31 de março de 2013

Dermato-Heliose Unilateral

Homem de 69 anos com história de 25 anos de espessamento gradual assintomático e enrugamento da pele no lado esquerdo de seu rosto. Ele relatou que foi motorista e dirigiu um caminhão de entregas durante 28 anos. 
O exame físico demonstrou sinais de hiperqueratose com sulcos acentuados, vários comedões e áreas de elastose nodular (erupção papular) na hemiface esquerda. O exame histopatológico revelou acúmulo de material elastolítico (fibras elásticas fragmentadas e desorganizadas) na derme e formação de milium dentro dos folículos de pelos velus
Os achados são compatíveis com a síndrome de Favre-Racouchot da pele foto-danificada, conhecida também como dermato-heliose. 
Os raios ultravioleta A (UVA) transmitem-se através do vidro da janela, penetrando as camadas da epiderme e a superior da derme. A exposição crônica aos raios UVA pode resultar em espessamento da epiderme e do estrato córneo, assim como a destruição das fibras elásticas. 
Embora a exposição aos raios ultravioleta B (UVB) esteja ligada a uma maior taxa de foto-carcinogênese, a radiação UVA também pode induzir mutações do DNA, levando à formação de câncer de pele. 
Caso clínico publicado no New England Journal of Medicine (GORDON; BRIEVA, 2012).

Referência
GORDON, J. R. S.; BRIEVA, J. C. Unilateral Dermatoheliosis. N Engl J Med  366:e2, 2012. Disponível em: http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMicm1104059. Acesso em: 31 mar. 2013.

24 de março de 2013

Novos Horizontes para a Compreensão pela Iniciação Científica

Por Tácia Adriana Florentino de Lima
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB. Bolsista do Programa Jovens Talentos para a Ciência / CNPq

Resumo
O estudante de Medicina precisa aprender a ter espírito científico, estar exercendo constante crítica em busca permanente da verdade, e essa capacidade ele aprende  propondo hipóteses,  expondo-as à observação e corroboração. Ele não pode ter uma visão apenas utilitarista de sua profissão futura. Para isso, a iniciação científica amplia seus horizontes na compreensão do mundo. Isso pode ser conseguido através da prática de pesquisa durante a graduação. Assim, o estudante pode desenvolver uma nova racionalidade, ampliar seus horizontes e aprender a ser auto-reflexivo. Despertar a curiosidade do estudante de Medicina é um dos méritos da sua iniciação na atividade científica. Outro é o aprendizado do método científico, que pode levar o estudante a obter uma visão objetiva e racional e a capacidade de aprendizagem constante. A curiosidade, a vontade de saber mais, de estar informado, de ser conhecedor, são necessidades fundamentais na formação médica, assim como o são o desenvolvimento ético e da capacidade técnica.

Palavras-chave: Ciências. Educação Médica. Pesquisa Médica.

Considerando que o modelo educacional acompanha a evolução do paradigma científico, e as propostas de educação inovadoras repercutem no ensino médico, torna-se imprescindível despertar para a importância do fazer e compreender ciência, que é um dos grandes desafios para a formação médica atual. Essa mudança do paradigma educacional tradicional para um paradigma educacional inovador culminou com o surgimento de novos horizontes para a compreensão da ciência pelos estudantes de medicina, o que se reflete, sobretudo, na crescente participação destes em programas de Iniciação Científica e demais atividades que envolvam o binômio ensino-pesquisa no ensino superior.
De acordo com Mitre et al. (2008), historicamente, a formação de profissionais de saúde tem sido marcada pelo uso de metodologias conservadoras, sob forte influência do mecanicismo de inspiração cartesiana e newtoniana, fragmentado e reducionista. Essa fragmentação do saber manifestou-se no processo de ensino-aprendizagem, restringindo, durante muito tempo, a atuação do discente ao papel de mero reprodutor ou expectador do conhecimento. A partir do século XX, com o surgimento de novas perspectivas para a compreensão da ciência, houve uma mudança na concepção então vigente, colocando-se em xeque os valores considerados intocáveis e resultando em uma reflexão sobre a inserção dos futuros profissionais de saúde no contexto de produção científica.
A modernidade transformou conhecimento em poder (TENÓRIO; BERALDI, 2010). Nesse contexto, a produção daquele é “extremamente veloz, tornando cada vez mais provisórias as verdades construídas no saber-fazer científico” (MITRE et al., 2008). Tal constatação acaba por requerer que todos sejam protagonistas e produtores dessa nova ordem, testemunhos vivos das transformações que ela produziu. Pêgo-Fernandes e Mariani (2010) tratam desse tema nas ciências médicas, e afirmam que devido à aceleração do desenvolvimento destas e a constante avalanche de novas informações, a iniciação científica precisa começar a ser realmente considerada um elemento básico na formação do médico.
Diante disso, Rodríguez et al. (2004) apresentam três concepções como pilares do ensino médico inovador: visão holística, abordagem progressista e ensino baseado na pesquisa. As atividades de pesquisa nos cursos de graduação são reconhecidas atualmente como a mais importante maneira de inserir os estudantes na futura prática científica. Como complementação essencial à formação profissional ou técnica, a execução de projetos de pesquisa ajudam na ampliação de visão de mundo do aluno de Medicina, além de possibilitarem o aprendizado prático de planejamento e organização. Ao avaliar a viabilidade de uma pesquisa, reduzir possibilidade de erros e sistematizar sua execução, o estudante aperfeiçoa sua aptidão para exercer atividades referentes à sua futura profissão  (TENÓRIO; BERALDINI, 2010).
Isso coloca como desafio atual para as instituições de ensino superior formar profissionais capazes de buscar o conhecimento, de saber como utilizá-lo e como produzi-lo. Ao contrário de antes, quando o importante era dominar o conhecimento, o importante agora é “dominar o desconhecimento”, sabendo encontrar por si próprio, as respostas às questões  através da pesquisa (BEIRÃO, 2008).
Esse processo de construção da Ciência vem mostrando seu impacto transformador sobre o Homem. Despertar a curiosidade do estudante de Medicina é um dos méritos da sua iniciação na atividade científica (CARUSO, 1998). Outro é o aprendizado do método científico, que pode levar o estudante a obter uma visão objetiva e racional e a capacidade de aprendizagem constante. A curiosidade, a vontade de saber mais, de estar informado, de ser conhecedor, são necessidades fundamentais na formação médica, assim como o são o desenvolvimento ético e da capacidade técnica.
É preciso estimular nos discentes a humildade de frente ao “não saber” – com que o pesquisador se confronta diariamente em sua prática – e daí se depreende o valor da curiosidade, o valor da leitura crítica do mundo. É importante que o estudante aprenda a pensar, e desenvolva a autonomia. Isso pode ser conseguido através da prática de pesquisa durante a graduação. Assim, o estudante pode desenvolver uma nova racionalidade, ampliar seus horizontes e aprender a ser auto-reflexivo.
O estudante de Medicina precisa aprender a ter espírito científico, estar exercendo constante crítica em busca permanente da verdade; isto se aprende propondo hipóteses e expondo-as à observação e corroboração. Ele não pode ter uma visão apenas utilitarista de sua profissão futura. Para isso a iniciação científica amplia seus horizontes na compreensão do mundo.

Referências
BEIRÃO, P. S. L. A importância da iniciação científica para o aluno da graduação. 2008. Disponível em: https://www.ufmg.br/boletim/bol1208/pag2.html. Acesso em: 24 mar. 2013.
CARUSO, F. Processo e Transformação: para além da Ciência. Rev. Bras. de Ensino de Física. 20 (3): 251-258, 1998.
MITRE, S. M.; BATISTA, R.S.; MENDONÇA, J. M. G., et al. Metodologias ativas de ensino-aprensizagem na formação profissional em saúde: debates atuais. Ciência & Saúde coletiva. 13 (2): 2133-2144, 2008.
PÊGO-FERNANDES, P. M.; MARIANI, A. W. O ensino médico além da graduação: iniciação científica. São Paulo Med. J. 15 (3): 104-5, 2010.
RODRÍGUEZ, C. A.; NETO, P. P.; BEHRENS, M. A. Paradigmas Educacionais e a Formação Médica. Rev. de Educação Médica. 28 (3): 234-241, 2004.
TENÓRIO, M. P.; BERALDI, G. Iniciação científica no Brasil e nos cursos de medicina. Rev. Assoc. Med. Bras. 56 (4): 375-93, 2010.

Imagem: http://www.emporto.com.br

23 de março de 2013

Aniversário do Semioblog: 5 Anos Falando sobre Observação Clínica

Há cinco anos nascia o Semioblog (25/03/2008), com  a postagem "Semiologia Médica: Inaugurando o Semioblog"  - link: http://semiologiamedica.blogspot.com.br/2008/03/semiologia-mdica-consideraes-gerais.html

O Semioblog é um espaço virtual voltado para o estudante da grande área da Saúde. Nossos objetivos, ao criar este blog, foram: estimular a comunicação entre os alunos da disciplina de Semiologia Médica da nossa universidade; valorizar a produção textual dos alunos através da publicação de seus trabalhos acadêmicos na Internet; fomentar um apoio eletrônico para a disciplina de Semiologia e para o grupo de Estudos em Semiologia Médica (GESME); criar um espaço de organização da produção  acadêmica dos alunos e monitores da disciplina de Semiologia Médica da UFPB; realizar revisões sobre temas de Semiologia Médica; propiciar a comunicação com estudantes da área de Saúde de outros estados e regiões do Brasil; apresentar projetos e resultados de pesquisas na área de epidemiologia clínica, educação médica e clínica médica, especialmente aqueles ligados à observação clínica. Com o tempo, houve grande diversificação das temáticas que passaram a ser abordadas no blog mas, em geral, sempre relacionadas direta ou indiretamente à prática pedagógica em Medicina e ao exame clínico.
As estatísticas abaixo, geradas pelo Google, começaram a ser contabilizadas em maio de 2008, dois meses após a abertura do blog. Ocorreram 1.114.995 visualizações de páginas do Semioblog desde maio de 2008 até hoje (Figura 1). 
Foram feitas 681 postagens, 170 delas escritas por nossos alunos. A postagem mais visualizada ao longo desse tempo foi "A Sensação de Queimação nas Plantas dos Pés", escrita pelo nosso ex-aluno Rodolfo Athayde, com 90.617 visualizações; em seguida, a postagem "O Método Hipotético-Dedutivo", por Bruno Fernandes, também nosso ex-aluno, com 36.755 visualizações (Figura 2).
A maior parte das visualizações foi no Brasil e em Portugal, e as origens do tráfego foram sobretudo via busca pelo Google (Figuras 3 e 4).

Estatísticas do Blog 
Figura 1

Figura 2

Figura 3
Figura 4

Imagem inicial (bolo de aniversário): http://joyfullycreativecakes.blogspot.com

6 de março de 2013

Exame Físico do Abdome: Inspeção, Palpação e Percussão


 Vídeo 1: Inspeção do Abdome

[...] *
 Vídeo 2: Ausculta do Abdome

 Vídeo 3: Palpação do Abdome

Vídeo 4: Percussão do Abdome

Vídeo 5: Manobras Semiotécnicas Especiais do Abdome

Série de vídeos sobre exame físico realizada na Monitoria da Disciplina de Semiologia Médica da UFPB / GESME (quinta produção, depois dos vídeos sobre exames do tórax respiratório [2] e cardiovascular [2]), que se encontram no marcador "Semio-Vídeos" deste Blog.

* Não foi possível fazer upload do vídeo sobre ausculta.

5 de março de 2013

Sinal de Rovsing

 

Descrito por um cirurgião dinamarquês, Niels Thorkild Rovsing, em 1907, o sinal de Rovsing sugere a hipótese de inflamação peritoneal por apendicite aguda em um paciente com sintomatologia compatível com o quadro. Este sinal é revelado clinicamente por dor na fossa ilíaca direita à compressão retrógrada dos gases a partir da fossa ilíaca esquerda, comprimindo-se consecutivamente flanco esquerdo, projeção de cólon transverso e flanco direito. Tal manobra produz a distensão do ceco e do apêndice, empurrando os gases do cólon esquerdo no sentido anti-peristáltico até o ceco. 
Também chamado de “sensibilidade de rebote referida”, quando presente, é bastante útil no apoio ao diagnóstico de apendicite. 
Era considerado um sinal de pequena sensibilidade e especificidade, porém mais recentemente, uma pesquisa indicou uma sensibilidade de 30,1% e especificidade de 84,4% (KHARBANDA et al., 2005), mas não se sabe se este sinal pesquisado foi o sinal original, tal como descrito por Rovsing, e talvez deva ser melhor considerado como um sinal Rovsing-like, ou seja, um sinal de Rovsing modificado.

Referência
KHARBANDA AB, TAYLOR GA, FISHMAN SJ, BACHUR RG. A clinical decision rule to identify children at low risk for appendicitis. Pediatrics 116(3):709-16, 2005.

Imagens:
Fotos da Disciplina de Semiologia Médica da UFPB.
Última foto: Extraída de DAVEY, W. W. Rovsing's Sign. Br Med J.  2(4983): 28–30, 1956.

Compostos Fitoterápicos com Ação Hormonal


Na anamnese, é preciso questionar sempre o uso de todos os medicamentos que o paciente está recebendo, não apenas os  fármacos de síntese, mas também os elaborados à base de plantas.
Toma algum medicamento de uso contínuo? Usa algum de maneira esporádica? E os remédios de plantas?...
Os usuários de medicamentos fitoterápicos são geralmente adultos ou idosos que utilizam outros fármacos como tratamento principal de doenças crônicas e, creem que a fitoterapia é uma alternativa terapêutica sem risco de efeitos adversos e de interações medicamentosas. Os médicos geralmente também omitem a pesquisa de uso de fitoterápicos na anamnese também acreditando que estes são inócuos. Entretanto, os medicamentos fitoterápicos são constituídos por misturas complexas de vários compostos químicos, que podem ser responsáveis por diversas ações, como efeitos antagônicos e/ou sinérgicos com outros medicamentos. Muitos dos fitoterápicos também têm ação hormonal.

Apresentação de Slides