30 de novembro de 2011

Breve Relato sobre o 49° Congresso Brasileiro de Educação Médica - COBEM


Por André Augusto Lemos Vidal de Negreiros e Thereza Taylanne Souza Loureiro Cavalcanti
Estudantes de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
O 49° Congresso Brasileiro de Educação Médica (COBEM) ocorreu de 12 a 15 de novembro de 2011, na capital mineira. “Educação Médica: O Desafio De Integrar, Humanizar E Avaliar. Dez anos de Diretrizes Curriculares Nacionais” foi o tema do evento, ao qual compareceram representantes da UFPB. O aspecto mais relevante foi a discussão dos processos avaliativos, notadamente o repúdio da categoria estudantil ao bônus proposto pelo governo.

Palavras-chave: Educação Médica. Avaliação Educacional. Políticas Públicas.

No período de 12 a 15 de novembro de 2011, ocorreu o 49° Congresso Brasileiro de Educação Médica (COBEM). O evento, que é promovido anualmente pela Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM), foi realizado em Belo Horizonte-MG, na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Campus Pampulha.

Da Universidade Federal da Paraíba, compareceram a Profa. Tereza Helena Tavares Maurício, coordenadora docente regional da ABEM/NE e Diretora do Centro de Ciências Médicas; o Prof. Felipe Proenço, vice-coordenador do curso de medicina da UFPB; e uma delegação de nove estudantes, dentre os quais os delegados discentes André Vidal e Thereza Loureiro, que foi eleita coordenadora discente regional da ABEM no Nordeste.

O tema central do 49° COBEM foi “Educação Médica: O Desafio de Integrar, Humanizar e Avaliar. Dez anos de Diretrizes Curriculares Nacionais”. O congresso visava a discutir questões essenciais do processo ensino-aprendizagem, as quais foram distribuídas em quatro eixos verticais: formação profissional, estratégias educacionais, desenvolvimento e valorização docente, avaliação institucional e do desempenho dos estudantes. O Eixo Transversal de Cultura e Humanidades abrangeu atividades diárias de cultura, com enfoque em saúde, educação, solidariedade, responsabilidade e compromisso social.

A programação científica incluiu atividades integradas, que pretendiam a capacitação e atualização dos congressistas. Para cada dia um eixo condutor era abordado. No primeiro dia (12/11/2011), foi ocorreu o eixo “Formação profissional do médico”; nos seguintes, “Estratégias educacionais na formação médica”; “Desenvolvimento e valorização docente”; encerrando-se com o dos “Processos avaliativos nas escolas médicas”.

Cada eixo condutor vertical iniciava-se pela exposição de conferências. Na sequência, ocorriam os simpósios, que abordavam o assunto de várias perspectivas, seguidos pelos colóquios, nos quais era possível compartilhar experiências relacionadas.

Os Grandes Debates trataram de aspectos controversos ou inovadores e encerravam as atividades do dia. As discussões nos fóruns eram conduzidas por especialistas nos temas e ocorriam simultaneamente umas às outras. A sistematização desses espaços possibilitou a apresentação das discussões, aos diversos congressistas, na cerimônia de encerramento.

Apesar de a discussão sobre avaliação ser reservada ao último eixo, sem dúvida, esse foi o assunto principal nos bastidores durante todos os dias. Já no primeiro dia, o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, compôs a mesa de abertura, e falou das estratégias para melhora da atenção à saúde nos próximos anos. No final de sua fala, os discentes, organizados, manifestaram o repúdio ao bônus proposto pelo Governo Federal, de até 20% na seleção para residências médicas, para quem atuar na atenção básica nos primeiros dois anos de graduado.

Em todos os dias do congresso, a Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina – DENEM promoveu espaços de formação acerca dos bônus e da conjuntura nacional. Esses momentos foram muito esclarecedores e, talvez, mais produtivos do que muitas das discussões da grade formal do evento. Assim, os estudantes puderam amadurecer o posicionamento da categoria e defendê-lo com coerência na Plenária Final.

Ao final do congresso, percebeu-se que a UFPB destaca-se como referência nacional em extensão universitária, e que, embora o currículo de seu curso médico de graduação precise de ajustes, esta universidade se adéqua às diretrizes nacionais na maioria dos aspectos, especialmente, no tange à Saúde Coletiva e à promoção da saúde.

28 de novembro de 2011

Audiência Pública para Discussão da Crise do HULW/UFPB




O presente texto é um relatório descritivo da audiência pública realizada hoje sobre a crise do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Não serão feitas apreciações críticas ou de juízo de valor, mas tão somente a descrição da audiência, da forma mais fidedigna possível, enfocando os discursos dos componentes da mesa e os esclarecimentos feitos e que toda a comunidade acadêmica reivindicava. Trata-se de mais um relatório-reportagem do Semioblog em relação a momentos importantes do nosso Hospital Universitário, para além da Semiologia Médica, mas com repercussões sobre esta enquanto disciplina do curso médico da UFPB.

Alguns discursos foram resumidos não sendo transcritos literalmente. Havendo reparos a serem feitos ao presente texto, solicitamos que sejam indicados através de comentários após a postagem.

A audiência foi marcada para as 8h00, mas só começou 1h15 depois. Realizou-se no auditório de Fonoaudiologia do Centro de Ciências da Saúde, UFPB, Campus I, João Pessoa-PB.

José Brasileiro, representante dos médicos residentes do HULW e presidente da sessão, fez breve relato sobre a crise pela qual passa o hospital e convidou os componentes da mesa: o diretor superintendente do HULW, João Batista da Silva; o pró-reitor de planejamento e administração da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o Prof. Marcelo de Figueiredo Lopes; o presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM) da Paraíba, o Prof. João Medeiros Filho; o presidente do Sindicado dos Médicos da Paraíba (Sindmed-PB), Tarcísio Campos; o diretor do Centro de Ciências Médicas (CCM) da UFPB, o Prof. Marco Antônio de Vivo Barros; a diretora do Centro de Ciências da Saúde (CCS), a Profa. Margareth Formiga de Melo Diniz; e o representante dos internos do HULW e presidente do comitê de paralisação de estudantes e médicos residentes, o aluno do quinto ano de graduação em medicina da UFPB, Pablo Cartaxo.

Inicialmente, José Brasileiro solicitou a palavra do diretor do HULW, reivindicando que fosse feita uma prestação de contas. O diretor superintendente do HULW, João Batista da Silva, manifestou primeiramente sua satisfação com a preocupação do movimento estudantil diante da situação do HULW e mencionou que outros hospitais universitários do país também se encontravam em crise, como ocorria no Ceará, em Brasília, Taubaté e Maringá. Referiu que antes de falar sobre orçamento, queria relatar os eventos que culminaram com a suspensão de cirurgias eletivas no HULW um mês atrás. Relatou que há dois meses, foi procurado por equipes de cirurgia do hospital que comunicaram a precariedade de funcionamento do bloco cirúrgico, fato que foi comunicado ao reitor da UFPB; o diretor do HULW relatou também que na ocasião pediu ajuda às secretarias estadual e municipal de saúde. A Secretaria de Saúde do Estado forneceu materiais de consumo para um mês de funcionamento do centro cirúrgico, porém 30 dias depois - informou o diretor -, médicos do serviço de cirurgia retornaram à superintendência comunicando que não havia condições de realização de intervenções cirúrgicas no HULW, suspendendo-se, então, a realização de cirurgias eletivas no hospital. Naquele momento, o diretor fez uma solicitação à reitoria da UFPB para que fossem feitas “correções nas salas cirúrgicas”.

João Batista da Silva continuou seu discurso, voltando-se à questão do orçamento. Citou que “orçamento é o que se programa fazer com o que se tem a receber”, porém alegou que não recebeu ajuda durante dez meses, referente a um recurso mensal que deveria ser de R$ 1.550,000,00 (não mencionou a fonte). Referiu ainda que foi à Brasília solicitar apoio financeiro de R$ 3.700,000,00, que serviram apenas para pagar aos fornecedores. Ponderou, então, que “há coisas que não se podem resolver imediatamente”.

Por outro lado, o diretor o HULW mencionou a aposentadoria de grande número de médicos do serviço materno-infantil do hospital. Dez dos 19 médicos do setor solicitaram aposentadoria simultaneamente. Havia a perspectiva de concurso público apenas para janeiro do próximo ano, então foi feita uma solicitação às secretarias estadual e municipal de saúde em relação à cessão de profissionais ao HULW para suprir as necessidades de pessoal durante os próximos meses, porém a Secretaria de Saúde do Município referiu que não poderia atender a esse pedido e a Secretaria de Saúde do Estado ainda não havia respondido.

Em seguida, pronunciou-se o Magnífico Reitor da UFPB, que chegara à audiência após seu início. O reitor afirmou que os problemas do HULW vinham sendo objeto de discussão permanente. Relatou que se tratava de um “problema imenso”, e que o foco deste já era conhecido, pois crises em hospitais universitários estavam ocorrendo em todo o país. Referiu que desde o ano de 2005, havia proibição de contratação de pessoal terceirizado pelos hospitais universitários (Hus) e o Tribunal de Contas da União recomendou ao governo a reposição de pessoal até janeiro de 2010.

Continuando, o reitor afirmou que a grande despesa do Ministério da Educação e Cultura (MEC) era com o pagamento de pessoal para os Hus, embora esta despesa devesse ser do Ministério da Saúde (MS). Acrescentou que o Ministro da Educação do Governo Lula propôs que se criasse uma fundação para a contratação de pessoal para os Hus e questionou, então, se essa seria a solução ou um problema a mais para os Hus. Reiterou que o problema com pessoal é um problema sério. Reafirmou que não via a criação de uma empresa para administrar os Hus como uma solução.

O reitor considerou ainda que o trabalho desenvolvido na cirurgia cardíaca no HULW estava funcionando razoavelmente com a parceria do governo do estado através da alocação de seus recursos humanos.

Prosseguindo, o Sr. reitor lembrou que recentemente o Ministério Público da Paraíba realizou uma auditoria no HULW, onde diagnosticou problemas, acionando os governos federal e estadual. Acrescentou que era um absurdo um hospital como o HULW não ter seus problemas resolvidos por causa de transtornos de relacionamento entre os governos federal e estadual. Considerou ainda que os problemas que se encontravam na alçada da UFPB estavam sendo equacionados. O reitor salientou também a importância das aposentadorias recentes de médicos do HULW na eclosão da crise atual, afirmando que, nesse sentido, à luz das recomendações do Ministério Público, foi dada prioridade a áreas mais problemáticas, como clínica médica e centro de terapia intensiva, mas depois houve uma avalanche de aposentadorias de obstetras. Afirmou, então, que um concurso público seria aberto ainda nesta semana, em caráter emergencial. Assim, assegurou que o problema de pessoal estava razoavelmente equacionado. Na parte de meios - continuou o reitor -, os problemas também estavam sendo equacionados. Completou dizendo que “boa vontade e interesse existem”. Quanto à parte estrutural, referiu que recentemente foram solicitados recursos através do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Federais (REHUF). Contudo, afirmou que essa medida não resolve o problema dos Hus, problemas "que estão aí desde 2005".

A seguir, pronunciou-se o Prof. João Medeiros Filho, presidente do CRM-PB, que iniciou sua fala parabenizando os estudantes e residentes pela iniciativa de tentar resgatar o HULW e manifestou sua extrema preocupação com a situação do hospital. Afirmou que tem uma forte relação afetiva com o HULW, pois além de ter participado de sua fundação em 1980, passou cerca de 30 anos exercendo sua função como docente na instituição. Além disso - afirmou -, "o HULW não é só patrimônio da UFPB, mas de toda a sociedade paraibana". Acrescentou que se o HULW enfrenta problemas graves, a repercussão será de grande magnitude, uma vez que atingirá tanto a população assistida quanto o ensino.

O Prof. João Medeiros prosseguiu salientando que a função do CRM era de fiscalizar o exercício profissional, sem nenhuma conotação política, e muitas vezes era forçado a realizar interdições em instituições de saúde. Acrescentou que uma união de esforços deveria ser feita, com apoio de entidades médicas e de parlamentares.

A palavra passou então ao presidente do Sindmed/PB que asseverou que o que está acontecendo no HULW como um todo se refletirá sobre os médicos que se formarão. Reafirmou que a situação é caótica, e que a discussão financeira é importante, fundamental, mas que não é o único fator desencadeador da crise. Considerou ainda que crises nos Hus estão sendo fomentadas no país inteiro para que a empresa que será criada para gerir os hospitais tenha "as portas abertas com mais facilidade" para sua instalação (referiu-se à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares para administrar os hospitais universitários federais, EBSERH, aprovada pelo Senado cinco dias atrás). Ressaltou que a adesão a essa empresa pelos Hus deve ser muito bem discutida pois, de certa forma, quebrará a autonomia universitária, embora esta solução já estivesse posta, pois já foi aprovada. Ressaltou, contudo, que o Sindmed se coloca nessa situação como coadjuvante. Concluindo, Tarcísio Campos considerou que buscar recursos era função dos gestores, mas que a aplicação daqueles, era função da comunidade universitária.

A seguir, passou-se a palavra à Profa. Margareth Diniz, diretora do CCS, que também parabenizou os estudantes pela luta em defesa do HULW, mostrando a camiseta que usava com a palavra de ordem “HU é vida”, usada em outro momento de crise do hospital alguns anos atrás. Anunciou que a assessoria de comunicação da reitoria afirmou ontem que a denúncia de fraude feita no Jornal Correio da Paraíba no dia anterior pelo reitor foi um equívoco. Em seguida, antecipou que faria uma série de questionamentos ao reitor, mas sem levar para nenhuma outra esfera que não a da discussão sobre o HULW. As perguntas formuladas pela Profa. Margareth foram as seguintes: (1) Por que foram devolvidos R$ 200.000,00 destinados à neurocirurgia do HULW? (2) Por que a reitoria e a superintendência não foram buscar emendas para o HULW? (3) Por que não foi contratado o pessoal aposentado para sanar o problema dos recursos humanos já que existia o descreto 7.232, de junho de 2010, que permitia isso? O governo federal afirmou que em 30 dias permitiria a contratação de concursados, por que não foi tomada essa medida e só agora foi anunciada a realização do concurso? (4) Por que os pedidos da superintendência do HULW no sentido de duplicação de carga horária de médicos (citou nomes) não foram atendidos, embora tenham sido feitas contratações de outros? (5) Por que, depois que o diretor João Batista assumiu a direção do HULW, não foi feita nenhuma reforma no hospital, a não ser a do sétimo andar, setor que não dispõe de equipamentos? (6) Por que não foi atendido o pedido do superintendente do HULW para que fossem tomadas providências no sentido de fazer funcionar o aparelho de ressonância magnética do hospital?

Posteriormente, falou o Prof. Marco Antônio de Vivo Barros, diretor do CCM, que assegurou que desde sua criação, em 2007, o CCM tem tentado contribuir com ações concretas para o funcionamento do HULW, principalmente com enfoque no ensino. Afirmou ainda que uma das principais metas do CCM é realizar investimentos em equipamentos com importância para a formação médica. Exemplificou com o fato de que no processo do programa de reestruturação e expansão das universidades federais (REUNI), o CCM foi contemplado com a construção de um prédio novo e receberia uma verba de R$ 2.000,000,00 para dotar o edifício de equipamentos, porém ele havia ido até o sr. reitor pedindo a este que autorizasse o remanejamento de R$ 500.000,00 daquele montante para que o HULW comprasse equipamentos necessários, o que foi permitido.

O Prof. Marco Antônio prosseguiu afirmando que o setor de cirurgia cardíaca e hemodinâmica funcionou durante um ano no HULW e que 200 cirurgias cardíacas e cateterismos foram realizados nesse período. O Sr, diretor do CCM informou ainda que o CCM solicitou a compra de um aparelho de holter para monitorização de arritmias nos pacientes atendidos no setor, já que era uma exigência da ANVISA e da Secretaria Municipal de Saúde, embora o equipamento ainda não tenha chegado. Por fim, o diretor do CCM clamou para que todos os professores da cirurgia e da clínica médica dispensassem horários para o atendimento ambulatorial, assumindo, dessa forma, um compromisso com o HULW.

A última fala foi a do representante dos estudantes, Pablo Cartaxo, que iniciou seu discurso afirmando que a situação do HULW não se resumia a um ou outro fator, mas refletia também a crise no financiamento dos Hus em todo o Brasil. Nesse contexto, o REHUF foi apenas uma medida paliativa, que não supria sequer as necessidades de pagamento de dívidas do HULW. “Estamos cansados de políticas paliativas”, desabafou. Ressaltou também que a verba do REHUF só seria liberada com a adesão do HULW à EBSERH, ponderando que os Hus não deveriam “baixar a cabeça”, na questão dessa adesão, colocada pelo governo como "optativa". Observou também que "as coisas podem mudar", indicando o exemplo do Departamento de Cirurgia do CCM, que depois de passar a exigir formalmente presença dos professores nas atividades, com o Prof. Arlindo na chefia departamental, colocando-se faltas naqueles que não cumpriam sua carga horária de forma satisfatória, houve uma melhora sensível no funcionamento do departamento como um todo. Pablo ponderou ainda que enquanto não houver posicionamento político - entendido não como política eleitoral, mas como uma postura de firme vontade política - não se resolverá a situação do HULW. Continuou dirigindo-se ao reitor, ao afirmar que não havia quadros administrativos suficientes no HULW.

O estudante Pablo Cartaxo prosseguiu ressaltando que o bloco cirúrgico não parou para realização de uma reforma como se afirmou repetidamente na mídia, e sim parou porque não tinha condições básicas para funcionar: faltavam luvas, gazes, medicamentos essenciais. Conclamou a que não se mascarassem mais os problemas pelos quais passa o HULW, como se estava fazendo até o presente momento. Finalizando, ajuizou que também não se devia mais reduzir essa discussão à questão das atuais disputas eleitorais dentro da UFPB, e que os problemas não vão ser resolvidos simplesmente mudando-se reitoria da universidade ou superintendência do HULW. Ressaltou que reitoria e superintendência deveriam reconhecer os problemas e não abafá-los. “Queremos soluções, evitemos palanques”, concluiu Pablo Cartaxo.

O médico residente José Brasileiro retomou a palavra, afirmando que Pablo Cartaxo expressara o pensamento e o posicionamento do Comitê de Paralisação do HULW, e reivindicou que soluções fossem apontadas urgentemente. Afirmou que era necessária uma prestação de contas por parte da diretoria do HULW e que uma auditoria deveria ser realizada, com participantes externos, como o CRM e o Sindmed. Questionou ainda qual era o plano de gestão do superintendente do HULW.

A seguir, a médica residente de cirurgia do HULW, Lorena Sousa Oliveira, mostrou fotos do bloco cirúrgico, tomadas no dia 07/11/2011, dia em que este foi fechado. Afirmou que depois de quase 30 dias, nada foi mudado ainda. Mostrou fotos de várias salas cirúrgicas em plenas condições de funcionamento, sem problemas estruturais, como alegava a direção do HULW. Em condições normais, das 11 salas que existiam no centro cirúrgico, funcionavam três, e agora estas estavam fechadas. A residente mostrou que havia equipamentos disponíveis, alguns de boa qualidade e alta tecnologia, tais como focos de Led novos, equipamento para vídeo-transmissão de cirurgias em tempo real, bomba de infusão, bisturi ultrassônico, aspirador novo (embora de má qualidade), carrinhos de anestesia, e que o piso e as paredes encontravam-se em boas condições. Mostrou ainda uma sala que foi recém-reformada, o que já ocorreu esse ano. Concluiu que o problema não era de estrutura e que as salas cirúrgicas não precisavam de reforma, como se alegava como motivo para o fechamento do bloco cirúrgico. Reiterou que o que faltava, na verdade, eram insumos básicos necessários, materiais de consumo rotineiro, para que as cirurgias fossem realizadas.

Em seguida, o Prof. Arnaldo C. de Medeiros, diretor de planejamento do HULW, passou a apresentar o orçamento do HULW, mostrando um resumo do relatório financeiro do hospital, referindo-se ao último mês. Iniciando sua apresentação, o Prof. Arnaldo fez as seguintes perguntas: “Quem financia o HULW?” e “A quem interessa o sucateamento dos hospitais universitários?”, e se referiu à tentativa de desmantelamento dos Hus pelo governo federal. Mencionou que "o problema não é de agora, não é do último ano e meio".

O Prof. Arnaldo passou então à apresentação do resumo do relatório financeiro referente a um mês no HULW, destacando em vermelho as despesas com pessoal terceirizado (Figura abaixo). A despesa mensal do HULW com funcionários terceirizados é de quase R$ 1.000,000,00.



O Prof. Arnaldo concluiu que o deficit mensal originado no balanço entre receitas e despesas era da ordem de R$ 600.000,00, o que, ao longo de um ano, somando-se cada mês, constituiam uma dívida cumulativa que se avolumava. Reiterou também que “nosso paciente é um paciente caro”, que já passou por toda a rede de serviços de saúde sem resolução para seu problema. Por fim, afirmou que é preciso deixar de ver o HULW como uma forma de atingir pessoa A ou B. "O HULW é para servir à população paraibana", concluiu o Prof. Arnaldo.

Encerrando-se os discursos dos componentes das mesas e os esclarecimentos, passou-se à discussão, abrindo-se inscrições para a participação da plenária. A discussão não foi transcrita.

29/11/12
Abaixo estão os itens da pactuação feita ao final da audiência em Ata lavrada pela secretária da reunião, Lívia Monteiro Lyra:
- Pactuação: De acordo com a plenária foram encaminhadas as seguintes deliberações:
• Encaminhar auditoria externa das contas do HULW;
• Apresentação por parte da Superintendência do HULW prestação de contas detalhada e divulgada à população do estado da Paraíba;
• De acordo com o Pró-reitor de Administração Marcelo Lopes, representando a Reitoria da UFPB, será implementada ordem de serviço da reforma parcial do bloco cirúrgico (cinco salas) a se iniciar essa semana com o prazo de 30 dias para a conclusão do serviço; ordem de serviço para reforma do setor de diagnóstico por imagem com prazo de 30 dias que deve estar pronta para a entrega e instalação do aparelho de ressonância; Funcionamento do setor de anatomia patológica com prazo de 60 dias;
• Apresentação de laudo de visita do CRM indicando a impossibilidade das atividades cirúrgicas antes de realizadas as reformas, conforme afirmado por Dr. Geraldo Almeida, avaliando a necessidade ou não de fechamento, com ou sem reforma, sem parar por completo o centro cirúrgico. Solicitando nova avaliação pelas entidades competentes;
• Explicação pública do aumento do número de funcionários terceirizados do Hospital, que segundo prestação apresentada onera o orçamento do hospital;
• Apresentação de planos de gestão do HULW por parte de Reitoria da UFPB e Superintendência do HULW;
• Convocar os parlamentares publicamente para discutir no hospital junto à comunidade acadêmica a situação do HULW;
• Fiscalização por parte do Conselho Regional de Medicina, do Sindicato dos médicos, da Secretária Municipal de Saúde, da Secretaria Estadual de Saúde, do Ministério público, e demais entidades competentes;
• Apresentação de relatório da produtividade dos médicos, número de pacientes atendidos em ambulatório, número de cirurgias realizadas, número de leitos da enfermaria sob seus cuidados diretos. Melhoria dos meios de fiscalização dos demais profissionais;
• Equipar o sétimo andar do hospital conforme compromisso da Reitoria que aguarda plano de funcionamento por parte da Superintendência do Hospital;
• Identificar, apresentar e apontar soluções a cerca dos problemas no tocante ao funcionamento dos Serviços de alta complexidade como Cirurgia Cardíaca, Cirurgia Bariátrica, Neurocirurgia;
• Reabastecimento dos insumos hospitalares básicos ao funcionamento do Hospital em período máximo de 30 dias, conforme afirmado pelo Superintendente João Batista;
• Lançamento na próxima semana de Edital de Concurso Público para reposição de vagas dos profissionais que aposentaram - se, com prioridade aos setores de pediatria e obstetrícia;
• Grupo de visita: Fazer um calendário das visitas para verificação da reestruturação do HULW e cumprimento das deliberações acima citadas com participação da comunidade acadêmica e entidades competentes.

25 de novembro de 2011

Manifestação Pública em Defesa do Hospital Universitário Lauro Wanderley / UFPB



 25 de novembro de 2011: Campus da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Paraíba - Marcha dos estudantes de Medicina, Enfermagem e Nutrição da UFPB, e dos médicos residentes do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), pelo fim do "sucateamento" do nosso hospital-escola, o HULW.



O Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), encontra-se em grave crise.

O HULW é uma instituição de referência para o estado da Paraíba há mais de três décadas, polarizando o atendimento hospitalar e ambulatorial para todos os municípios do estado. O HULW presta cuidados terciários e de grande porte, com leitos destinados a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e a população atendida se caracteriza por ser de baixa renda, vivendo em condições geralmente precárias no que concerne a indicadores de qualidade de vida.

Contudo, o HULW também é essencialmente um hospital de ensino. Só no Curso de Medicina, fazem treinamento neste serviço cerca de 500 alunos de graduação e 32 de pós-graduação, além dos alunos dos Cursos de Nutrição, Enfermagem, Psicologia, Serviço Social e Fisioterapia, contando, ainda com estagiários de outras instituições públicas. De encontro às orientações do novo Projeto Pedagógico do Curso de Medicina, ressalta-se a adoção do princípio pedagógico da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, como eixo específico e fundamental da ação deste projeto, e o HULW contribui decisivamente para essas três ações acadêmicas. 

Repercussão: Reportagem publicada no Jornal Correio da Paraíba em 26/11/12 - Único jornal de João Pessoa que, até agora, repercutiu a manifestação estudantil de forma mais abrangente.
Transcrição na íntegra abaixo.
Por Tássio Ponce de Leon
http://m.correio10.com.br/noticia/9830/reitor-ve-indicios-de-fraude-no-hulw

O reitor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Rômulo Polari, afirmou ontem, em sessão pública realizada no auditório da reitoria, que há indícios de irregularidades na gestão do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW). Segundo ele, por esse motivo, uma auditoria está sendo concluída até a próxima semana, para identificar por que o HU, apesar de ter tido um acréscimo de 21% em suas verbas, enfrenta, neste ano, a pior crise de sua história. Antes do pronunciamento, médicos residentes e os internos dos cursos de Medicina, Enfermagem e Nutrição fizeram um manifesto que deu início à paralisação de suas atividades, a qual se estenderá até a próxima quarta-feira. Eles afirmam que, além da carência extrema de materiais de consumo médico e equipamentos, chega a faltar comida para os pacientes.

“Esta é uma crise anunciada. Já vínhamos acompanhando esse problema há algum tempo, porém não podemos afirmar os motivos até que o relatório do controle interno esteja concluído. Mas, é preciso deixar claro o que está acontecendo. No ano passado, o HU recebeu R$ 19 milhões e não havia crise. Neste ano, o orçamento foi de R$ 23 milhões, 21% superior ao ano anterior, superior também à inflação, que foi de 6,5%. Por isso, essa falta de verbas tem que ser esclarecida. Por que em 2010 não houve esses problemas? Por que o orçamento não dá mais?”, questionou-se o reitor Rômulo Polari.

Segundo o pró-reitor de administração da UFPB, Marcelo de Figueiredo Lopes, o SUS repassa mensalmente ao Hospital Universitário Lauro Wanderley entre R$ 1,3 e R$ 1,35 milhão, por mês. “O grande problema do HU é fazer uma aplicação mais racional dos recursos. O superintendente gasta, só com o pagamento de terceirizados, cerca de R$ 855 mil. Para se ter uma idéia, de julho de 2010 a julho de 2011, esses gastos cresceram 60%. Fora isso, ainda pagam dívidas a terceirizados antigos na ordem de R$ 147 mil. Se você fizer a soma, vai dar mais de R$ 1 milhão só com esse segmento”, enfatizou.

Diretor do HU nega irregularidades; R$ 4,1 milhões estão à disposição

O superintendente do Hospital Universitário, João Batista, afirmou que sua gestão tem sido bastante transparente. “Desde que eu assumi o hospital universitário, em julho de 2010, eu adotei uma forma de fazer o serviço público bem transparente. Todas as despesas do hospital são encaminhadas para nossa assessoria de comunicação, para que eles coloquem essas contas, mês a mês, no site do hospital. Nada é escondido. Tudo está demonstrado lá”, disse.

O superintendente afirmou, entretanto, que a crise do HU iniciou-se pela falta de recursos para a compra de materiais de consumo médico e foi multiplicada pela aposentadoria em massa dos profissionais. “Já dizia um professor que eu conheço que ‘a saúde não tem preço, mas custa caro’. O hospital recebe em média R$ 1,3 milhão, por mês, mas, para manter todos os setores funcionando adequadamente, necessitaríamos pelo menos de R$ 4,5 milhões. Esse é o problema”.

Com relação aos R$ 4,1 milhões que o HU estava para receber da diretoria nacional dos Hospitais Universitários, no montante de R$ 4,1 milhões, o superintendente João Batista informou que o crédito orçamentário já está disponível para o uso do hospital. “Recebemos hoje a quantia de R$ 4.134.784,77 para o custeio do HU. Iniciaremos hoje a solicitação dos materiais à empresa responsável. Como são muitas coisas, devemos concluir em quatro dias esse processo. Depois disso, a empresa tem de 10 a 15 dias para fazer a entrega. Também recebemos, por fora, outros R$ 977 mil para a compra de um tomógrafo, em uma semana. O Ministério da Educação está procurando ajudar, não posso negar isso, mas a situação é grave”, disse.

Patrimônio da saúde pública

O professor e médico do HU, José Luís Maroja, afirmou que o hospital está enfrentando sua pior crise dos últimos vinte anos. “O HU tem passado, desde o final da década de 80, por crises, porém, nestes últimos meses, o aprofundamento das deficiências está tornando o trabalho praticamente impossível, tanto para os médicos, quanto para os residentes, quanto para os internos, mas, sobretudo, para os pacientes. Digo sempre que nosso patrão é o povo. A crise está prejudicando a todos, mas principalmente a população mais carente. Para se ter uma dimensão, o HU recebe pacientes de todo Estado, de Cajazeiras a Cabedelo”, contou.

José Luís Maroja informou também que a culpa para essa situação não pode ser atribuída inteiramente à direção do hospital. “Em termos de hotelaria, o hospital está oferecendo uma boa parte da estrutura, porém, em termos de hospital terciário que é, sendo uma referência no Estado, deixa muito a desejar. Isso não é culpa inteiramente da direção do HU. Não queremos achar os culpados, mas isso envolve também a Secretaria Estadual de Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde, o MEC, o Ministério da Saúde. Existe uma necessidade de todas as autoridades locais e federal de entrar com esforços conjuntos para reverter este quadro, pois o Lauro Wanderley é o maior patrimônio da saúde pública do Estado”, enfatizou.

Para Marluce Frazão, funcionária do bloco cirúrgico, essa crise não tem precedentes. “Faz 30 anos que trabalho aqui e, durante todo esse tempo, nunca pensei que ia passar por uma situação como essa. Isso está acontecendo de agora, não é uma coisa que tenha acontecido antes”, disse. A funcionária do serviço especializado de atendimento à mãe e à criança do HU, Rosilda Vicente do Nascimento, tem o mesmo pensamento. “Em 37 anos de serviço público, nunca vi isso. O HU está na UTI e eu estou indo parar lá também. Isso é muito triste”, lamentou.

Nutrição e Enfermagem aderem ao movimento; 280 param

A paralisação das atividades que estava prevista para contar apenas com os cerca de 230 médicos residentes do Hospital Universitário Lauro Wanderley e internos do curso de Medicina da UFPB ganhou, na manhã de ontem, a adesão dos internos dos cursos de Enfermagem e Nutrição, que somam, aproximadamente, 50 pessoas. No total, o HU deixará de contar, até a próxima quarta-feira, com 280 profissionais. As áreas afetadas serão: pediatria, ginecologia e obstetrícia, cirurgia geral, saúde coletiva, clínica médica, infectologia, anestesiologia, psiquiatria, oftalmologia, gastroenterologia, medicina intensiva e dermatologia.

Os residentes do curso de Medicina informaram que, mesmo com a paralisação, os hospitais universitários devem funcionar, por lei, normalmente. “Os residentes estão fazendo apenas uma pós-graduação com a atuação em área prática específica. Já os internos estão no quinto e sexto anos do curso de Medicina, mas eles nem são médicos ainda”, contou Pricilla Antunes, residente em cirurgia geral. “O hospital que quiser trabalhar com residentes tem que pedir credenciamento a uma comissão nacional, que vai avaliar as possibilidades, de acordo com as condições estruturais. Mas, sem os residentes, o hospital deve continuar a funcionar normalmente”, disse a residente Lorena Sousa Oliveira.

Apesar de paralisados, os internos e residentes promovem, até a quarta-feira, diversos movimentos. Já na segunda, eles participarão de uma audiência pública com a reitoria da UFPB, com a direção do Centro de Ciências Médicas, com o Sindicato dos Médicos da Paraíba, com a Superintendência do HU e com o Conselho Regional de Medicina. Na terça, participarão de uma audiência com o Ministério Público Federal, para denunciar o caos em que se encontra o hospital, inclusive sobre a paralisação dos serviços de cirurgia cardíaca, cirurgia geral e obstetrícia. Por fim, na quarta-feira, eles vão fazer parte de uma reunião do Conselho Deliberativo do HU, exigindo transparência na gestão dos recursos do hospital.

Falta comida para os pacientes; enfermagem também está prejudicada

Internos do curso de Nutrição da Universidade Federal da Paraíba denunciaram ao CORREIO que, nas últimas três semanas, começou a faltar até comida para os pacientes. “Eles não passam fome, mas, para você entender, só temos carne até domingo. Depois disso, não sabemos o que vamos oferecer, porque não há nenhuma variedade”, afirmou Giulia Grisi. A interna Samira Pereira confirmou que o quadro é complicado, porque há casos de pacientes que têm certas restrições alimentares e não há alternativas a oferecer. “Nessas situações, temos que improvisar. Às vezes fazemos um ovo, uma omelete. Ficamos de mãos atadas”, lamentou.

Carolina Vasconcelos, também interna do curso, informou que, além da carência de alimentos, também faltam suplementos para os pacientes e até bandejas em que são servidas as refeições. “Alguns pacientes têm uma necessidade de complementar sua nutrição diária com os suplementos, mas até isso está acabando. Alguns, que só se alimentam através de sondas, necessitam bastante disso. Estamos chegando ao ponto de ter que fazer suplementos caseiros, para que essas pessoas não fiquem subnutridas, mas, mesmo assim, isso é bastante complicado, porque não se pode comparar o suplemento industrializado com esse feito por nós”, disse. Com relação às bandejas, utilizavam-se as de plástico, por serem higiênicas, mas, como estão em falta, têm sido usadas as de alumínio.
Para os internos em enfermagem Manoel Neto e Laires Cavalcante, os trabalhos para os enfermeiros também está muito debilitado. “A enfermagem se tornou a arte do improviso. Não temos material. Falta tudo”, disse Laires. “Os médicos prescrevem os procedimentos, medicamentos, e cabe a nós, os enfermeiros, tomar esses cuidados. Mas, como, se não temos nenhuma condição?”, desabafou Manoel.

“Antes de o HU parar, paramos nós”

Revoltados com o caos instalado no Hospital Universitário, médicos residentes, internos em Medicina, Nutrição e Enfermagem, professores e estudantes utilizaram faixas pretas nos braços para indicar luto diante da falência do HU e, alguns, narizes de palhaços. Juntos, realizaram um abraço simbólico ao hospital, seguida de uma caminhada à reitoria, onde se realizou a sessão pública com participação do reitor, Rômulo Polari.

O clima era de revolta. “Estamos nesta situação porque a direção do hospital deixou as coisas correrem frouxas”, disse Pricilla Antunes, médica residente. “Eles estão brincando conosco? Querem deixar o HU morrer para privatizar depois?”, questionou-se um professor vestido de palhaço, que não quis se identificar além da denominação “Palhaço Au”.

O reitor Rômulo Polari também mostrou-se insatisfeito com a situação do HU. “Investimos bastante na unidade coronariana, fechada no ano passado, bem como em reformas, como as que vamos iniciar na semana que vem. Porém, não temos visto retorno”. Apesar disso, deu garantias aos residentes. “Vamos reverter esta situação”.

Notícia veiculada pelo Jornal Correio da Paraíba em 26/11/11. Link da publicação:
http://m.correio10.com.br/noticia/9830/reitor-ve-indicios-de-fraude-no-hulw

23 de novembro de 2011

O Prontuário Médico

Por Bruno Melo Fernandes
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
O prontuário médico é o acervo documental de toda a assistência prestada ao paciente, sendo de propriedade deste. Apesar das resoluções constantes do Conselho Federal de Medicina em prol de seu preenchimento, é flagrante o registro inadequado do prontuário nos hospitais brasileiros. É, assim, dever do médico preencher e zelar pelo prontuário médico de seus pacientes.

Palavras-chave: Sistemas de Registros Médicos. Ética Médica. Direitos Civis.

A medicina contemporânea é cada vez mais pautada por questões que fogem dos assuntos estritamente médicos e procuram refletir as características da sua ação profissional. 

O médico é um profissional atuante do mercado de trabalho, com direitos e deveres como qualquer trabalhador, precisando, assim, observar fielmente o código de ética e conduta médica no seu dia-a-dia, em especial para se defender de possíveis demandas judiciais futuras, que tanto preocupam a classe médica.

Dentre os inúmeros fatores ligados ao ato médico destaca-se o prontuário médico, o qual, segundo Prestes Jr. e Rangel (2007), é um acervo documental de extrema relevância que traduz o relacionamento entre o paciente e a equipe de saúde.

Assim, define-se prontuário médico como um documento básico que permeia as atividades de assistência, pesquisa, ensino, controle administrativo e acompanhamento jurídico das atividades médicas em um serviço de saúde (SAMPAIO; SILVA, 2010).

O Conselho Federal de Medicina (CFM), pela Resolução n.º 1.63/02, define prontuário como “documento único, constituído de um conjunto de informações, sinais e imagens registrados, gerados a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo” Segundo o artigo 69 do Código de Ética Médica, a documentação dos atos médicos é parte relevante da prática médica.

No prontuário deve estar presente todo o relato do exame clínico do paciente, assim como as prescrições, fichas de evolução multiprofissional, fichas de cirurgia e anestesia e ainda exames de qualquer natureza. É importante ressaltar que o prontuário médico pertence ao paciente, mas fica sob guarda dos profissionais de saúde e das instituições de saúde. O paciente pode, então, solicitar a retirada do seu prontuário a qualquer momento que desejar.

O preenchimento correto dos prontuários médicos e das fichas clínicas tem sido um dos problemas encontrados em grande parte dos hospitais e unidades ambulatoriais no Brasil, constituindo um problema de natureza multifatorial (SAMPAIO; SILVA, 2010).

Nos hospitais brasileiros, em especial naqueles que ainda adotam prontuários de papel (PEREZ; ZWICKER, 2010), existe descaso dos médicos e outros profissionais de saúde no registro de prontuários. Anotações ilegíveis, má organização de registros, duplicidade de prontuários e omisso de fatos relevantes são apenas algumas das falhas de registro bastante comuns no país.

Essas ocorrências demonstram que o verdadeiro valor do prontuário permanece desconhecido para grande parte dos usuários. Sua função primordial como fonte de dados vem sendo persistentemente prejudicada pela insuficiente qualidade de grande parte de seus registros.

No entanto, mesmo considerando o atual estágio de desenvolvimento do sistema de saúde do Brasil, Silva e Tavares-Neto (2007) reconhecem que a crise nos hospitais de ensino não é apenas financeira e que são necessárias novas políticas públicas para o aprimoramento da gestão hospitalar.

O prontuário do paciente é assim um elemento fundamental ao bom atendimento e um instrumento de educação permanente e de pesquisa, entre outras finalidades de gerenciamento hospitalar (SILVA; TAVARES-NETO, 2007).

É primordial a todos os envolvidos na assistência ao paciente conhecer o valor do registro em prontuário médico, bem como suas benesses na abordagem ao doente e como instrumento de proteção legal. Dar ao valor ao prontuário representa valorizar o atendimento ao doente e prestar uma assistência mais ética e integral.

Referências
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Código de Ética Médica, 2010.
OSELKA, G. Prontuário médico. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v. 48, n. 4, Dec. 2002.
PEREZ, G.; ZWICKER, R. Fatores determinantes da adoção de sistemas de informação na área de saúde: um estudo sobre o prontuário médico eletrônico. RAM, Rev. Adm. Mackenzie (Online), São Paulo, v. 11, n. 1, 2010.
PRESTES JR., L. C. L.; RANGEL, M. Prontuário médico e suas implicações médico-legais na rotina do colo-proctologista. Rev bras. colo-proctol., Rio de Janeiro, v. 27, n. 2, 2007
SAMPAIO, A. C.; SILVA, M. R. F. Prontuário Médico: Reflexo das relações médico-paciente. Revista Bioética, 18 (2): 451-168, 2010.
ILVA, F. G.; TAVARES-NETO, J. Avaliação dos prontuários médicos de hospitais de ensino do Brasil. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro, v. 31, n. 2, 2007.

17 de novembro de 2011

II Congresso Internacional de Envelhecimento Humano - II CIEH

O GESME foi ao II CIEH - novembro de 2011 - Ezemir, Álvaro, Divany, Cícero, Larissa, Profa. Rilva, Bruno, Liana, Lunna e Gilson
- 16 trabalhos foram apresentados pelos membros do GESME no evento
Álvaro Luiz concluindo apresentação oral de nosso trabalho sobre a aplicação do Mini-Exame do Estado Mental a idosos hospitalizados
Bruno apresentando nosso trabalho sobre a relação entre sintomas depressivos e mortalidade em idosos

Amanda ao lado de seu pôster com o trabalho sobre infecção urinária em idosos

Josué apresentou trabalho sobre mortalidade de idosos com doença cardiovascular e comorbidades

Larissa e Priscila no trabalho sobre a percepção de cuidadores de idosos sobre o atendimento no hospital universitário de João Pessoa

Taynah apresenta pôster com o trabalho sobre sintomatologia respiratória em idosos

Josué, Amanda, Aline e Geyhsy, membros do GESME

9 de novembro de 2011

O GESME vai ao II CIEH

TRABALHOS DO GESME ACEITOS NO II CIEH
Apresentações Orais
Dia 15/11/11 - Terça-Feira
8h00-10h00
Sala 01 
(1) Avaliação das Características Semiológicas da Dor no Idoso - Divani de Brito Nascimento et al.
Sala 03 
(2) Associação entre Grau de Instrução e Desempenho no Miniexame do Estado Mental em Idosos Internados no Hospital Universitário de João Pessoa, PB - Álvaro Luiz Vieira de Britto et al.
(3) Relação entre Sintomatologia Depressiva e Evolução Hospitalar em Idosos Internados nas Enfermarias de Clínica Médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley - Bruno Braz Garcia et al.
Sala 04

(4) Fatores de Risco para Delirium em Pacientes Idosos Hospitalizados: Estudo de Coorte Comparativo com Adultos Não-Idosos - Ezemir Fernandes Dantas Júnior et al.

(5) Má Qualidade do Sono Noturno como Fator Preditivo para Aumento da Permanência Hospitalar de Idosos Hospitalizados em Serviço de Clínica Médica - Gilson Mauro Costa Fernandes Filho et al.
1400-18h00
Sala 02 
(6) Incapacidade Funcional de Pacientes Geriátricos Internados em Enfermarias de Clínica Médica de um Hospital Universitário - Liana Luz Lima et al.
Sala 03 
(7) Mortalidade e Reinternamento de Idosos Após Alta de Enfermarias de Clínica Médica: Associação com Multimorbidade - Rilva Lopes de Sousa-Muñoz et al.

Apresentações em Pôster
Dia 14/11/12 - Segunda-Feira
08h00-10h00
(8) Morbidade Hospitalar por Infecção Urinária em Idosos nas Enfermarias Clínicas e Cirúrgicas do Hospital Universitário de João Pessoa, Paraíba - Amanda Dantas Cavalcanti Ferreira et al.
(9) Avaliação da Dor e Adequação Analgésica em Pacientes Idosos Internados no HULW/UFPB - Geyhsy Ellayne da Silva Rocha et al.
(10) Diferentes Percepções da Qualidade e Vida: Estudo Comparativo em Pacientes com Dor - Anne Diniz Maia et al.
(11) Percepção do Cuidador Leigo do Idoso Internado sobre a Assistência Recebida em um Hospital de Ensino - Priscila Jaruso Monteiro et al.
10h00-12h00
(12) Índice de Comorbidade de Charlson em Idosos com Doença Cardiovascular: Relação com Mortalidade em Coorte Pós-Hospitalização - Josué Vieira da Silva et al.
(13) Sintomatologia e Doenças Respiratórias em Idosos Hospitalizados no Serviço de Clínica Médica do HULW/UFPB - Taynah Pontes Machado et al.
(14) Percepção do Cuidado Recebido na Perspectiva do Idoso Hospitalizado no Hospital Universitário de João Pessoa, Paraíba - Aline Dantas de Sá et al.
Dia 15/11/11 - Terça-Feira
8h00-10h00
(15) Confiabilidade e Validade Concorrente da Escala de Rastreamento de Depressão CES-D em Mulheres no Climatério - Cícero Faustino Ferreira et al.
10h00-12h00
(16) Correlação entre Sintomas Depressivos do Tipo Afetivo e Distribuição da Gordura Corporal em Mulheres Climatéricas - Lunna Maria Casimiro Sarmento et al.

8 de novembro de 2011

Síndrome da Insuficiência venosa Crônica

Por Stephanie Galiza Dantas
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
A insuficiência venosa crônica (IVC) representa uma síndrome clínica composta por edema, hiperpigmentação (dermatite ocre) e úlcera de membros inferiores (MMII), sendo a doença de etiologia venosa mais freqüente. Estima-se que 90% das úlceras de MMII sejam de etiologia venosa. O diagnóstico de IVC requer anamnese e exame físico, buscando distinguir a síndrome clínica desta entidade de outras afecções.

Palavras-chave: Insuficiência venosa. Úlcera varicosa. Sinais e Sintomas.

A insuficiência venosa crônica (IVC) representa uma síndrome clínica composta por edema, hiperpigmentação (ou dermatite ocre) e úlcera de membros inferiores (MMII). A IVC é a doença de etiologia venosa mais freqüente (HOBSON, 1997). Pode se tornar incapacitante, em virtude da cronicidade das suas manifestações e da influência nas atividades da vida diária do paciente. A IVC engloba a insufiência do sistema venoso profundo causada por várias etiologias, incluindo a síndrome pós-trombótica.

Estima-se que 90% das úlceras de MMII sejam de etiologia venosa, com maior prevalência em maiores de 65 anos, sobretudo em mulheres (BAKER et al., 1992; BOWMAN; HOGAN, 1999). A úlcera venosa é considerada uma doença crônica que possui importante impacto sobre a qualidade de vida, tendo em vista o seu longo tempo de cicatrização, a alta freqüência de recidivas e o elevado custo associado ao tratamento (BLACK, 1995).

A IVC decorre de basicamente dois mecanismos: obstrução venosa e incompetência valvular. Dessa forma, as principais causas de IVC são a incompetência de veias perfurantes, incompetência de veias profundas, obstrução venosa proximal, incompetência de veias superficiais, malformações venosas congênitas, fístulas arteriovenosas, disfunções da musculatura da panturrilha e aplasia congênita de válvulas venosas.

A causa mais frequente de IVC é a alteração valvular das veias profundas dos MMII em decorrência da trombose venosa profunda (TVP). As varizes de MMII também podem causar IVC, devido à insuficiência de veias perfurantes insuficientes, representando, contudo, um quadro de estase venosa menos complicado.

Para caracterização do exame clínico da IVC, é fundamental a anamnese, buscando-se distinguir a síndrome clínica desta entidade de outras doenças. Na diferenciação clínica dos edemas de MMII e das úlceras de MMII, falam a favor de IVC: dor e edema vespertino e unilateral, varizes de MMII (geralmente calibrosas), úlcera ou antecedente de úlcera cicatrizada, dermatite ocre associada ao edema, obesidade (pode ser a causa ou fator agravante), antecedente de trombose venosa profunda (TVP). O edema, geralmente de consistência amolecida no início do quadro, torna-se endurecido e, com o passar do tempo, surgem dermatoesclerose (dermatofibrose), reações eczematosas e úlceras de estase.

Constituem ainda diagnósticos diferencias dos edemas de MMII: celulites, TVP, linfedemas, tumores, insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência renal e hipoproteinemia.

É igualmente relevante diferenciar as úlceras de estase venosa na IVC de úlceras isquêmicas. Nesse sentido, são sinais que sugerem IVC: acometimento da região maleolar (geralmente medial), veias varicosas em volta da úlcera (à inspeção ou à palpação), dermatite ocre na pele ao redor da úlcera, edema associado, fundo da úlcera róseo – quando não há infecção – ou amarelado, quando há infecção. Pode haver dor, principalmente na vigência de infecção associada, porém a dor é menos intensa do que nas úlceras isquêmicas.

O diagnóstico de IVC é eminentemente clínico, baseado em uma anamnese e exame físico pormenorizados. Os exames complementares podem ser indicados para esclarecer a etiologia da IVC, nos casos em que permanece dúvida diagnóstica ou para determinar a gravidade da doença e a eficácia do tratamento.

Os exames diagnósticos não invasivos que poderão ser utilizados são: ultra-som doppler, duplex scanning e pletismografia. Quanto aos exames invasivos, podem ser realizadas flebografia ascendente e descendente. Vale ressaltar que estes dois últimos podem provocar flebites, celulites, dor e, raramente, trombose venosa. Por esta razão, são reservados para casos nos quais os métodos não invasivos deixaram dúvida diagnóstica.

A American Venous Fórum, em 1994, estabeleceu a classificação CEAP (Quadro 1) para o paciente com doença venosa. As iniciais CEAP significam, respectivamente, quadro clínico, etiologia, classificação anatômica e classificação fisiopatológica.

Quadro 1. Classificação CEAP (FONTE: Caffaro et al.)
Referências
BAKER, S.R., et al. Etiology of chronic leg ulcers. Eur J Vas Surg. 6(3): 245-51, 1992.
BLACK, S.B. Venous stasis ulcers: a review. OWM. 41(8): 20-25, 1995.
BOWMAN, P.H; HOGAN, D.J. Leg ulcers: a common problem with sometimes uncommon etiologies. Geriattrics. 54(3): 43-54, 1999.
CAFFARO, R.A., et al. Insuficiência Venosa Crônica. Disponível em: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=2855. Acesso em: 05 mai 2011.
HOBSON, J. Venous insufficiency at work. Angiology. 48(7): 577-582, 1997.
Imagem ilustrativa: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=2855

4 de novembro de 2011

Semiologia Clínica das Hemopatias Malignas

Por Gabriel Braz Garcia
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
As hemopatias malignas, oriundas de crescimento desordenado de tipos de células da linhagem hematopoiética, caracterizam-se por comprometer de maneira global as condições físicas. O diagnóstico clínico geralmente encontra-se na dependência do tipo de malignidade. Em geral, os sinais e sintomas estão relacionados à hiperproliferação em sítios distintos, em especial com linfonodomegalia, ao aparecimento de sintomas constitucionais e às condições mórbidas associadas.

Palavras-Chave: Hematologia. Sinais e Sintomas. Exame Físico.

As hemopatias malignas caracterizam-se por comprometer de maneira global as condições físicas. Existe uma grande diversidade de apresentações; podem se revelar como manifestações muito pouco evidentes, em que a medula óssea está comprometida sem que sinais e sintomas indicativos existam, ou como quadros nitidamente neoplásicos, com aumento de volume dos linfonodos, hepatomegalia, esplenomegalia ou neoplasias extralinfáticas (ossos, mamas, ovários, testículos, glândulas de secreção externa, tecido subcutâneo) (PORTO; PORTO, 2009).

O diagnóstico clínico encontra-se na dependência do tipo de malignidade: leucemias agudas e crônicas, linfoma tipo Hodgkin e não-Hodgkin, policitemia vera, mielofibrose idiopática, mieloma múltiplo, macroglobulinemia de Waldeströn, amiloidose. Em geral, a sintomatologia está relacionada à hiperproliferação em sítios distintos, ao aparecimento de sintomas constitucionais e às condições mórbidas associadas, como infecções.

A anamnese é fundamental no diagnóstico, como sempre. Há desordens que passam despercebidos durante um longo tempo; outras vezes estas afecções instalam-se de modo abrupto, determinando quadros dramáticos de hemorragia, anemia intensa, infecções de difícil controle, podendo levar o paciente à caquexia, torpor e morte. Assim, ao exame físico, é fundamental observar as condições gerais e nutricionais, o que pode orientar no prognóstico.

Os sinais e sintomas inespecíficos incluem a fadiga, fraqueza, perda de peso e anorexia (LOPEZ, 2004). Pode haver também uma curva térmica característica, tida como elevada, intermitente e pouco responsiva a antitérmicos, denominada “febre de Pel-Ebstein”, vista nos pacientes com linfomas tipo Hodgkin.

A dor pode ser referida em orofaringe, tronco e membros, sendo secundária à presença de infecções, crescimento tumoral com distensão de tecidos ou à compressão de raízes nervosas. Dores ósseas são frequentes no mieloma múltiplo, muitas vezes complicadas com fraturas patológicas pelo adegalçamento do tecido ósseo.

Infiltrações de pele por células leucêmicas ou linfomatosas podem ocorrer, sob forma de máculas ou pápulas. Lesões herpéticas são relativamente comuns por deficiência imunológica. Ao exame da pele, ressalta-se ainda a presença do prurido como achado frequente, associado ou não a sudorese.

Manifestações dermatológicas podem ser proeminentes em alguns tipos de linfomas que afetam primariamente a pele. A micose fungóide, por exemplo, é uma neoplasia dos linfócitos T helper, que pode permanecer sem manifestações extracutâneas por muitos anos.

A forma típica de apresentação da micose fungóide consiste de três padrões: um estágio precoce com lesões inespecíficas, placas eritêmato-escamosas, lembrando psoríase e parapsoríase. Um segundo estágio que se caracteriza por infiltração das placas eritêmato-descamativas preexistentes, surgimento de novas placas infiltradas e nódulos. E um terceiro estágio identificado pelo aparecimento de tumores de vários tamanhos e de cor eritêmato-acastanhada, sendo raras formas iniciais tumorais (DUQUIA et al., 2005).

No sistema nervoso central, quadros de infiltração podem determinar cefaléia e vômitos, determinados pela hipertensão intracraniana, além de paraparesia, de instalação lenta ou subaguda. Destaca-se, ainda, na leucemia mielóide crônica, a protrusão típica do globo ocular, por compressão, o cloroma, comprometendo a acuidade visual.

Em algumas desordens, como mieloma múltiplo e macroglobulinemia, tem-se, por hiperproteinemia, um aumento da viscosidade sanguínea, o que gera edema, sinais de insuficiência cardíaca e hipertensão arterial.

Contudo, os sinais mais ligados às hemopatias malignas são a linfonodomegalia e a hepatoesplenomegalia. Nas hipertrofias ganglionares malignas, encontram-se linfonodos consistentes, assimétricos, não dolorosos, de volume variável, de consistência firme, borrachenta, sem eritema local ou sinais inflamatórios cutâneos (PORTO; PORTO, 2009).

As lifadenomegalias podem ser encontradas em diversas cadeias linfáticas, desde as de cabeça e pescoço (occipitais, submandibulares, supraclaviculares), com inspeção facilitada; até cadeias mais profundas, como as mediastínicas, gerando quadro grave, com compressão de vias aéreas ou vasos (SEIDEL, 2007). Um fato curioso é que, às vezes, há dor nos gânglios hipertrofiados após ingestão de bebidas alcoólicas nos casos de linfoma tipo Hodgkin. Em alguns linfomas, inclusive, pode haver necrose do tecido tumoral, presença de flutuação e mesmo fistulização.

As manifestações do linfoma de Burkitt, um tipo de linfoma não-Hodgkin altamente agressivo e ocorre predominantemente nas primeiras décadas de vida, ocorrem em ossos gnáticos, especialmente maxila. Na cavidade oral, este tumor pode progredir muito rapidamente e se apresentar como uma tumefação facial ou uma massa exofítica envolvendo os maxilares (FREITAS et al., 2008).

Podem ocorrem manifestações osteoarticulares também. Em doenças mieloproliferativas, a dor óssea também é referida, principalmente na metáfise dos ossos longos. Inicialmente de caráter intermitente, a dor tende a se intensificar e tornar-se persistente, sendo caracteristicamente noturna. Leucemias e linfomas têm sido, dentre as neoplasias, os principais responsáveis por alterações articulares (CAMPOS et al., 2008).

As síndromes mieloproliferativas crônicas, atualmente denominadas neoplasias mieloproliferativas, de acordo com a 4ª edição da classificação da Organização Mundial da Saúde, são doenças clonais de célula-tronco hematopoética, nas quais há proliferação aumentada das séries mieloides com maturação eficaz, o que leva à leucocitose no sangue periférico, aumento da massa eritrocitária ou trombocitose. Várias progridem para fibrose medular ou transformação leucêmica (CHAUFFAILLE, 2010).

Esse grupo de mieloproliferações engloba as seguintes doenças: leucemia mieloide crônica, policitemia vera, mielofibrose idiopática crônica, trombocitemia essencial, leucemia neutrofílica crônica, leucemia eosinofílica crônica não especificada, mastocitose e neoplasia mieloproliferativa inclassificável.

Os sintomas da policitemia vera são: cefaleia, pletora, cansaço, tontura e sudorese. Prurido está presente em torno de 40% dos pacientes e é atribuído a aumento de histamina e ao número de mastócitos na pele. Episódios trombóticos (AVC, síndrome de Budd-Chiari, infarto do miocárdio, tromboembolismo pulmonar ou trombose venosa profunda) estão entre as complicações mais comuns, aparecendo em aproximadamente 33% dos pacientes. Sangramentos também são descritos (25% dos casos). Há aumento da incidência de úlcera péptica (CHAUFFAILLE, 2010).

A policitemia vera cursa com três fases: a fase prodrômica ou pré-policitêmica, inicial, na qual há apenas eritrocitose discreta ou limítrofe; fase pletórica com a sintomatologia acima descrita; e fase tardia, de esgotamento ou consumo, na qual há fibrose medular e as queixas são de fraqueza, pela anemia, e desconforto abdominal pela esplenomegalia evidente.
 
Por outro lado, na mielofibrose, um quarto dos pacientes é assintomático e o diagnóstico é feito pela esplenomegalia ou por achado fortuito. Os demais apresentam sintomas secundários à anemia (fraqueza, cansaço, palpitação e dispneia), esplenomegalia (saciedade, desconforto ou dor em quadrante superior esquerdo do abdômen), estado hipermetabólico (perda de peso, sudorese noturna ou febre), eritropoese extramedular, sangramentos (petéquias, hemorragia em trato gastrointestinal), alterações ósseas (dor nas juntas ou ósseas por osteoesclerose), hipertensão portal (ascite, varizes de esôfago ou gástricas, sangramento de TGI, encefalopatia hepática, trombose de veia porta ou hepática) .

É válido destacar, entretanto, que embora a semiologia dirigida às hemopatias sejam de grande valia, o diagnóstico é confirmado apenas através da biópsia de estrutura neoplásica, seguida da avaliação imuno-histológica, assim como toda afecção maligna. Com isso, é possível traçar um plano terapêutico adequado, junto à determinação do prognóstico.

Referências
CAMPOS, L. M. A. et al. Comprometimento musculoesquelético como primeira manifestação de neoplasias. Rev. Assoc. Med. Bras. 54 (2): 132-138.
CHAUFFAILLE, M. L. L. F. Neoplasias mieloproliferativas: revisão dos critérios diagnósticos e dos aspectos clínicos. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. 32 (4): 308-316, 2010.
DUQUIA, R. P. et al. Micose fungóide hipopigmentar com 20 anos de evolução. An. Bras. Dermatol. 80 (2): 189-191, 2005.
FREITAS, R. A.; BARROS, S. S. L. V.; QUINDERE, L. B. Linfoma de Burkitt oral: relato de caso. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 74 (3): 458-461, 2008.
LÓPEZ, M.; LAURENTYS-MEDEIROS, J. Semiologia Médica: As Bases do Diagnóstico Clínico. 5a. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2004.
PORTO, C. C.; PORTO, A. L. Semiologia Médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009
HARRISON. Medicina Interna, 17ª edição. Rio de Janeirro: McGraw Hill Interamericana do Brasil, 2008.
PEREIRA, J. et al. Leucemia/Linfoma de células T do adulto: uma revisão da literatura. Rev. Soc. Bras. Clín. Méd; 5 (2): 62-67, 2007. 
SEIDEL, H. M.  et al. MOSBY Guia de Exame Físico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

Imagem: healthgiants.com