos, etc, etc, etc.
No início do mês, o salário estará garantido. Então, caro Pablo e demais, em termos de privatização... já está tudo dominado!
Por que ANDES e ADUFPB são contrários à avaliação quantitativa e qualitativa dos professores?                  
        
Sugestões
Algumas:
1-Exigência de cumprimento de jornada de trabalho de 40 horas semanais, em dois turnos, com aferição pelo ponto eletrônico digital e por outros mecanismos, para professores e alunos;
2-Cassação da dedicação exclusiva para professores que têm atividades privadas;
3-Distribuição dos servidores técnico-administrativos pelos diversos setores de acordo com as necessidades dos setores e não de acordo com os interesses particulares (quase sempre indefensáveis);
4-Férias para professores (e para juízes e parlamentares) de trinta dias, tal qual têm os demais trabalhadores, como os da construção civil, os das atividades agrícolas, os garis etc.;
5- Expansão das vagas e dos cursos (temos, na ativa, 3.639 servidores técnico-administrativos e 1.290 professores. Com toda esta galera trabalhando 40 horas semanais poderíamos dobrar a oferta e não precisaria haver nenhuma contratação);
6-No caso do HU, exigência de o médico atender o paciente no horário que está marcado, evitando a precarização da vida do doente que vem de Coxixola (Coxixola =  qualquer lugar distante), de madrugada, e fica até tarde da manhã, muitas vezes com fome e com o desconforto da doença, esperando o médico;
7- Organização do primeiro período letivo para os meses de março/abril/maio e junho (cem dias letivos) e do segundo período letivo para os meses de agosto/setembro/outubro/novembro (cem dias letivos). Férias coletivas para professores e servidores técnico-administrativos no período de 20 de dezembro a 20 de janeiro;
8- Organização de cursos, oficinas, seminários, vivências, palestras para a comunidade, notadamente para alunos e professores das escolas públicas, nos meses em que não houvesse aula para os cursos normais da UFPB, nem férias trabalhistas. Neste caso, professores e servidores técnico-administrativos, ao invés de ficarem em casa, nos shopping centers, nas praias e nos bares, viriam para a universidade ministrar estas atividades acima elencadas, pois somos pagos para trabalhar e não para ficar no ócio;
9- Implementação da avaliação quantitativa e qualitativa de professores e servidores técnico-adminstrativos, com vinculação do desempenho ao salário e à ascensão funcional;
10- Controle rigoroso do gasto na universidade para evitar desperdício e maior transparência na gestão.
Além destas dez sugestões, muitas outras podem ser postas em prática.
Aí sim, teríamos uma mudança significativa na UFPB.
Certamente o Pablo e os atores acima nominados não concordam com estas propostas. Nem graça haveria em apoiá-las, pois não caberia o bordão de culpar o governo e o neoliberalismo. Todas estas falhas são cometidas por nós. Feito o trabalho de casa, com moral, poderíamos reivindicar 10% do PIB para a educação.  


Climério Avelino de Figueredo é Professor do Departamento de Fisiologia e Patologia da UFPB - climerioaf@bol.com.br


A figura ilustrativa desta postagem foi escolhida pelo GESME (Fonte: infojovem.org.br).

23 de abril de 2012

A Clínica é Soberana para o Médico Moderno?

A Clínica é Soberana para o Médico Moderno?
A clínica é soberana sobretudo no ato do médico de prestar real atenção ao que o doente narra.
Texto do GESME publicado na Revista "Cooperando", da Unimed/Natal, RN. Ano X, n. 117, Jan/Fev/Mar 2012, seção Artigo Médico.

 “A clínica é soberana” é uma antiga máxima repetida em todas as escolas médicas. Para começar este texto, esta expressão um pouco desgastada será substituida por um questionamento mais concreto: a arte do ouvir o paciente ainda é valorizada pelo médico moderno?
O adoecimento é um fenômeno integral que reflete a biografia do indivíduo. Um conjunto de reações do doente faz com que a mesma úlcera gástrica seja uma afecção distinta entre dois pacientes diferentes. Esta singularidade surge e se concretiza no próprio ato de narrar.
Para perceber isso, é necessário seguir o fio da narrativa de cada pessoa, buscar sentido em sua linguagem, compreender o significado dos seus relatos e considerar a doença pela perspectiva do doente. Ele pode se sentir doente, mas sua enfermidade não ser evidenciada de forma objetiva. Assim, os métodos de exame complementar, reputados como objetivos, esgotam-se rapidamente, caso não sejam fundamentados e interpretados mediane um conhecimento subjetivo do estado do paciente.
O que seria exatamente a tão propalada “arte de ouvir o paciente”? Ouvir faz parte do ato de comunicação entre médico e paciente. Isso significa prestar atenção de forma plena, sem preconceitos, à narrativa deste. A maioria de nós, médicos, não está mais muito preocupada em ouvir o paciente, e sim em falar. Esse aspecto é fundamental porque “será o paciente quem dirá o seu diagnóstico”, ou seja, é atitude de escuta e atenção do médico que determinará as possibilidades de expressão do seu paciente.
É justamente nesta tarefa de se constituir um ouvinte interessado que reside o maior obstáculo para se obter uma história clínica significativa. Contudo, atualmente diminuiu o número de horas dedicado ao paciente. Defrontado com a falta de tempo para o atendimento de filas, cada vez maiores nos ambulatórios, o médico, especialmente aquele assalariado em serviços públicos, não tem mais tempo para ouvir, ou simplesmente não querem mais ouvir o seu paciente. Essa redução do tempo dedicado à clínica tem sido considerada uma das principais causas da perda de qualidade do trabalho médico e de insucesso na interação médico-paciente.
A anamnese inexpressiva, cada vez mais restrita e superficial, resulta na incapacidade de se alcançar o diagnóstico clínico do paciente. Restará, então, ao médico, aturdido, mas encantado pelos avanços da tecnologia, recorrer excessivamente aos exames laboratoriais e de imagem como melhor recurso para descobrir o problema do seu paciente.
Mas, não é a técnica, e sim a arte médica que permanecerá perene, como se afirma no aforisma latino “a arte é eterna, a vida é breve”. O método clínico caracteriza-se pela sua incomparável possibilidade em proporcionar ao médico a habilidade de ver o paciente como um todo, e por isso possui uma grande sensibilidade. Embora os exames complementares adquiram especificidade cada vez maior, a técnica jamais predominará sobre a arte: exames complementares de nada adiantarão se não houver a apropriada correlação com a clínica do paciente.
Portanto, aqueles que ainda consideram que a máxima “a clínica é soberana” é apenas um chavão podem se enquadrar no grupo cada vez maior de “médicos modernos”, que contribuem para a desvalorização da profissão médica e do próprio paciente.

19 de abril de 2012

Debate dos Reitoráveis Promovido pelo Centro Acadêmico de Medicina da UFPB

Esta postagem traz um relato descritivo, de cunho meramente narrativo, sobre o debate entre os candidatos a reitor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), realizado na manhã desta quinta-feira (19) no campus I da UFPB, e promovido pelo Centro Acadêmico Napoleão Laureano, centro estudantil dos alunos do curso de graduação em medicina.
Quatro dos cinco candidatos que estão na disputa pela reitoria da UFPB para a gestão 2013/2016 compareceram: Margareth Diniz (Chapa 1), Otávio Mendonça (Chapa 2), Luiz Renato Pontes (Chapa 4) e Lúcia Guerra (Chapa 5), com seus candidatos a vice-reitor (Eduardo Rabenhorst, Zoraide Bezerra, Ricardo Lucena e Antônio Creão, respectivamente).
Inicialmente cada um dos candidatos fez sua apresentação, com uma síntese biográfica e exposição dos principais itens das Cartas-Programas.
O moderador da mesa, representante do centro acadêmico (CA), o estudante de Medicina João Pedro Mariz, convidou Pablo Cartaxo, também estudante de Medicina e membro do CA, para expor a percepção do centro acadêmico sobre a UFPB e a atual campanha eleitoral. Cartaxo lembrou que o CA tem oito anos de história, e que na primeira eleição para reitor após sua fundação como centro acadêmico estudantil, este apoiou o candidato e atual reitor, o Prof. Rômulo Polari, enquanto na eleição seguinte, quatro anos atrás, o CA deu seu apoio à chapa do Prof. Lúcio Flávio, candidato da oposição naquele pleito. Afirmou ainda que o posicionamento do CA na atual campanha é de que não há projeto para melhorar a universidade em nenhum dos programas apresentados pelos candidatos, e que nenhum dos programas tem um diferencial importante e nada que possa fazer avançar em médio e longo prazos. Cartaxo finalizou seu discurso afirmando que o CA adota um posicionamento crítico em relação aos candidatos do atual pleito e perguntou, retoricamente, qual seria a candidatura “menos ruim” para a UFPB.
Isto posto, o moderador do debate anunciou que a próxima etapa do evento seria a apresentação de quatro perguntas feitas por estudantes do CA aos candidatos, que responderiam segundo ordem estabelecida em sorteio prévio, tendo dois minutos de tempo para resposta.
Inicialmente o aluno Arthur Cavalcanti, do oitavo período de graduação em medicina da UFPB, fez um questionamento na área de ensino, enfocando o Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) como campo de práticas, e perguntou aos candidatos quais eram seus planos para melhorar este cenário importante de aprendizado para os estudantes de Medicina, não somente no HULW, mas também em relação aos estágios fora do hospital universitário.
A Profa. Margareth Diniz respondeu ponderando que Pablo Cartaxo, que fez o discurso inicial do CA sobre o atual pleito na UFPB, era muito pessimista. Continuou, afirmando que “a universidade tinha jeito”. O problema é que a reitoria atual havia abandonado o HULW, exemplificando com o fato de que os equipamentos de ressonância magnética ainda estavam encaixotados nos corredores do hospital porque a reitoria não tomava providências para montá-los. Mencionou também que o reitor não foi buscar emendas para o HULW, como ocorreu no caso de outros hospitais públicos. Quanto aos estágios, afirmou que os hospitais públicos estaduais e municipais de João Pessoa tem obrigação de dar prioridade aos alunos da universidade federal.
Em seguida, o Prof. Luiz Renato Pontes discordou de que o estudante era um pessimista, pois "ele é quem sente os problemas diretamente". Afirmou que, se eleito, criará uma “coordenação de egressos” da UFPB, como uma "ponte" para facilitar sua inserção no mercado de trabalho. Mencionou também que incentivará a abertura do HULW para estágios durante as férias escolares. Por fim, lembrou que o Programa Pró-Saúde devolveu ao governo quatro milhões de reais em virtude de problemas de gestão.
A Profa. Lúcia Guerra respondeu primeiramente considerando a fala anterior da Profa. Margareth, e assegurando que os equipamentos que estavam nos corredores do HULW eram do REHUF (Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais) e que, portanto, o próprio hospital era responsável por sua instalação. Afirmou que iria implantar atendimento de urgência e emergência no HULW que, como hospital-escola deveria comportar este tipo de serviço também. Considerou ainda que "não se poderia permitir o avanço de escolas privadas dentro do próprio HULW" (sic).
O Prof. Otávio Mendonça asseverou que o HULW, um patrimônio de toda sociedade paraibana, está em situação caótica. Disse que não se pode dissociar a questão do estágio do conceito de hospital universitário. É necessário que não haja revanchismo nesse caso, o reitor precisa ter firmeza e contribuir para a recuperação do HULW. "Primeiro é preciso valorizar o HULW como campo de práticas", disse o Prof. Otávio Mendonça. Este afirmou ainda que é preciso cuidar da inserção do egresso da UFPB no mercado de trabalho.
A segunda pergunta foi feita por André Vidal, estudante do oitavo período, que começou informando que entre os 177 professores que atuavam no curso de graduação em Medicina da UFPB, 55 eram especialistas, 52 mestres, 64 doutores e seis pós-doutores, mas que isso não se refletia nas cotas conseguidas no PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica) e nos projetos do PIVIC (Programa Institucional de Voluntários de Iniciação Científica), e que os mais de 600 estudantes de medicina da UFPB praticamente não tinham oportunidade de participar de pesquisas científicas na universidade. André Vidal perguntou, então, como os candidatos pensavam em incentivar a participação dos estudantes de medicina em pesquisas científicas.
A Profa. Margareth Diniz iniciou sua resposta contestando a fala anterior da Profa. Lúcia Guerra sobre a implantação de um serviço de urgência e emergência no HULW, pois  hospitais universitários comportavam atendimentos de níveis secundário e terciário, e não  atendimento de urgência e emergência. Respondendo à pergunta do estudante André Vidal, a Profa. Margareth Diniz lembrou que a Paraíba era o único estado em que não havia mestrado em Medicina, e que a culpa não era dos professores da UFPB. Afirmou ainda que não apenas aumentará o número de bolsas de pesquisa, mas também equalizará o valor das bolsas destinadas a pesquisa com as de extensão e monitoria.
Em seguida, o Prof. Luiz Renato Pontes disse que é preciso incentivar o desenvolvimento de pesquisas na UFPB. Mencionou alguns avanços na área de nanotecnologia, que precisa, contudo, ter condições para ser implantada em instituições universitárias. Disse ainda que pretende desmembrar a PRPG (Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação) em duas pró-reitorias, uma para pesquisa e outra para pós-graduação. Prometeu ainda que incentivará mestres e doutores da UFPB a incrementarem sua produção científica, além de considerar também “um REUNI para a pós-graduação” (sic).
A Profa. Lúcia Guerra retomou a discussão sobre os níveis de atenção à saúde que deve proporcionar um hospital universitário, e que este deve ter média e alta complexidade sim, mas também poderá ter atendimento de urgência e emergência. Comentou o assunto dos valores das bolsas de pesquisa, extensão e monitoria, considerando que possuem diferentes valores monetários porque têm diferentes cargas horárias para os estudantes bolsistas. Afirmou que o HULW é um espaço privilegiado para pesquisa também e que é preciso ampliar a participação dos estudantes de Medicina no programa PIBIC/PIVIC. Disse ainda que é preciso incrementar a participação da UFPB em projetos do tipo DINTER (Doutorado Interinstitucional), aumentar a qualificação dos docentes e incentivar sua produção científica.
O Prof. Otávio Mendonça cedeu sua vez de resposta à candidata a vice na sua chapa, a Profa. Zoraide Bezerra, que comentou o fato que desde o tempo em que foi diretora do CCS (Centro de Ciências da Saúde), os estudantes de Medicina da UFPB queixavam-se de que não tinham oportunidade no PIBIC. Lembrou que criou, durante sua gestão como diretora do CCS, o doutorado de Ciências da Saúde, que foi interrompido posteriormente. Nesse momento, o moderador do debate, João Pedro Mariz, do CA, interrompeu a fala da Profa. Zoraide, argumentando que o candidato a reitor da chapa é que deveria responder às perguntas. A platéia protestou, gerando certo tumulto, e a professora continuou seu discurso, mas já concluindo, ao afirmar que a reitoria precisava ter uma boa relação com o Conselho Deliberativo do HULW.
A terceira pergunta foi feita pela estudante do CA Isabela Vieira, que questionou se haverá condições para cumprir o que determina o governo federal com respeito à duplicação do número de ingressos na UFPB, uma vez que já se anunciam cortes de verba para a educação. Perguntou, então, quais eram as propostas dos candidatos nesse âmbito.
A Profa. Margareth Diniz respondeu que o REUNI foi instituído com essa finalidade, o problema é que este programa foi mal implantado na UFPB. O REUNI proporcionou o aumento de 50 para 100 cursos de graduação, mas o que se deseja é qualidade, não apenas aumento na quantidade. Mencionou ainda que ao se consultar o portal da UFPB na internet, com respeito à prestação de contas, verifica-se que de cada dez estudantes que ingressavam na universidade, apenas quatro se graduavam. Por outro lado, para um estudante conseguir se cadastrar no restaurante universitário da UFPB não adiantava apresentar "atestado de pobreza", precisava demonstrar um “atestado de miséria”. Afirmou também que a UFPB não promovia assistência à saúde de seus alunos, professores e funcionários.
O Prof. Luiz Renato Pontes, por sua vez, afirmou que as construções do REUNI não atendiam aos princípios de sustentabilidade. Se eleito for, prometeu que proverá as salas de aula da UFPB com tecnologia da informação, e que o HULW terá salas de aula mais adequadas, além de promover uma melhor assistência estudantil. Asseverou que este último aspecto, a assistência estudantil, “passa longe” da atual gestão da UFPB, e que constatou isso principalmente nos campi do interior.
A Profa. Lúcia Guerra afirmou que o governo federal luta para não reduzir os investimentos na educação, e que o REUNI foi uma medida tomada nesse sentido nas universidades federais. Lembrou que na era FHC (Fernando Henrique Cardoso), não foi feito investimento algum nas universidades. Garantiu que o CCM (Centro de Ciências Médicas) é resultado desse investimento do REUNI, com quatro mil metros quadrados, laboratórios e salas de aula. Disse ainda que já se cogita a criação do REUNI 2.
O Prof. Otávio Mendonça afirmou que após ouvir os demais candidatos, lembrava que defendeu o REUNI no conselho universitário da UFPB. O problema, segundo ele, residia no fato de que o REUNI não estava sendo executado conforme o projeto aprovado no CONSUNI (Conselho Universitário da UFPB). Disse que havia falhas nas construções e que “algumas estavam caindo”. Assegurou que não queria culpabilizar o reitor atual, que estava, na realidade, sendo mal informado pelos seus assessores, e que “estes incompetentes deveriam ser colocados para fora”.
A pergunta seguinte foi feita pelo estudante Felipe Ximenes, também do CA, que enfocou a extensão universitária, a qual seria o “primo pobre” entre os pilares da universidade, ou seja, entre ensino, pesquisa e extensão. Perguntou, então, como “fugir” de editais temporários como o PROEXT (Programa de Extensão Universitária) e optar por programas de extensão definitivos.
A Profa. Margareth Diniz voltou a afirmar que promoverá a equivalência entre as bolsas de pesquisa, extensão e monitoria na graduação da UFPB. Com relação à extensão, comentou que a pró-reitora de extensão da UFPB da atual gestão “não contabilizou extensão”, embora esta também devesse contar (referindo-se à inclusão na matriz orçamentária), e que esta inclusão constituía uma reivindicação sua (da Profa. Margareth Diniz) há sete anos. Lembrou que a livraria universitária encontrava-se fechada há mais de um ano e que se eleita requererá sua reabertura, além de disponibilizar e-books e aprimorar o calendário de ensino, pesquisa e extensão da universidade.
O Prof. Luiz Renato Pontes afirmou que entende a extensão como um pilar fundamental da instituição universitária, alegando que criará um conselho de desenvolvimento na UFPB, que seria composto por representantes do governo estadual, municipal, organizações não-governamentais, sindicatos e estudantes, professores e servidores técnico-administrativos da UFPB. Afirmou que, se eleito, buscará aumentar o número de bolsas para extensão e fomentará a maior integração da universidade com a sociedade.
A Profa. Lúcia Guerra também destacou a importância da extensão na formação universitária. Afirmou que o CCM, com a flexibilização curricular do curso de medicina, contribuiu para o avanço da extensão na UFPB. Disse ainda que a extensão tem que incluir necessariamente a participação popular e contribuir para a inserção do graduado da UFPB no mercado de trabalho. Prosseguiu afirmando que a UFPB precisa consolidar os programas de extensão já existentes. Em relação ao que foi dito pela Profa. Margareth Diniz anteriormente, afirmou que inclusão da extensão na matriz orçamentária foi uma medida impulsionada pelo fórum de pró-reitores de universidades federais, da qual ela (a Profa. Lúcia Guerra) fazia parte. Afirmou ainda que a questão da inclusão da extensão na matriz orçamentária era decidida pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura).
O Prof. Otávio Mendonça afirmou que os discursos sobre extensão universitária ainda estavam sendo proferidos de acordo com a Reforma Universitária de 1968, quando o governo não queria que a influência da universidade chegasse a todos os rincões da sociedade. Disse ainda que os estudantes estavam dentro dos muros da universidade, quando deveriam estar nas comunidades carentes de municípios pobres da Paraíba.
Encerrou-se esta etapa do debate e passou-se à última fase, com realização de sorteio de perguntas feitas pela platéia, na proporção de três estudantes para um professor e um funcionário, considerando-se apenas os papéis em que figurasse a autoria da pergunta. 
As cinco perguntas foram feitas sucessivamente e respondidas pelos quatro candidatos apenas ao final de todos os questionamentos, com 10 minutos para cada resposta. 
A primeira pergunta foi feita pela Profa. Maria Alves de Azerêdo, professora Departamento de Metodologia da Educação (Centro de Educação, UFPB), que afirmou querer ouvir os candidatos sobre a relação da reitoria com os vários níveis da administração universitária pois, segundo ela, havia uma visão geral de que o “reitor era o rei”. Questionou, então,  qual seria a função do diretor de centro dentro dessa lógica do reitor como “rei”.
Em seguida, um servidor técnico administrativo que não identificou o centro no qual estava lotado, o Sr. Bento Xavier, iniciou sua participação alegando que muitos professores da área da saúde encaravam a universidade como um “cabide de empregos”, dedicando-se mais à sua clínica privada. Disse ainda que muitas das funções administrativas da UFPB eram desempenhadas por professores, embora existissem servidores mais capacitados, inclusive com pós-graduação, classificando isso como “corporativismo”. O referido servidor técnico-administrativo continuou declarando que os recursos para pesquisa provinham de agências de fomento do governo federal, mas eram aplicados em projetos propostos por professores através de critérios "pré-determinados", em uma espécie de “arrumadinho” (sic).
Depois, o estudante Anderson Luiz, do terceiro período do curso de Engenharia de Materiais da UFPB, perguntou qual era o papel do Conselho Deliberativo do HULW.
Posteriormente, o médico residente de Psiquiatria do HULW, José Brasileiro, iniciou sua intervenção declarando que o HULW "presta serviços de alta, média e baixa complexidade", e encontra-se atualmente em uma situação crítica, caótica mesmo, com falta de materiais básicos de consumo. Ele continuou afirmando que a terceirização do HULW consumia mais de 75% do que o hospital recebia. Afinal, fez sua pergunta: qual era a proposta dos candidatos para resolver os problemas do HULW? Não terminou ainda, e disse que o sétimo andar do hospital não funcionava e que faltavam estrutura e materiais naquele andar.
A última participação foi a do estudante Normando Guedes Pereira, do sétimo período do curso de medicina, que enfocou a precariedade da residência estudantil e do restaurante universitário da UFPB, contestando uma declaração da candidata da Chapa 5 no debate ocorrido em outro campus, de que a assistência estudantil prestada pela UFPB era modelo.
As ordem das respostas dos candidatos também foi definida por sorteio. 
O Prof. Otávio Mendonça iniciou sua resposta afirmando que há que existir uma boa relação entre a reitoria e todos os órgãos da UFPB. Contestou a declaração do funcionário técnico-administrativo, opinando sobre a sua fala de que o professor da área da saúde dedicaria grande parte do tempo ao próprio consultório, alegando que “ái de nós” se não fossem esses profissionais lá fora nos serviços privados de saúde, uma vez que a assistência prestada pelo SUS (Sistema Único de Saúde) não cumpria suas funções. Afirmou ainda que o professor teria que cumprir sua carga horária na UFPB, mas depois das 17h00 poderia atender à população fora da universidade. Contestou que esse era um discurso ultrapassado, e que nem Lula (Luiz Inácio Lula da Silva) nem o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) o usam mais... “O governo manda recursos para atendimento dos servidores, mas onde estão esses recursos?...” perguntou.
Prosseguindo, o Prof. Otávio Mendonça disse que iria mandar um recado ao reitor Rômulo Polari através da candidata da Chapa 5, a Profa. Lúcia Guerra: “Vá olhar as obras!” [...] “... e verá que no lugar de um laboratório estão construindo uma pracinha...”.
O Prof. Otávio Mendonça continuou declarando que nos jornais de circulação nacional só se vê miséria na Paraíba, que esta perde para o estado do Piauí em termos de investimentos, e isso ocorre em parte porque a universidade não cumpre o seu papel, dando lugar a revanchismo e  discursos ultrapassados. O referido candidato declarou, então, que criará empresas-júnior, que só deixariam o egresso da UFPB quando este estivesse inserido no mercado de trabalho.
O Prof. Otávio finalizou sua participação opinando sobre  a precariedade do restaurante universitário, onde se podiam ver “dois, três estudantes comendo no mesmo prato”. Disse ainda que “estudantes de Bananeiras não podem tomar banho antes de ir a uma aula por falta de água no campus”.
Em seguida, o Prof. Luiz Renato Pontes disse que “o reitor não pode administrar apenas de dentro da reitoria”. Continuou afirmando que o primeiro a se fazer é instalar a estatuinte (novo Estatuto e Regimento da Universidade). Afirmou também que abrirá um canal de comunicação com a comunidade universitária através de uma gestão itinerante, pois a reitoria visitará os centros e não ficará apenas discutindo com seus assessores no gabinete. O Prof. Luiz Renato opinou que o reitor deveria reservar um dia por semana na sua agenda para atendimento interno, evitando dificuldades de acesso do público da própria comunidade da UFPB à administração central. Afirmou ainda que o reitor necessitava fiscalizar seus assessores. Quanto à questão da pesquisa, o candidato afirmou que há dificuldades na elaboração e execução de projetos pelos professores, e quando foi pró-reitor, em uma gestão passada na UFPB, conseguiu convênios com universidades de outros países.
Quanto ao Conselho Deliberativo do HULW, disse que este teria que ser pró-ativo e que o reitor deveria atuar conjuntamente com esse conselho. Em relação às terceirizações, posicionou-se contra e afirmou que era necessário fazer contratações permanentes. Sobre as supostas irregularidades apontadas pela reitoria em relação à administração do HULW (processo administrativo disciplinar sobre contratação de terceirizados no hospital), o Prof. Luiz Renato Pontes questionou o fato de que se houve constatação de tais irregularidades – lembrou que este fato foi mencionado pela candidata Lúcia Guerra em outro debate entre os reitoráveis -, “como não tomou nenhuma providência?”... Questionou também o fato de o reitor, o Prof. Marco Antônio (diretor do CCM) e a Profa. Margareth não terem participado do “abraço simbólico” ao HULW, promovido pelos estudantes da área de saúde em novembro de 2011 [ver postagens sobre esse tema neste blog nos seguintes links: http://semiologiamedica.blogspot.com.br/2011/11/manifestacao-pelo-hospital.html%20/ e http://semiologiamedica.blogspot.com.br/2011/11/relato-informativo-da-audiencia-publica.html], mas completou que a Profa. Tereza Tavares (vice-diretora do CCM) estava presente naquela ocasião. Reiterou a importância do HULW e o risco associado à entrega da administração do hospital à empresa (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH - para administrar os hospitais universitários federais) e que isso poderia criar precedentes, uma vez que “podem querer fazer o mesmo com a UFPB”. Finalizou afirmando que “às vezes penso que a má gestão do HU é intencional, para facilitar a entrada dessa empresa”.
A seguir, tomou a palavra a Profa. Lúcia Guerra, e pediu que seu vice (Prof. Antônio Creão) fizesse suas considerações naquele momento final do debate, e em seguida, passou a responder os questionamentos postos. Inicialmente afirmou que “a UFPB precisa se modernizar”, e que “nossa organização é fruto da Constituição Cidadã de 1988” e, sendo assim, o modelo já era bastante democrático; o que deveria ser feito era fortalecê-lo e rever procedimentos acadêmicos e administrativos. Quanto ao questionamento do servidor apresentado anteriormente pelo funcionário técnico-administrativo, a candidata afirmou que “ele está cada vez mais qualificado”, e que na PRAC (Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários) sempre havia um técnico ocupando cargos e que havia vários projetos de extensão coordenados por funcionários. Afirmou ainda que todos eram servidores, tanto os docentes quanto os funcionários técnico-administrativos.
Quanto à assistência estudantil, a Profa. Lúcia Guerra afirmou que a UFPB era "reconhecida nacionalmente como exemplo", mesmo antes do PNAES (Plano Nacional de Assistência Estudantil), e que a UFPB ajudou na elaboração dos itens desse programa. Propôs, entretanto, que “precisamos identificar problemas e, à luz desse diagnóstico, criar apoio ao estudante”.
Prosseguindo, a Profa. Lúcia comentou que o HULW é um órgão suplementar da reitoria, mas que na atual administração possui autonomia, e o que ocorria nesse hospital era responsabilidade de sua própria gestão. Continuou afirmando que “isso não impede que a reitoria contribua”, acrescentando que “não é a reitoria que vai colocar para funcionar os equipamentos do HU, isso depende do conselho deliberativo do hospital”.
A Profa. Lúcia disse, então, que sua proposta era consolidar os avanços, mas reconhecendo pontos fundamentais com suficiente auto-crítica. Finalizou seu discurso afirmando que a carta-programa de sua chapa foi discutida com todos os segmentos da UFPB.
Completando essa segunda etapa de respostas aos questionamentos, cuja ordem de participação foi determinada por sorteio, a Profa. Margareth Diniz disse que “a administração da UFPB é lamentável e caótica”. Prosseguiu dizendo que o CCM já deveria estar pronto há quatro anos e que o “Elefante Branco” (bloco de salas e laboratórios do Centro de Ciências da Saúde) também não funcionava há quatro anos, e que isso era uma "vergonha".
A Profa. Margareth prosseguiu, referindo-se à opinião expressa pelo servidor técnico-administrativo emitida anteriormente, de que os professores da área da saúde "não trabalhavam", contestando que “aqui nós trabalhamos, fazemos pesquisa e somos referência”. Nesse sentido, a Profa. Margareth Diniz lembrou que a reportagem apresentada recentemente em mídia televisiva nacional sobre uma planta que fora objeto de pesquisas de sua equipe (matéria do Globo Repórter em 25/02/2012), não foi noticiada no portal da UFPB, sequer foi mencionada "em uma única linha", embora ela (a Profa. Margareth) tenha recebido mais de 500 e-mails de todo o Brasil sobre a repercussão positiva da referida reportagem.
Sobre o papel do Conselho Deliberativo do HULW, a Profa. Margareth Diniz respondeu que uma de suas atribuições atualmente era a de “receber documentos do reitor determinando demitir 71 servidores”, sem, no entanto, prever quais os serviços do hospital iriam fechar. Afirmou ainda que o diretor superintendente do HULW (Prof. João Batista da Silva) não divulgara que havia recebido “uma dívida de três milhões de reais”.
Quanto ao sétimo andar do HULW (mencionado na pergunta do médico residente), comentou que “basta dizer que o elevador do hospital só sobe até o sexto andar” [...] “não tem nada lá dentro”, e que os equipamentos pedidos não foram enviados para o funcionamento desse setor.
Concluindo, a Profa. Margareth Diniz afirmou que “na nossa gestão, seremos todos nós”, e assegurou ainda que “docentes terão melhores condições de ensino, pesquisa e extensão, servidores terão capacitação e que serão criados mestrados profissionalizantes, e quanto aos estudantes, “vamos fazer valer o PNAES”. Completou dizendo “votem no 1 e terão orgulho da UFPB”.
A última fala do debate coube ao candidato a vice na Chapa 1, o Prof. Eduardo Rabenhorst, que agradeceu a todos e disse que esperava poder dar sua contribuição jurídica como vice-reitor na estatuinte e opinou que a ouvidoria da UFPB deveria ser reativada.

14 de abril de 2012

Parêntese Poético: Ode ao Fígado

Brindamos os visitantes do Semioblog com este poema, em que Pablo Neruda canta as virtudes e vicissitudes do maior órgão interno do corpo, esse órgão complexo que exerce tantas funções cruciais à manutenção da vida.  

ODE AO FÍGADO
Pablo Neruda
(Tradução de Celso Japiassu)

Modesto,
organizado
amigo,
trabalhador,
profundo,
deixa-me te dar a asa
do meu canto,
o golpe de ar,
o salto de minha ode:
ela nasce de tua máquina invisível,
ela voa partindo de teu infatigável
e fechado moinho,
entranha delicada e poderosa
sempre viva e obscura.
Enquanto o coração sonha e atrái
a partitura do bandolin,
lá dentro tu filtras e repartes,
separas e divides,
multiplicas e engraxas,
sobes e recolhes
os fios e os gramas
da vida, os últimos licores,
as íntimas essências.
Víscera submarina,
medidor do sangue,
vives cheio de mãos e de olhos
medindo e transvasando
em teu escondido quarto de alquimista.
Amarelo é o teu sistema
de hidrografia vermelha,
búzio da mais perigosa
profundidade do homem
ali sempre escondido,
sempiterno,
na usina,
silencioso.
E todo sentimento ou estímulo
cresceu em teu maquinário,
recebeu alguma gota de tua elaboração infatigável,
ao amor agregaste fogo ou melancolia,
uma pequena célula equivocada
ou uma fibra gasta em teu trabalho
e o aviador se engana de céu,
e o temor se precipita em assovio,
o astrônomo perde um planeta.
Como brilham acima
os olhos feiticeiros da rosa,
os lábios do cravo matutino!
Como ri no rio a donzela!
E abaixo o filtro e a balança,
a delicada química do fígado,
a adega dos câmbios sutis:
ninguém o vê ou o canta,
porém,
quando envelhece ou desgasta seu morteiro,
os olhos da rosa se acabaram,
o cravo murchou sua dentadura
e a donzela não cantou no rio
Austera parte ou todo
de mim mesmo,
avô do coração,
moinho de energia:
te canto e temo
como se foras juiz,
metro,
fiel implacável,
e se não posso
entregar-me amarrado à pureza,
se o excessivo comer
ou o vinho hereditário de minha pátria
pretenderem perturbar minha saúde
ou o equilíbrio da minha poesia,
de ti,
monarca obscuro,
distribuidor de mel e de venenos,
regulador de sáis,
de ti espero justiça:
Amo a vida: cumpre! Trabalha!
Não detenhas o meu canto.

Na semana passada estivemos na Casa Museo La Sebastiana, da Fundação Pablo Neruda, em Valparaíso, Chile. Foi uma pequena viagem pelo universo do mais importante poeta chileno do século XX. Além de ser um dos grandes poetas modernos, ele foi um homem eclético de muitos interesses e paixões. Apenas um poeta como ele poderia associar lirismo a metabolismo...

 Na praça onde há uma estátua em bronze do poeta, um pouco abaixo da Casa Museu La Sebastiana.

Novamente em La Sebastiana. Na entrada da Casa; não é permitido fotografar seu interior.