10 de setembro de 2024

CAPACITISMO NA ATENÇÃO À SAÚDE

 
Durante a apresentação e  discussão do projeto baseado em equipes sobre capacitismo na disciplina de Diversidade Étnica e Cultural na Medicina, os alunos José Natanael, João Vitor, Caio, Carlos e João Vítor Estrela abordaram o tema de forma abrangente. Eles apresentaram a conceituação do capacitismo, e este como problema de saúde pública, além da questão da deficiência oculta. O grupo apresentou também os diferentes modelos de deficiência e os vários tipos de capacitismo: sistêmico, institucional, interpessoal e internalizado. Além disso, os integrantes do grupo trouxeram dados do canal de denúncias Disque 100, destacando as barreiras enfrentadas por pessoas com deficiência, e mencionaram a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF).
Os alunos também destacaram exemplos de atletas das Paralimpíadas em Paris, com ênfase no sucesso dos atletas brasileiros, que até o momento conquistaram 89 medalhas, incluindo cinco de ouro. Mencionaram especificamente o paraibano Petrúcio, atleta paralímpico que treinava na Universidade Federal da Paraíba. 
Para engajar os colegas, eles conduziram um quiz sobre capacitismo e atenção à saúde. Após o quiz, iniciei a discussão e abri espaço para os alunos participarem do debate. Comentei positivamente sobre a inclusão do conceito de diversidade funcional, destacando a visão mais ampla e inclusiva do grupo em relação às questões de deficiência, o que reflete um entendimento mais profundo das múltiplas dimensões da diversidade humana. Por fim, sugeri que, na apresentação dos trabalhos futuros, além das dinâmicas de grupo e debates, os próximos projetos fossem incluídos estudos de caso para enriquecer ainda mais a discussão e contextualizar o problema na prática.
A discussão começou com Ruth abordando o capacitismo estrutural e as barreiras de acessibilidade presentes em diversos contextos, como trabalho, estudo e, especialmente, em instituições de educação e saúde. Felizardo trouxe à tona exemplos de capacitismo observados na própria universidade. Ronielle comentou sobre a rotulação de pessoas ou instituições consideradas capacitistas, mas destacou que, em algumas escolas, alunos com deficiência intelectual acabam sendo nivelados por baixo, pois não conseguem acompanhar o ritmo de ensino. Ele também mencionou que a inclusão de crianças com autismo nas salas de aula, mesmo quando não têm deficiência intelectual, é limitada a um tutor, o que pode ser visto como segregação. Emmanuel acrescentou que a lei exige que crianças com autismo ou deficiência intelectual tenham acompanhantes, mencionando um caso em que sua mãe, professora municipal, precisou exigir a aplicação dessa norma em sua escola.
Felipe destacou a necessidade de tratar as diferenças de forma equitativa, com mais recursos econômicos e profissionais capacitados para atender as crianças com deficiência no sistema escolar. Karolina elogiou o grupo e apontou que a frase "nivelar por baixo" é capacitista, além de comentar que as Paralimpíadas têm menos visibilidade que as Olimpíadas, o que também reflete um tipo de capacitismo. Letícia Araújo reforçou essa observação, destacando a diferença de repercussão entre os dois eventos.
Sadrak complementou mencionando que a expectativa de limitação quando se trata de considerar pessoas com deficiência é comum, porém todos temos deficiências, ainda que nem todas sejam visíveis. Ele citou a falta de design universal como uma barreira generalizada, mencionando como frutas pré-cortadas nos supermercados são um exemplo de acessibilidade, mas com um custo elevado, é inacessível para a maioria das pessoas com deficiência. Ele também comentou sobre a inadequação de slides e materiais para pessoas com deficiência visual, incluindo daltônicos.
Samuel parabenizou o grupo e relembrou um atleta paralímpico chinês sem membros superiores, destacando a inclusão na música com exemplos como o baterista Rick Allen da banda Def Leppard, que continuou na banda após um acidente que resultou em deficiência motora. Ele também mencionou o guitarrista Tony Iommi da banda Black Sabbath, reforçando a importância da inclusão de pessoas com deficiência na música. Ambos sofreram acidentes graves que resultaram em perda de membros, mas superaram esses desafios para continuar suas carreiras musicais. Rick Allen perdeu o braço esquerdo em um acidente de carro em 1984. Ele desenvolveu uma técnica para tocar bateria usando um kit modificado, que lhe permitiu continuar como o baterista da banda. Tony Iommi perdeu a ponta de dois dedos da mão direita em um acidente de trabalho aos 17 anos, pouco antes de se juntar ao Black Sabbath. Ele usou dedais de borracha e afinou sua guitarra de forma mais leve para facilitar o toque. Assim, ambos são exemplos de superação e adaptação, continuando a tocar seus instrumentos de forma inovadora mesmo após enfrentarem limitações físicas.
A discussão também abordou preconceitos linguísticos, incluindo termos usados em esportes paralímpicos, como a "bocha", que seria pronunciada de forma diferente conforme a região do Brasil. Nesse ponto da discussão, surgiu a ideia de outro tipo de discriminação, a que envolve regionalismos e pronúncias diversas, mas surgiu o insight sobre a necessidade de evitar esse tipo de discriminação e qualquer outro, mesmo em brincadeiras. 
Francisco, ao complementar Sadrak, trouxe sua experiência como ex-estudante de Arquitetura, destacando a falta de acessibilidade nas calçadas e no campus da universidade, lembrando que o planejamento urbano muitas vezes ignora as necessidades de pessoas com deficiência. Ele retomou o ponto sobre o custo elevado de frutas pré-cortadas, ressaltando a inacessibilidade econômica para pessoas com deficiência que precisam desses produtos.
Ana Luisa compartilhou sua vivência ao visitar o Instituto dos Cegos de João Pessoa, apontando que mesmo em instituições especializadas há barreiras significativas. Francisco voltou a falar sobre a priorização de espaços para carros em detrimento de pessoas em áreas comerciais, observando que o lucro é mais valorizado que a acessibilidade. Emmanuel trouxe de volta o tema das Paralimpíadas e destacou o subfinanciamento de esportes para pessoas com deficiência, em contraste com o patrocínio elevado de esportes como o futebol para cegos.
Flávia encerrou a discussão mencionando as barreiras estruturais nas escolas, apontando que a deficiência é diversa e que o sistema educacional brasileiro ainda não implementou completamente as obrigações legais para inclusão. Ela compartilhou a experiência de um colega com deficiência em sua escola, reforçando que a inclusão ainda é exceção. Letícia Fonseca citou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que prevê a autonomia do pedagogo e o auxílio de sala para crianças com deficiência, ressaltando a falta de abordagem desse tema nos cursos de pedagogia. Guilherme finalizou comentando que a infraestrutura das instituições reproduz o capacitismo por meio das barreiras presentes tanto no sistema de saúde quanto no de educação.
Houve entrega de 20 participações por escrito dos outros componentes da turma.
O seminário decorrente do projeto baseado em equipes sobre capacitismo na atenção à saúde proporcionou uma oportunidade valiosa para refletirmos sobre as barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência no acesso aos serviços de saúde. Ao longo da discussão, ficou evidente que o capacitismo não é apenas uma questão de acessibilidade física, mas também de atitudes e práticas que perpetuam a exclusão e a discriminação.
Compreendemos que o capacitismo se manifesta de diversas formas, desde a falta de infraestrutura adequada até a desvalorização das capacidades das pessoas com deficiência. Esse preconceito estrutural afeta negativamente a saúde e o bem-estar dessas pessoas. Relatos de experiências pessoais destacaram a importância de ouvir e valorizar as vozes das pessoas com deficiência. Os desafios enfrentados por elas, como a falta de acessibilidade e o preconceito, foram discutidos em profundidade.
O combate ao capacitismo na atenção à saúde exige um esforço coletivo e contínuo. É fundamental que todos os envolvidos, desde gestores até profissionais de saúde e a sociedade em geral, se comprometam a promover a igualdade e a dignidade das pessoas com deficiência. Somente assim poderemos construir um sistema de saúde verdadeiramente inclusivo e acessível para todos.

9 de setembro de 2024

REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA SAÚDE EM RODA DE CONVERSA DO PROFSAUDE


A roda de conversa com os mestrandos do ProfSaúde, realizada no primeiro encontro presencial da disciplina Educação na Saúde com a turma 5, proporcionou um momento de reflexão sobre o processo de aprendizagem, alinhado ao objetivo de conhecer as metodologias do programa. Nesse encontro, os mestrandos compartilharam narrativas sobre suas experiências de formação, destacando aspectos que facilitaram ou dificultaram o aprendizado, seguidas por uma exposição dialogada sobre tendências pedagógicas.

Inicialmente, algumas narrativas revelaram percepções sobre professores mais inovadores, embora nem sempre o conteúdo estivesse relacionado diretamente ao aprendizado, com relatos de docentes que misturavam questões pessoais e referências midiáticas. Uma das narrativas chamou atenção para o conceito de "disciplina tamborete", referindo-se a experiências insatisfatórias com a estrutura pedagógica. Na gíria dos alunos, a expressão "disciplina tamborete" se refere a uma matéria ou disciplina que tem poucos créditos, sendo considerada "menor" em termos de carga horária ou importância no currículo acadêmico. Geralmente, esse termo é usado de maneira descontraída ou pejorativa para disciplinas que, embora obrigatórias, são vistas como menos relevantes ou que exigem menos esforço dos estudantes em comparação com outras matérias mais extensas ou complexas. A ideia do "tamborete" remete a algo pequeno e simplório, assim como essas disciplinas são vistas pelos alunos no contexto universitário.

Outra narrativa abordou a frustração com a formação tradicional, em contraste com a capilaridade maior de oportunidades educacionais em cidades como João Pessoa, em comparação a localidades menores como Cajazeiras. Nessa reflexão, foram trazidos exemplos de integração ensino-serviço e o impacto de professores inspiradores na formação dos mestrandos, principalmente ao promoverem dinâmicas problematizadoras e o reconhecimento dos determinantes sociais da saúde.

As narrativas também destacaram a experiência em programas de residência multiprofissional, como um divisor de águas na formação, especialmente ao promover um cuidado compartilhado entre profissionais de diferentes áreas da saúde. A comparação entre o ensino privado e o público foi trazida à tona, com uma mestranda observando a prevalência de um ensino mais tecnicista nas instituições privadas, enquanto as universidades públicas, como a UFPB, estavam aos poucos incorporando mudanças, apesar da resistência de docentes tradicionais.

Outro ponto central nas discussões foi o papel do médico como coordenador do cuidado nas equipes de saúde, gerando debate sobre a hierarquia nas redes de atenção à saúde. Alguns mestrandos defenderam que o médico não precisa ser necessariamente o coordenador, enquanto outros reforçaram a importância de uma coordenação longitudinal do cuidado, especialmente em contextos de atendimento de urgência e internação hospitalar.


Sistematização da Roda de Conversa

As narrativas compartilhadas pelos mestrandos evidenciam uma pluralidade de experiências que refletem tanto a diversidade das trajetórias educacionais quanto a complexidade das interações entre diferentes atores no processo de ensino-aprendizagem. Há uma tensão evidente entre métodos pedagógicos tradicionais e inovações propostas por docentes mais progressistas, o que muitas vezes provoca resistências ou mal-entendidos por parte dos profissionais envolvidos.

Os relatos sugerem que a transição para metodologias mais ativas e integradas ainda enfrenta barreiras, especialmente em instituições e equipes onde o ensino bancário e centrado no professor continua predominante. Contudo, observam-se sinais de mudança, particularmente quando há maior envolvimento dos alunos no processo de problematização e na construção de soluções práticas para os desafios do sistema de saúde.

A roda de conversa também destacou a importância da integração entre ensino e serviço, com ênfase nas práticas de cuidado compartilhado e nas experiências que promovem uma visão mais ampla e humanizada da assistência à saúde. A partir dessas experiências, fica evidente o potencial transformador das residências multiprofissionais, que promovem um aprendizado mais colaborativo e centrado nas necessidades do paciente.

Por fim, a discussão sobre o papel do médico na coordenação do cuidado reflete um desafio contemporâneo nas práticas de saúde: a necessidade de equilibrar as hierarquias profissionais com uma abordagem mais horizontal e integrada, onde todos os membros da equipe contribuem de maneira significativa para o cuidado dos pacientes. As narrativas revelam que, embora ainda haja resistência à mudança, o movimento em direção a práticas mais colaborativas está ganhando força, impulsionado pela demanda por uma atenção à saúde mais inclusiva e equitativa.

Assim, as narrativas dos mestrandos do PROFSAUDE revelam um cenário rico e complexo de aprendizagem, onde diferentes teorias podem ser aplicadas para entender melhor os processos e desafios envolvidos. A transição para metodologias mais ativas e integradas, a importância da integração entre ensino e serviço, e a promoção de práticas colaborativas são elementos que destacam o potencial transformador dessas experiências educacionais.

A construção de narrativas como metodologia de aprendizagem é uma abordagem versátil e eficaz que pode transformar a maneira como os alunos interagem com o conteúdo, tornando a educação uma experiência mais rica e envolvente.

As narrativas de vivências de aprendizagem dos mestrandos do PROFSAUDE na disciplina de Educação na Saúde podem ser analisadas e interpretadas à luz de várias teorias de aprendizagem, como as seguintes: 

1. Teoria Sociocultural de Vygotsky

A teoria sociocultural de Vygotsky enfatiza a importância das interações sociais e culturais no desenvolvimento cognitivo. No texto, a diversidade das trajetórias educacionais e a complexidade das interações entre diferentes atores no processo de ensino-aprendizagem refletem essa perspectiva. A tensão entre métodos pedagógicos tradicionais e inovações propostas por docentes mais progressistas pode ser vista como um conflito entre diferentes zonas de desenvolvimento proximal, onde os alunos e professores estão em diferentes estágios de compreensão e adaptação às novas metodologias1.

2. Aprendizagem Experiencial de Kolb

A teoria da aprendizagem experiencial de Kolb sugere que a aprendizagem é um processo cíclico que envolve a experiência concreta, a observação reflexiva, a conceitualização abstrata e a experimentação ativa. As narrativas dos mestrandos, que destacam a transição para metodologias mais ativas e integradas, exemplificam esse ciclo. A maior participação dos alunos na problematização e na construção de soluções práticas para os desafios do sistema de saúde é um exemplo claro de aprendizagem experiencial.

3. Teoria da Aprendizagem Transformadora de Mezirow

A teoria da aprendizagem transformadora de Mezirow foca na mudança de perspectivas através da reflexão crítica. As experiências compartilhadas pelos mestrandos, especialmente aquelas que promovem uma visão mais ampla e humanizada da assistência à saúde, podem ser vistas como catalisadores para a transformação pessoal e profissional. A integração entre ensino e serviço e as práticas de cuidado compartilhado são elementos que facilitam essa transformação, permitindo que os alunos reavaliem e modifiquem suas crenças e atitudes.

4. Teoria da Aprendizagem Colaborativa

A aprendizagem colaborativa enfatiza o papel do trabalho em grupo e da construção conjunta do conhecimento. As residências multiprofissionais mencionadas no texto promovem um aprendizado mais colaborativo e centrado nas necessidades do paciente, alinhando-se com essa teoria. A discussão sobre o papel do médico na coordenação do cuidado e a necessidade de uma abordagem mais horizontal e integrada refletem os princípios da aprendizagem colaborativa, onde todos os membros da equipe contribuem de maneira significativa para o cuidado dos pacientes.

As narrativas dos mestrandos revelam um panorama rico e multifacetado das experiências de aprendizagem na área da saúde. A diversidade das trajetórias educacionais e a complexidade das interações entre diferentes atores no processo de ensino-aprendizagem refletem a necessidade de abordagens pedagógicas que considerem essas variáveis. Sistematizando em categorias temáticas a roda de conversa e as narrativas dos mestrandos, pode-se levantar as seguintes:

(1)Tensão entre Métodos Tradicionais e Inovadores: A coexistência de métodos pedagógicos tradicionais e inovações propostas por docentes progressistas evidencia a necessidade de um equilíbrio. A resistência e os mal-entendidos são desafios que precisam ser abordados com sensibilidade e abertura ao diálogo.

(2) Transição para Metodologias Ativas: A transição para metodologias mais ativas e integradas enfrenta barreiras, mas também apresenta sinais de mudança positiva. O envolvimento dos alunos na problematização e na construção de soluções práticas é um passo crucial para a transformação do ensino na saúde.

(3) Integração entre Ensino e Serviço: A integração entre ensino e serviço é fundamental para promover uma visão mais ampla e humanizada da assistência à saúde. As práticas de cuidado compartilhado e as experiências colaborativas são essenciais para a formação de profissionais mais preparados e conscientes das necessidades dos pacientes.

(4) Aprendizagem Colaborativa: As residências multiprofissionais destacam o potencial transformador da aprendizagem colaborativa. A discussão sobre o papel do médico na coordenação do cuidado reflete a necessidade de uma abordagem mais horizontal e integrada, onde todos os membros da equipe contribuem de maneira significativa.

(5) Movimento em Direção a Práticas Colaborativas: Apesar das resistências, há um movimento crescente em direção a práticas mais colaborativas e inclusivas. A demanda por uma atenção à saúde mais equitativa e centrada no paciente impulsiona essa mudança, que é essencial para a evolução das práticas de saúde.


Considerações Finais

As narrativas dos mestrandos do PROFSAUDE oferecem insights valiosos sobre os desafios e as oportunidades no campo da educação em saúde. A reflexão crítica sobre essas experiências pode guiar futuras iniciativas pedagógicas, promovendo um ambiente de aprendizagem mais dinâmico, inclusivo e eficaz. A transformação do ensino na saúde depende do compromisso contínuo com a inovação, a colaboração e a humanização das práticas de cuidado.

21 de agosto de 2024

RACISMO NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE: SEMINÁRIO COM A TURMA 117 MED/UFPB

 

Memória do II seminário da disciplina de Diversidade Étnica e Cultural na Medicina no semestre 2024.1, com a turma 17/Medicina/UFPB, com o tema "Racismo na Atenção à Saúde"

1. Exposição

A apresentação foi iniciada por Felipe, que explorou os conceitos de raça, racismo, discriminação e estereótipos.

Em seguida, Edvaldo apresentou dados estatísticos e aspectos legais relacionados ao racismo, destacando a identidade social, o sofrimento racial, e a associação frequente entre grupos étnicos e criminalidade. Ele mencionou ainda o Estatuto da Igualdade Racial e a Lei nº 14.532, de 2003, que agrava a penalidade para injúria racial.

Samuel prosseguiu, discutindo o impacto do racismo institucional na saúde da população negra. Ele relembrou a trajetória de Vivien Thomas, pioneiro da cirurgia cardíaca, cuja história inspirou um filme que evidencia como a medicina teria progredido mais se ele tivesse tido a oportunidade de concluir seu curso. Samuel também abordou as questões de racismo e oportunidades na carreira médica. 

Ramon, em sua exposição, tratou dos acidentes e incidentes relacionados à iniquidade na assistência à população negra. Ele observou que tais desigualdades nem sempre resultam de racismo intencional, mas são fruto do racismo estrutural, muitas vezes inconsciente. Ele ainda mencionou que a literatura e os estudos empíricos, assim como o senso comum, apontam que se acredita que a mulher negra necessita de menos anestesia durante a episiotomia, uma percepção decorrente do racismo científico. Ramon enfatizou que essa prática não significa que os médicos sejam racistas de forma explícita. 

Por fim, Guilherme propôs soluções, como a reformulação do currículo do curso de medicina, e comentou que a implementação da lei de cotas raciais tem, paradoxalmente, promovido menor diversidade racial em diversos cursos universitários, incluindo o de medicina.

Para concluir o seminário, Marcos, que não pôde comparecer presencialmente, enviou um vídeo aplicando um questionário via Google Forms, onde os participantes responderam a um quiz sobre o conteúdo apresentado pelos colegas.


2. Discussão

A discussão iniciou-se com várias inscrições de alunos da turma, começando por Flávia. Ela destacou a relevância dos casos clínicos como uma forma importante de aprendizado sobre questões de diversidade, especialmente sobre o racismo na atenção à saúde. Flávia também observou que há uma crescente discussão sobre o racismo entre os estudantes de medicina atualmente. Em seguida, Heloísa comentou que nunca havia percebido como os casos clínicos podem ajudar a refletir sobre essas questões. Letícia F. acrescentou que, além de não ser racista, é essencial adotar uma postura antirracista. Já Letícia M. elogiou a apresentação do grupo, afirmando que ela foi além do conhecimento pré-existente e ressaltou as perspectivas apresentadas para combater o racismo no contexto da saúde.

Emanuel abordou a política afirmativa de cotas nas seleções de estudantes para universidades, sugerindo que a lei deveria ser revisada em alguns aspectos. Em resposta, Edvaldo, membro do grupo, comentou que, mesmo após 14 anos da implementação das cotas, apenas 3% dos médicos são negros, levantando uma questão retórica sobre possíveis falhas no sistema.

Ruth elogiou a apresentação e fez uma distinção entre racismo interpessoal e racismo institucional. Ela destacou que as instituições refletem a base racista da sociedade, associando-se a diversos tipos de preconceito. Sadrack, por sua vez, criticou a falta de ação concreta de muitos governos no combate ao racismo, apesar dos discursos. Ele defendeu a importância das cotas e sublinhou que essas políticas garantem oportunidades às pessoas negras, que são direito delas. Sadrack também enfatizou que, além do ingresso na universidade, é crucial assegurar a permanência dos estudantes cotistas. Por fim, ele mencionou o livro “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, como uma obra relevante que auxilia na compreensão dessas questões.

Dando continuidade à memória desse seminário sobre Racismo na Assistência à Saúde, Francisco destacou que há uma percepção e um discurso recorrente que posicionam a pessoa negra sempre como paciente, e não como integrante da equipe de trabalho. Ele sugeriu que a convivência com pessoas negras fora do ambiente acadêmico pode ajudar a reduzir preconceitos e discriminações, uma ideia que também se aplica a outros grupos minoritários socialmente. Francisco declarou que o relacionamento com pessoas fora da academia, especialmente aquelas com identidades diversas, têm um impacto positivo no combate ao racismo.

Rômulo trouxe um relato pessoal para ilustrar a complexidade do racismo. Ele contou a história de um amigo pardo, filho de uma mulher negra, que foi separado da mãe em um aeroporto devido à suspeita de sequestro, apenas porque a mãe tinha a pele mais escura que a dele. Esse episódio, segundo Rômulo, demonstra como o racismo afeta não só a pessoa diretamente visada, mas também seus familiares. Edvaldo abordou a questão da sub-representação racial em relação à moradia. Ele observou que os bairros mais nobres são habitados quase exclusivamente por brancos, enquanto as periferias são majoritariamente negras. Esse cenário reflete-se também na medicina, uma área ainda predominantemente ocupada por pessoas brancas, reforçando o caráter elitizado do curso de medicina.

Ruth retomou a discussão ao apontar que, historicamente, a narrativa sobre os negros tem sido controlada por pessoas brancas, o que pode introduzir vieses, pois a perspectiva branca é diferente. Ela mencionou a autora Chimamanda Ngozi Adichie, que popularizou a expressão "o perigo de uma única história". Ela argumentou que limitar-se a uma única narrativa sobre um povo ou uma cultura cria estereótipos e desumaniza as pessoas. Adichie defende a multiplicidade de vozes e histórias como forma de representar com mais precisão a complexidade das vidas humanas. Ruth ressaltou a importância de trazer o protagonismo negro para dentro da universidade e na história contada, garantindo que os negros possam contar suas próprias visões.

Rebeca destacou ainda a importância da representatividade negra na escola e na universidade, ressaltando como a presença de vozes e histórias negras é essencial nesses espaços. Além disso, ela abordou o tema das guerras no contexto atual, observando que os conflitos na África recebem pouca cobertura midiática em comparação com outras guerras ao redor do mundo. Rebeca também lembrou que existiram outros holocaustos além do que mais conhecemos, mencionando, por exemplo, o extermínio dos aborígenes na Austrália. Em um relato pessoal, Rebeca compartilhou a experiência de pertencer a duas famílias muito diferentes entre si, refletindo sobre a complexidade de lidar com pessoas de outras gerações, como os avós, que muitas vezes têm uma visão diferente e, por vezes, carregada de preconceitos e discriminação em relação a grupos identitários, como os negros. Ela destacou a dificuldade de dialogar ou tentar apresentar uma nova perspectiva, mais aberta, sobre o mundo para essas pessoas. Rebeca ainda relatou eventos de racismo cultural, em que se distinguem os cabelos das mulheres negras como “ruins”, na visão generalizada na sociedade brasileira de que o ideário hegemônico de aparência desejável e de beleza física é o modelo europeu, branco e com cabelos lisos. Rebeca também considerou fundamental que a história africana fosse incluída nas demais disciplinas do curso de Medicina, ampliando assim a compreensão dos futuros profissionais sobre a diversidade cultural. Complementando o que foi dito por Rebeca, Felipe lembrou do quadro "A Redenção de Cam", de Modesto Brocos, que retrata uma avó negra celebrando o nascimento de uma criança branca em uma família mestiça, trazendo à tona questões sobre identidade e raça.

Jallysson, por sua vez, mencionou ser parte de uma família interracial e compartilhou uma experiência pessoal, onde seu sobrinho, de pele clara, enfrenta questionamentos na escola sobre as diferenças entre sua cor e a do pai, que é pardo. Essa situação ilustra a necessidade de entendimento e aceitação das diferenças dentro do próprio núcleo familiar. Ronielle comentou que os debates sobre racismo muitas vezes permanecem superficiais, sem abordar as raízes profundas que sustentam o preconceito e a discriminação em nossa sociedade, fatores que impactam diretamente a prática de assistência à saúde. Ele destacou que o próprio governo brasileiro implementou uma política de embranquecimento e que muitas nações africanas foram escravizadas, com pessoas da nobreza, incluindo príncipes e reis, sendo sequestradas. Além disso, Ronielle observou que a cultura negra é frequentemente demonizada, reforçando a negação de nossa origem africana, como exemplificado pelo embranquecimento de figuras históricas. Ele mencionou, por exemplo, que Jesus, apesar de ser do reino da Judeia, no antigo Israel, provavelmente tinha a pele escura devido à sua ascendência egípcia. Também lembrou que Cleópatra, rainha do Egito, era uma mulher negra, destacando que o Egito está localizado na África, o que ilustra também as raízes do racismo estrutural. Ronielle também ressaltou que o movimento negro dos anos 1960, com sua luta por direitos e igualdade, foi uma busca por reparação histórica. Ele explicou que, após a abolição da escravatura, os negros libertos foram deixados sem recursos ou bens, o que levou à formação das favelas nos morros, onde muitos antigos quilombolas passaram a residir. Mesmo diante de políticas afirmativas, Ronielle mencionou que há pessoas negras e pardas que se opõem às cotas, ignorando o fato de que essas políticas são uma forma de reparação histórica. Ele destacou também o mito da democracia racial no Brasil e a importância das cotas, argumentando que, se a meritocracia fosse o único critério, o elitismo nos cursos de medicina se perpetuariam, já que, historicamente, os médicos eram oriundos de famílias ricas. Ronielle concluiu afirmando que a participação dos brancos é crucial no engajamento na luta antirracista.

Por fim, João Guilherme acrescentou que, embora se fale muito sobre racismo, o protagonismo negro ainda é escasso nas principais instâncias de estruturação da sociedade, destacando-se, contudo, nos esportes. Ele apontou que o racismo se manifesta também na percepção de que os negros se destacam predominantemente na sociedade como atletas, pelo desenvolvimento da força física, reduzindo suas capacidades intelectuais e reforçando estereótipos racistas.

As participações por escrito iniciaram com a contribuição de Lívia. Ela destacou que o problema do racismo institucional e interpessoal persiste em grande parte devido à complacência de profissionais que, embora não se considerem racistas, também não se empenham em ser antirracistas. Dessa forma, a impunidade relacionada a esse crime vai além da esfera jurídica, permeando também a esfera pessoal e o ambiente de trabalho. Se um comentário ou comportamento racista provoca uma reação de correção e reprovação generalizada e pública, frequentemente o autor não é responsabilizado por suas ações. Ela lembrou que o livro "Pequeno Manual Antirracista" aborda esse tema de forma eficaz e pode servir como um aprendizado valioso para futuros profissionais de saúde.

Em seguida, Emilly comentou que o racismo está enraizado no Brasil, sendo perceptível no dia a dia e afetando diretamente a assistência à saúde. Tanto os usuários quanto os profissionais de saúde sofrem com preconceito cotidianamente. Exemplos comuns incluem médicos negros que enfrentam discriminação devido à cor da pele, como quando são confundidos com enfermeiros—ainda que não haja demérito na enfermagem , o racismo estrutural se manifesta na ideia de que uma pessoa negra não pode ser médica, considerando que se trata de um curso historicamente elitizado. Além disso, Emilly comentou que há casos recorrentes de fraudes em universidades públicas no que diz respeito às cotas raciais. Esse ponto foi aprofundado pelo colega de turma Edvaldo, em sua apresentação, quando observou que, apesar da lei de cotas existir há 14 anos, a quantidade de estudantes de medicina e médicos negros ainda é muito pequena em comparação ao que seria desejável. Ele também destacou que, embora disciplinas como diversidade étnica e cultural contribuam para a formação médica em questões raciais, a UFPB continua a presenciar atitudes racistas estruturais, como a negligência ou conivência em relação a fraudes nas cotas raciais, o que compromete o desenvolvimento acadêmico.

Fernanda, por sua vez, destacou a fala de Ramon sobre a situação das mulheres negras durante o pré-natal, que recebem menos orientações e são mais sujeitas à episiotomia. Ela compartilhou sua experiência de participação em uma pesquisa realizada no hospital universitário, onde revisou prontuários de mulheres que deram à luz no hospital, constatando que a grande maioria das mulheres pardas e negras sofreram episiotomia durante o parto, procedimento que estava registrado nos prontuários dessas mulheres de forma “escancarada”. A episiotomia é considerada uma forma de violência obstétrica.

Aoliabe comentou que o grupo apresentou bem sobre o grave problema do racismo em relação às políticas de saúde e também na educação. Sob essa ótica, ele comentou que uma ação muito bem implementada para tentar reparar as perdas históricas e aumentar a quantidade de estudantes negros, tanto em medicina quanto em outros cursos de graduação, faria política de cotas sociais. "Com uma política, já vemos a quantidade de médicos negros no Brasil aumentar e, com isso, também aumenta a qualidade de vida na população negra no Brasil. Além disso, cabe também ao governo implementar mais formas de avaliação mais severas para crimes de injúria racial", disse ele.

Isa escreveu que, inicialmente, em a frase, "não basta não ser racista, é preciso ser antirracista", reflete a ideia de que simplesmente não praticar o racismo não é suficiente; é necessário agir ativamente contra o racismo para promover a justiça social e combater a discriminação racial. Ela comentou ainda que essa frase apresentada durante a exposição do seminário lhe marcou, já que esse pensamento deve ser usado tanto na vida privada quanto na vida profissional. "O grupo apresentou o tema trazendo pontos fora do senso comum e estimularam a nossa autocrítica de uma forma muito didática", disse Isa.

Hugo comentou que gostou da fala da colega Ruth durante a discussão em sala de aula, quando ela abordou o viés trazido na construção dos processos históricos, a qual é feita por pessoas brancas e isso agrava o cenário de desigualdade racial. 

Danilo comentou sobre o racismo na medicina e no racismo em geral. Ele recomendou o documentário "Good Intentions", criado por Walter Williams, um economista e comentarista social, que critica várias políticas governamentais, especialmente aquelas relacionadas à guerra contra a pobreza. Williams argumenta que essas iniciativas, embora bem-intencionadas, muitas vezes tiveram efeitos adversos nas comunidades que deveriam ajudar, especialmente a comunidade afro-americana, mostrando uma perspectiva diferente sobre como a sociedade, ao tentar resolver problemas com boas intenções, acaba muitas vezes piorando os problemas, visto que não se procura saber o que essa mesma população verdadeiramente precisa sem dar voz às pessoas que estão vivenciando as desigualdades.

A participação de Isadora foi a seguinte: ela considerou que o racismo pode se encontrar de forma muito velada na universidade, nas falas e nos pequenos atos, e ela acha que é por tentativas de erradicar e reprimir o racismo completamente que muitas vezes as pessoas pardas são invisibilizadas. "Temos olhos de embranquecimento da população, e em algumas falas os meninos discutiram sobre como na nossa sala não havia pessoas negras, mas isso também acaba reprimindo pessoas presentes na sala de aula, por se considerarem pardas", opinou.

Luísa comentou uma denúncia de um caso recente de racismo dentro de uma unidade de terapia intensiva de um hospital privado da zona sul de São Paulo, o que chama a atenção para a urgência de letramento racial de profissionais de saúde e da criação de canais de acolhimento para as vítimas. Ao perguntar sobre sua alta ao médico, uma paciente negra ouviu deste que iria deliberar com a equipe sobre a sua “carta de alforria”, deixando o local aos risos. A paciente foi agredida e saiu do hospital com a percepção de não ter recebido o cuidado adequado para o seu quadro clínico.

A contribuição de Mabel destacou a importância de promover campanhas educativas sobre o racismo e seus impactos na saúde, tanto para o público em geral quanto para os profissionais de saúde. Além disso, ela enfatizou a necessidade de incentivar a participação ativa das comunidades negras em fóruns de discussão sobre saúde, garantindo que suas vozes sejam ouvidas nas tomadas de decisão.

Maria Clara comentou que o seminário apresentado pelo grupo a fez refletir profundamente sobre o impacto do racismo na medicina, especialmente como ele compromete um dos direitos constitucionais mais fundamentais: o direito à saúde. Ela enfatizou a importância de discutir a diversidade ainda na graduação nos cursos da saúde. Gabrielle destacou o valor de a UFPB ter incluído essa disciplina no currículo de garduação em medicina, permitindo que questões raciais, especialmente o racismo, sejam abordadas. Ela ressaltou que ampliar a compreensão sobre essa questão é essencial para garantir um cuidado integral ao paciente. Ela referiu que os dados apresentados por Edvaldo, revelando que apenas 3% dos médicos se autodeclaram pretos, enquanto 88% da população carcerária é preta, foram alarmantes,e tais números evidenciam como o racismo impede a integração justa e eficiente dessa população na sociedade. Gabrielle ainda declarou que o ambiente da sala foi acolhedor, permitindo que os colegas compartilhassem suas vivências na luta contra o racismo. Ana Luíza escreveu que achou o seminário sobre racismo na assistência médica extremamente relevante para a formação dos futuros médicos, já que eles irão atender uma grande parcela de pacientes negros e pardos. Ela destacou a importância de entender o papel do médico na promoção da igualdade na atenção à saúde. Ana Luíza destacou que o grupo que apresentou o seminário chamou sua atenção ao abordar a importância da discussão de casos clínicos, uma ferramenta essencial para inserir o médico nesse universo da diversidade. Felizardo mencionou que, durante a apresentação, o que mais o impactou foi a reflexão sobre o racismo como um obstáculo ao cuidado integral da pessoa. Ele destacou que, com o cuidado técnico, se os processos sociais e étnico-raciais não forem considerados, o cuidado não será completo. Nesse sentido, ele ressaltou que é fundamental não apenas abordar a questão racial, mas também considerar o contexto sociocultural como ferramenta para mitigar os efeitos do racismo na saúde.

Júlia destacou a teoria do sociólogo francês Pierre Bourdieu, que define a violência simbólica como uma forma sutil de dominação e exclusão, capaz de incutir nos indivíduos conceitos e regras que os mantêm na condição de dominados. Ela considerou que o grupo abordou com competência essa violência simbólica, discutindo preconceitos, estereótipos e estatísticas relevantes sobre a saúde da população negra. Ela também considerou importante salientar a falta de representatividade étnico-racial na literatura médica, especialmente porque a cor da pele pode influenciar a manifestação de certas doenças dermatológicas. "Quando a literatura não inclui imagens de quadros dermatológicos com imagens de pessoas com diferentes tons de pele, o tratamento oferecido à população negra é comprometido", concluiu Júlia.

Emilly comentou que um ponto crucial abordado durante o seminário foi a importância de ser antirracista, combatendo ativamente pensamentos e atitudes racistas no dia a dia. J. V. Estrela observou que o racismo tem sido historicamente associado à cor da pele, desde a época da escravatura. Ele citou grandes ícones do esporte e da luta pelos direitos civis, como Jesse Owens, que em 1936, em Berlim, venceu medalhas de ouro olímpicas em pleno regime nazista, além de figuras como Malcolm X e Martin Luther King, que lutaram pela causa antirracista globalmente. No Brasil, ele mencionou pensadores como Florestan Fernandes, além de atletas como Leônidas da Silva, o "Diamante Negro". Na atualidade, ele destacou o jogador Vinícius Júnior, do Real Madrid e da seleção brasileira, como um importante porta-voz na luta antirracista. Na área da saúde, João Victor enfatizou a importância da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra para promover a integralidade do cuidado. Ele defendeu a necessidade de discutir casos clínicos relacionados ao tema e de transformar a maneira como a integralidade do cuidado é abordada, combatendo tanto o racismo institucional quanto o interpessoal.

Caio sugeriu, no contexto do racismo na medicina, a recomendação do filme autobiográfico "Mãos Talentosas", que narra a trajetória do neurocirurgião Ben Carson, destacando as várias fases de sua vida e as barreiras que enfrentou por ser uma pessoa negra. O filme ilustra não apenas sua pioneira carreira na neurocirurgia pediátrica, mas também a disparidade entre o número de médicos brancos e negros, e a relevância de sua figura tanto na medicina quanto na política, onde chegou a concorrer à presidência dos Estados Unidos.

J. V. Ramos destacou que a discussão sobre o racismo na medicina foi bem introduzida pelos médicos, provocando uma reflexão crítica em diversas frentes. É essencial que os profissionais de saúde reconheçam seus próprios preconceitos e se empenhem em erradicá-los em suas práticas, incluindo a discriminação. A formação médica deve incorporar uma educação que aborde a diversidade cultural, o racismo e suas consequências para a saúde dos pacientes. "Além disso, é crucial promover uma prática inclusiva que abranja uma variedade de grupos sociais e étnicos, assegurando que todos os pacientes recebam o melhor atendimento e tratamento possível", disse Ramos, que ainda destacou que iniciativas para aumentar a diversidade nas profissões de saúde são igualmente fundamentais para garantir uma representação mais equitativa. Ele disse ainda que essas reflexões e ações são urgentes e necessárias para que o sistema de saúde se torne mais justo e igualitário. "O combate ao racismo na medicina é um passo crucial para garantir que todos os indivíduos, independentemente de sua origem racial ou étnica, tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade", finalizou.

Carlos elaborou um mapa conceitual, incluindo no centro do gráfico a expressão "estatísticas reveladoras", que conecta à sub-representação nas universidades, à sub-representação em cargos de maior remuneração e à sub-representação em cargos de liderança. No centro de um outro diagrama, ele colocou o termo "currículo universitário", ligando-o a um "currículo eurocêntrico," "perpetuador de desigualdades" e "falta de representação histórica dos povos indígenas e afrodescendentes." Outro diagrama apresenta a palavra "legislação" no centro, com setas para "igualdade de oportunidades," "combate à discriminação" e "somente leis não são suficientes." Carlos enfatizou que é fundamental que universidades, empresas e instituições públicas se comprometam com a diversidade e inclusão por meio de ações afirmativas, educação antirracista e interseccionalidade entre raça, gênero, classe social e outras identidades.

José Nathanael mencionou o estudo da sífilis em Tuskegee (1932-1972), realizado no Alabama, EUA, com participantes negros, que não receberam o sem tratamento adequado, que já existiu a partir da década de 1940, para avaliar a evolução natural da doença. Ele comentou que o referido estudo apresentou vários problemas bioéticos, como a falta de informação aos participantes sobre sua condição de saúde e a negação do tratamento com penicilina, evidenciando o desrespeito à autonomia e bem-estar dos negros, mesmo na saúde e na pesquisa científica.

Karolina parabenizou o grupo pela apresentação dinâmica de rica e abordou o racismo estrutural no Brasil, que afeta vários aspectos da vida. Ela criticou o discurso de meritocracia, que ignora as iniquidades, ressaltando que os dados do seminário, mostrando que apenas 3% dos médicos se autodeclaram negros, são alarmantes. É necessário refletir e mudar esses discursos prevalentes para promover maior representatividade. Ela salientou que a política de saúde do Brasil prevê cuidado universal, e é fundamental que futuros médicos garantam esse cuidado integral a todos, independentemente de sua cultura ou cor de pele.

Finalmente, Maria Eduarda destacou a discussão sobre o racismo institucional, que muitas vezes é associado a ofensas explícitas. Ela enfatizou a importância de uma postura ativa de combate ao racismo e a compreensão integral do paciente para promover o melhor cuidado possível. Maria Eduarda também elogiou a inclusão de dados estatísticos pelo que apresentou o tema para validar suas perspectivas e expressou sua surpresa com o fato de que apenas 3% dos médicos são negros. Ela concluiu que a base estrutural do racismo perpetua as desigualdades socioeconômicas e que é crucial discutir e buscar soluções para mudar essa realidade continuamente.


3. Comentários da Moderadora

Para concluir, farei alguns comentários finais que, em virtude da exiguidade do tempo da aula presencial, não foi possível compartilhar. Quero destacar o fato de um dos participantes expressar preferência por participar da discussão posta por escrito, devido ao receio de cometer um erro ao falar oralmente, o que poderia ser mal interpretado. Ele pode haver temido que suas palavras fossem mal interpretadas ou que ele fizesse uma declaração considerada ofensiva ou insensível. Ele se sentiu mais confortável formulando suas ideias de forma escrita, onde poderia revisar e refinar suas palavras antes de compartilhar. A escolha de participar por escrito pode também mostrar uma conscientização e sensibilidade em relação ao tema do racismo, ao reconhecer a complexidade e a delicadeza do assunto e preferir uma abordagem que permitisse uma reflexão mais cuidadosa. Contudo, essa estratégia de aprendizagem no formato escrito pode ser mais eficaz para organizar e comunicar pensamentos complexos. Ao escrever, há uma expressão mais clara e precisa das suas ideias. Esse comportamento sugere a necessidade de criar um ambiente seguro e acolhedor nas discussões sobre temas sensíveis, onde os estudantes se sintam confortáveis para expressar suas opiniões sem medo de julgamento. Além disso, percebi que será interessante promover uma outra discussão sobre como abordar discussões difíceis com respeito e empatia, além de incentivar uma comunicação aberta e construtiva.

A frase “em uma sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista” foi mencionada por vários participantes durante o seminário, tanto na parte expositiva quanto na fase de discussão oral e escrita. Tra-se de uma citação icônica, frequentemente atribuída a Angela Davis, uma importante ativista e acadêmica americana, conhecida por seu trabalho em direitos civis e feminismo negro.

O antirracismo é o processo ativo de identificação e eliminação do racismo por meio da mudança de sistemas, estruturas organizacionais, políticas, práticas e atitudes, de modo que o poder seja distribuído e compartilhado de forma equitativa. São estratégias, teorias, ações e práticas que desafiam e combatem o racismo, as desigualdades, os preconceitos e a discriminação com base na raça.

Assim como no último encontro de nossa disciplina, observei uma participação ativa e engajada dos estudantes, refletindo um profundo interesse pelo tema discutido. O seminário foi marcado por contribuições significativas e um diálogo produtivo, que evidenciaram o comprometimento dos participantes com os objetivos do seminário.

Os participantes demonstraram capacidade de análise e empatia, trazendo à tona experiências e perspectivas pessoais que enriqueceram a discussão. A abordagem baseada em projetos permitiu uma exploração profunda dos impactos do racismo na atenção à saúde, e os alunos apresentaram propostas inovadoras para promover a inclusão e o apoio a pacientes de diferentes origens.

A participação ativa foi um ponto alto da atividade, com muitos integrantes da turma oferecendo insights valiosos e questionamentos desafiadores que estimularam uma discussão rica. A reflexão crítica sobre as questões levantadas mostrou um amadurecimento no entendimento do tema abordado e uma disposição para questionar e buscar soluções para problemas complexos.

O feedback dos participantes à exposição pelo grupo foi positivo, com muitos destacando a relevância do tema abordado. A exposição do grupo e as participações dos colegas no seminário evidenciaram um avanço significativo na compreensão e aplicação dos conceitos discutidos, e as contribuições de cada um foram valiosas para o desenvolvimento do seminário como um espaço de aprendizado e crescimento contínuo.

Combater a discriminação no sistema de saúde é fundamental para promover a igualdade e garantir que todos tenham acesso a cuidados adequados, como por exemplo, por meio se políticas públicas, educação, inclusão e representatividade. Como foi mencionado na fase de exposição, existe a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), que visa reduzir desigualdades, incentiva os gestores a investirem em ações para as populações mais vulneráveis, incluindo o tema do racismo na educação permanente e fomentar estudos e pesquisas. A educação é essencial. Campanhas de conscientização, grupos de discussão e programas de treinamento podem ajudar a combater preconceitos. Mas é essencial incluir representantes de diferentes grupos étnicos nas equipes de saúde. Isso ajuda a sensibilizar os profissionais e a melhorar a compreensão das necessidades específicas de cada comunidade. Acompanhar indicadores de saúde por raça e etnia é fundamental para identificar desigualdades e implementar medidas corretivas. A luta contra a discriminação é contínua e requer esforços conjuntos da sociedade, profissionais de saúde e gestores.

20 de agosto de 2024

TEMAS PARA SELEÇÃO DE ESTUDANTES PARA PROJETO DE PESQUISA 2024-2025 DO GESHME

 

Seleção de Bolsistas e Voluntário para o Projeto de Pesquisa "Autocuidado em Saúde de Graduandos de Enfermagem e Medicina em uma Universidade Federal: Abordagem Quanti-Qualitativa"


Temas

(1) Autocuidado em Saúde

- Conceito e importância do autocuidado

- Determinantes do autocuidado em contextos acadêmicos

- Impactos do autocuidado na saúde física e mental dos graduandos

(2) Contexto Acadêmico e Saúde dos Estudantes de Medicina e Enfermagem

- Estresse e fatores de risco associados ao ambiente universitário

- Impactos das demandas acadêmicas na saúde e no autocuidado

(2) Metodologias de Pesquisa em Saúde

- Fundamentos de pesquisas quantitativas: tipos de estudos, coleta e análise de dados

- Fundamentos de pesquisas qualitativas: tipos de estudos, técnicas de entrevista, análise de conteúdo 

- Integração de abordagens quanti-qualitativas: princípios e aplicação em estudos de saúde

(3) Análise de Dados em Pesquisas Quanti-Qualitativas

- Introdução à estatística descritiva e inferencial para dados quantitativos

- Análise temática e de conteúdo para dados qualitativos

- Triangulação de dados: combinação e interpretação de resultados quantitativos e qualitativos


As leituras recomendadas estão disponíveis no seguinte link: 

https://drive.google.com/drive/folders/1N3rDtyHsGDsfXn-8-6H4ke5VgIw_OT6R?usp=drive_link

17 de agosto de 2024

DIVERSIDADE E SAÚDE MENTAL: SEMINÁRIO COM A TURMA 117 MED/UFPB

 

Profa. Rilva Muñoz e Estudantes da Turma 117/CCM/UFPB

Na disciplina de Diversidade Étnica e Cultural na Medicina, com a turma 17 do curso de medicina da UFPB, realizamos um Círculo de Exposição e Discussão com o objetivo de explorar a importância da diversidade étnica e cultural na prática médica. Utilizando uma metodologia baseada em projetos, buscamos promover uma compreensão mais profunda e a valorização das diferenças culturais, identitárias e étnicas entre os pacientes, em toda a sua diversidade humana.
A atividade foi estruturada em grupos específicos, cada um focando em um aspecto distinto do tema diversidade e saúde mental. O projeto foi organizado em quatro partes principais, cada uma desempenhando um papel no aprofundamento do tema:
· Fundamentação teórica: Nesta fase, o grupo apresentou informações relevantes e expôs uma base teórica sobre a temática após pesquisa realizada previamente na literatura.
· Análise crítica: Com base na pesquisa realizada, o grupo apresentou reflexões sobre as barreiras e iniquidades enfrentadas por determinados grupos sociais ou por pessoas em fases específicas do ciclo vital, como climatério e velhice, assim como grupos excluídos socialmente vivendo nas periferias das grandes cidades, e ainda a respeito da saúde mental dos profissionais e estudantes da área da Saúde.
· Discussão: Após a exposição de suas descobertas e análises, seguindo-se uma discussão enriquecedora. A troca de ideias foi estimulada, permitindo que vários participantes contribuíssem com suas perspectivas, promovendo uma reflexão coletiva para integrar os conhecimentos e reflexões sobre a diversidade na medicina quanto à saúde mental.
· Referências: A última parte do projeto envolve a compilação das referências utilizadas na pesquisa, mas só serão entregus posteriormente, com o trabalho escrito.

Síntese do conteúdo apresentado pelo grupo 
  • Rebeca apresentou a introdução ao tema, mencionando sua importância e apresentou a população idosa como um grupo com grande suscetibilidade aos transtornos da saúde mental.
  • Ana Luiza iniciou com uma análise da saúde mental dos profissionais da área da saúde, destacando como este grupo enfrenta situações de estresse e pressão constantes, o que frequentemente resulta em altos níveis de sofrimento psíquico. Ela ressaltou a necessidade de intervenções voltadas para o bem-estar emocional desses profissionais.
  • Emanuel trouxe à discussão a saúde mental durante o climatério, um período caracterizado por mudanças hormonais significativas que impactam diretamente o bem-estar emocional das mulheres. Sua apresentação sublinhou a importância de estratégias de suporte psicológico e aconselhamento durante esta fase, para minimizar os efeitos negativos na saúde mental.
  • Júlia abordou a saúde mental das pessoas com deficiência, enfatizando a necessidade de empatia no tratamento desse grupo. Ela compartilhou vivências que ilustraram os desafios enfrentados durante a pandemia, quando o isolamento social exacerbou sentimentos de exclusão e ansiedade. Júlia também referenciou uma leitura pertinente que enriqueceu a discussão, trazendo à tona questões sobre acessibilidade e inclusão.
  • Ruth focou sua apresentação na saúde mental nas periferias, onde os aspectos sociais, econômicos e ideológicos desempenham um papel crucial na saúde mental dos moradores. Ela destacou a alta demanda por medicamentos de uso restrito e o uso abusivo destes medicamentos, refletindo sobre como a saúde mental é frequentemente banalizada nessas áreas de extrema pobreza. Ruth argumentou que a saúde mental deve ser tratada como uma questão de saúde pública, com políticas específicas para atender as necessidades dessas populações vulneráveis.
  • Flávia encerrou as apresentações compartilhando os resultados da aplicação de um questionário de autopreenchimento sobre sinais e sintomas de sofrimento psíquico, respondido por 29 dos 35 presentes. Com um ponto de corte estabelecido em sete, Flávia propôs uma segunda dinâmica, um bingo sobre saúde mental, que visou engajar os participantes de maneira lúdica, promovendo a reflexão sobre os sinais e sintomas de sofrimento psicológico. Entre os 29 respondentes, a média de pontuação ficou abaixo do ponto de corte do questionário aplicado.

Discussão
A exposição foi seguida de uma rica discussão, em que os participantes expressaram suas impressões e reflexões sobre os temas abordados.
· Isa considerou que a apresentação foi leve e didática, afirmando que não sentiu falta de nenhum conteúdo relevante dentro da temática.
· Felipe concordou com Isa e lembrou que pessoas dentro do espectro autista são consideradas pessoas com deficiência por lei.
· Isadora mencionou que o grupo abordou bem o tema do estigma relacionado à saúde mental.
· Felizardo destacou que o tema é amplo e sugeriu que fosse adicionada a discussão sobre a saúde mental dos cuidadores, especialmente em relação à síndrome de Burnout.
· Letícia Araújo considerou que o poder público ainda não oferece suporte psicológico adequado na atenção básica em saúde, destacando a necessidade de mudanças no sistema.
· Rômulo mencionou a abrangência do tema e ressaltou a importância da apresentação sobre a saúde mental nas periferias.
· Sadrak falou sobre o fato de que os problemas de saúde mental não são exclusivos das classes mais favorecidas e enfatizou a apresentação de Ruth, relatando sua vivência na comunidade do Rangel, onde medicamentos foram roubados de uma unidade básica de saúde para serem trocados por alimentos.
· Edvaldo abordou a saúde mental dos estudantes de medicina, que enfrentam expectativas elevadas, pressão familiar e a necessidade de se manterem fortes, corroborando o que Sadraque havia dito.
· Jallyson elogiou a maneira como a equipe trouxe a temática à tona, enquanto Flávio questionou sobre o tempo e os recursos disponíveis para cuidar da saúde mental, mencionando que faltas não são abonadas.
· Mabel ressaltou a forma lúdica com que um tema pesado foi tratado, mencionando o estigma associado aos medicamentos de tarja preta e ao termo "doido".
· João Guilherme destacou que o cuidado com a saúde mental vai além da psicoterapia.
· Maria Eduarda afirmou que gostou da dinâmica utilizada na apresentação e da introdução do tema sobre o climatério.

Os alunos que preferiram se expressar por escrito e/ou que não tiveram tempo de se inscrever para falar, entregaram anotações para contribuir com discussão e para registrar sua colaboração para obtenção do ponto para a nota de participação. Houve um consenso sobre a importância de reconhecer e tratar a saúde mental como uma dimensão essencial na prática médica, especialmente em contextos de diversidade cultural e étnica. As dinâmicas interativas foram elogiadas por seu papel em envolver a turma e facilitar a compreensão dos temas apresentados.
Algumas das participações escritas foram as seguintes: Ramon comentou que alguns aspectos ficaram de fora da apresentação, possivelmente devido à complexidade do tema. Ele destacou que a questão do propósito de vida dos idosos poderia ter sido abordada, pois ignorar essa dimensão pode levar à exclusão dos idosos das discussões sobre saúde mental. Ele enfatizou a importância de incluir os idosos em conversas, projetos, e decisões familiares para que eles se sintam mais integrados e ouvidos. Maria Heloisa elogiou o grupo pela abrangência do tema abordado. Ela destacou que, por ser um assunto extenso, o grupo conseguiu trazer uma variedade de tópicos relevantes. Um ponto que chamou sua atenção foi a dificuldade dos idosos em lidar com perdas em massa, como a morte de vários familiares e amigos, o que contribui para um sentimento crescente de solidão. Além disso, ela ressaltou a perda de autonomia, que ocorre quando os idosos não conseguem mais realizar atividades que antes faziam sozinhos, afetando significativamente sua saúde mental. Maria Heloisa também mencionou a relevância da consideração da saúde mental dos cuidadores, que havia sido mencionada antes durante a aula. Por fim, ela considerou a apresentação excelente, destacando a variedade de temas e as dinâmicas interativas utilizadas pelo grupo.
A avaliação de Samuel, Maria Clara e João Victor reflete diferentes perspectivas sobre a apresentação relacionada à saúde mental. Samuel destacou a importância da saúde mental dos idosos, baseando-se em sua experiência pessoal com sua avó. Ele apreciou como a apresentação abordou essa questão, reconhecendo as dificuldades de manter o bem-estar mental nessa fase da vida. Maria Clara, por sua vez, ressaltou o impacto do questionário apresentado, que serviu não apenas como informativo, mas também como um alerta para a necessidade de buscar ajuda, especialmente diante dos estigmas sociais que dificultam o reconhecimento e tratamento dos problemas de saúde mental. João Victor mencionou que, embora a apresentação tenha sido abrangente, talvez tenha faltado um aprofundamento maior na questão da saúde mental das pessoas com deficiência. Ele destacou a vulnerabilidade desse grupo, que enfrenta capacitismo e preconceitos, fatores que podem agravar o sofrimento mental. Ele ilustrou essa preocupação com o exemplo de um atleta de fisiculturismo que experimentou um declínio significativo em sua saúde mental após adquirir uma deficiência que o impediu de continuar treinando. Essa observação sublinha a importância de considerar as condições de deficiência como um fator crucial no cuidado com a saúde mental, especialmente quando associados a eventos traumáticos prévios. Essas opiniões demonstram a complexidade do tema da saúde mental, que exige uma abordagem sensível e multifacetada, especialmente quando se trata de grupos vulneráveis como idosos e pessoas com deficiência.
Carlos Henrique iniciou sua contribuição destacando que a saúde mental é definida como um estado de bem-estar em que o indivíduo é capaz de realizar suas potencialidades. Ele apontou que esse estado de bem-estar é influenciado por uma combinação de fatores psicológicos, biológicos e sociais. Em seu texto, Carlos Henrique utilizou um mapa mental, centralizando a expressão "grupos populacionais" e conectando-a, através de setas, a diversos grupos, incluindo idosos, mulheres, minorias étnicas e sociais, profissionais e alunos da saúde, e a comunidade LGBTQIAPN+. Ele observou que pessoas com transtornos de saúde mental frequentemente apresentam comorbidades, ou seja, outras condições de saúde, como doenças crônicas, que podem interagir com o transtorno mental, complicando o tratamento. Carlos Henrique prosseguiu com a elaboração de um segundo mapa mental, desta vez centrado na expressão "desafios e necessidades". A partir desse núcleo, ele destacou, em setas separadas, as seguintes questões: falta de recursos, estigma, falta de acesso aos serviços de saúde, discriminação e falta de profissionais qualificados. Para concluir, ele levantou a questão do que pode ser feito para enfrentar esses desafios. Sugeriu quatro ações principais: desmitificar, combatendo o estigma e a discriminação por meio da conscientização sobre saúde mental; fortalecer a rede de apoio; ampliar o acesso a serviços de qualidade, independentemente da localização geográfica ou condição socioeconômica dos grupos; e apoiar pesquisas que explorem os mecanismos biológicos, psicológicos e sociais dos transtornos mentais, com o objetivo de desenvolver novos tratamentos e intervenções.
Dando continuidade, Ronielly destacou que o grupo conseguiu abordar o tema proposto, mas acredita que poderiam ter aprofundado mais sobre os transtornos mentais especificamente. De maneira geral, ele afirmou que gostou bastante, e acrescentou que, além de serem muito diversos, os transtornos mentais estão profundamente correlacionados com os diversos problemas sociais que afligem a sociedade brasileira. Por esse motivo, ele ressaltou a importância de discutir o tema e desmistificar o assunto.
A participação de Emilly abordou um problema que afeta diretamente o estudante de medicina. Ela considerou que o grupo abordou muito bem o tema da diversidade na saúde mental e destacou uma parte que lhe chamou bastante atenção: a forma como o grupo desenvolveu uma dinâmica com a turma, de maneira divertida e lúdica, sobre um assunto tão sério e delicado quanto a saúde mental. Assim como foi mencionado na apresentação oral e reforçado na dinâmica de grupo, Emilly observou que estudantes de medicina e médicos são muito afetados pela pressão e frequentemente sofrem da "síndrome do super-herói", em que sentem que não podem errar, devem sempre ser os melhores, e precisam estar prontos para cuidar dos outros, mesmo quando não conseguem cuidar de si mesmos. Ela também refletiu que (sem banalizar ou generalizar), muitos casos de negligência médica e iatrogenia podem estar relacionados ao cansaço excessivo dos médicos, devido à alta carga horária de trabalho e ao impacto psicológico. Ela destacou que a mente de alguém que é tão pressionado e cobrado nunca consegue descansar de forma efetiva. Além disso, Emily mencionou que a dinâmica de grupo demonstrou o quanto os estudantes de medicina negligenciam sua própria saúde. Ela compartilhou uma experiência pessoal, relatando que teve uma crise de saúde mental no segundo semestre da graduação, quando passou semanas negligenciando sua alimentação, consumindo café e energéticos para se manter acordada e estudar para as provas, buscando obter notas altas. Essa situação, segundo ela, está enraizada nos estudantes de medicina a ideia de que ao receber notas baixas serão considerados futuros péssimos médicos. Ela também comentou que foi preocupante e triste perceber que ela e outros colegas da turma apresentaram resultados altos no questionário aplicado pelo grupo que expôs o tema de saúde mental. No entanto, discutir esse assunto na turma e explicitar o problema em uma disciplina muitas vezes considerada desnecessária na grade curricular do curso de medicina, por não ser conteudista como as demais, é de extrema importância. Ela considerou que isso pode desenvolver um senso crítico entre os estudantes sobre a temática e contribuir para a melhoria da saúde mental dos futuros médicos, algo que será essencial tanto para os próprios indivíduos quanto para a sociedade e os usuários do sistema de saúde que receberão os cuidados desses profissionais. Por fim, ela acrescentou um pós-escrito que contextualizou o que relatava: "Professora, se houver partes confusas nesse texto, peço desculpas. A cabeça do estudante está a mil em plena segunda-feira pela manhã."
Dando continuidade à memória das participações dos estudantes, Gabrielle mencionou que apreciou muito a dinâmica do "Bingo da Saúde Mental", pois foi um momento em que os colegas da turma puderam expor sua vulnerabilidade. Ela notou que a maioria dos participantes da dinâmica se sentiu inferior aos outros colegas. No entanto, Gabriele destacou a importância de ser justo consigo mesmo ao se comparar com os outros, reconhecendo que essa comparação pode ser uma forma de crescimento pessoal. Por outro lado, ela alertou sobre a necessidade de cuidado com quem as pessoas escolhem como referência, pois muitas delas não são autênticas. Ela mencionou que algumas pessoas abusam de fármacos psicoestimulantes ou vivem à base de energéticos, o que compromete sua saúde. Por isso, Gabriele enfatizou a importância de sabedoria e temperança. Seguindo com a participação de Kalynne, ela destacou que um ponto muito interessante abordado pelo grupo foi a saúde mental das pessoas idosas, uma questão que muitas vezes é tratada como tabu. Kalynne ressaltou que, em muitos casos, os sinais de problemas de saúde mental em idosos não são percebidos pelos familiares, que assumem que os idosos estão sempre bem.
Agora, registrando a participação de João Victor, que fez um paralelo entre atletas e profissionais de saúde: nos esportes, existe uma cultura que associa a saúde mental ou seus problemas à fraqueza. No passado, os atletas eram vistos como ídolos e heróis inabaláveis, mas, recentemente, no século XXI, surgiram relatos de atletas como Michael Phelps e Simone Biles, que mostraram que, por trás da imagem de heróis, eles também enfrentaram momentos de sofrimento psíquico. João também refletiu que as redes sociais podem agravar essa busca por perfeição, e que os médicos não estão imunes a isso, muitas vezes se automedicando e não buscando ajuda para sua saúde mental. Ele concluiu ressaltando que o sofrimento e a saúde mental devem ser abordados de forma holística, não se limitando apenas ao uso de medicamentos, pois essa é apenas uma solução temporária.
Continuando, as participações finais foram de Hugo, José Nathanael e Fernanda. Hugo comentou que a discussão em sala de aula foi muito relevante, pois o estigma em torno da saúde mental entre profissionais de saúde pode levar ao silêncio, ao não tratamento e ao esgotamento, impactando negativamente o bem-estar desses profissionais e a qualidade do atendimento prestado aos pacientes. Em seguida, José Nathanael destacou que o grupo apresentou a discussão de maneira muito criativa e dinâmica, trazendo um tema considerado pesado de forma descontraída. Ficou evidente que a abordagem deve ir além da sala de aula e ser aplicada no cuidado diário. A professora apontou que o grupo não abordou os transtornos e condições mentais propriamente ditos, mas apresentar as informações de forma mais acessível e geral pode facilitar sua aplicação em nossas vidas e contribuir para o desenvolvimento da alteridade.
Fernanda contribuiu dizendo que a saúde mental é o bem-estar psico-emocional e social de uma pessoa, essencial para o funcionamento geral e a qualidade de vida. Portanto, promover a saúde mental é necessário para aumentar a conscientização sobre a estigmatização dos problemas relacionados a ela, o que é crucial para a criação de um ambiente mais inclusivo e solidário.

Comentários da Moderadora
Voltando à frase final de Emilly, que vou destacar aqui, penso que expressa uma sensação comum entre estudantes de medicina, que frequentemente enfrentam altos níveis de estresse e pressão acadêmica. Ao analisar suas palavras, me ocorreu a seguinte reflexão: Ela admite que sua mente está "a mil", o que sugere uma sobrecarga mental, possivelmente causada por uma combinação de fatores, como estresse acadêmico, falta de sono, ansiedade com as responsabilidades e a intensidade do curso. Quando ela se antecipa e pede desculpas por possíveis confusões no texto, me pareceu um comportamento comum em ambientes de alta demanda, onde o medo de errar ou de não atingir as expectativas é frequente. A frase "em plena segunda-feira pela manhã" indica cansaço acumulado do fim de semana ou a dificuldade de retomar o ritmo acadêmico no início da semana, o que pode afetar a qualidade do trabalho e a clareza do pensamento. Me preocupou a ideia de que possa ter sido sido um pedido implícito de compreensão e apoio, o que estenderia à toda a turma. Essas palavras podem ser usadas como um ponto de partida para discutir a saúde mental dos estudantes de medicina, abordando temas como a gestão do estresse, a importância do equilíbrio entre vida pessoal e acadêmica, e a necessidade de um ambiente de aprendizado que leve em conta a saúde mental dos alunos, o que me inspirou a ideia de abordar essas questões tão importantes em futuros projetos.
A saúde mental dos profissionais de saúde e estudantes de medicina é um tema relevante e deve ser tratado com sensibilidade. Um estudo realizado no Brasil investigou o conceito de saúde mental para profissionais atuantes em diferentes serviços da rede pública. Os participantes da referida pesquisa associaram esse conceito com noções de bem-estar, integralidade do ser humano e determinação social do processo saúde-doença. Além disso, é crucial que os profissionais busquem equilíbrio emocional e, se necessário, procurem ajuda terapêutica (Gaino et al., 2017).
Este primeiro círculo de exposição e discussão, que enfocou diversidade e saúde mental, foi uma oportunidade para aprofundar o entendimento sobre a intersecção entre saúde mental e diversidade, destacando que os futuros médicos precisam se preparar para uma prática mais inclusiva e sensível às particularidades de seus pacientes, seja em uma fase do ciclo vital, seja em um contexto socioeconômico privado de recursos socieconômicos, seja um grupo profissional que tem sobrecarga e pressão psicológica, ou ainda um grupo de pessoas com deficiência.

Critérios de Avaliação
A avaliação do seminário foi baseada em três principais critérios:
1. Conteúdo e profundidade da pesquisa: A qualidade da pesquisa foi avaliada com base na relevância e profundidade das informações coletadas, assim como na capacidade de relacioná-las com a prática médica.
2. Análise crítica e soluções propostas: Os grupos foram avaliados pela capacidade de criticar de forma construtiva as práticas existentes e propor soluções inovadoras e viáveis para a inclusão da diversidade cultural na medicina.
3. Apresentação: A clareza e organização das apresentações, qualidade dos recursos audiovisuais, efetivo engajamento do público, comunicação eficaz, boa entonação, postura, e expressão.
4. Participação na discussão: Participação ativa e colaborativa dos componentes do grupo durante a discussão.

Considerações Finais
Para finalizar, gostaria de parabenizar o grupo pela abordagem de um tema tão relevante e sensível. A inclusão de dinâmicas interativas, como a aplicação do questionário sobre sinais de sofrimento psíquico e o "bingo saúde mental", foi uma estratégia muito eficaz. Essas atividades não só engajaram os participantes, como também reforçaram os conteúdos apresentados, tornando o aprendizado mais significativo.
Como os demais alunos comentaram, as dinâmicas realizadas tiveram um excelente engajamento da turma.
A exposição oral foi clara e bem estruturada, o que demonstrou o domínio do grupo sobre o tema. A conexão entre saúde mental e diversidade foi abordada de forma abrangente, destacando a importância de considerar as diferentes realidades e necessidades das pessoas. Foram apresentadas especificidades de como a diversidade pode impactar a saúde mental de grupos de pessoas.
No geral, foi uma apresentação excelente, que certamente contribuiu para aumentar a conscientização sobre a importância da saúde mental em contextos diversos. Continuem explorando essa criatividade nas metodologias e aprofundando o conteúdo nas próximas atividades.

Uma explicação da Moderadora
Pensei que havia solicitado uma exposição sobre transtornos mentais, com a expectativa era que vocês focassem em temas como preconceito, discriminação e estigmatização no atendimento à saúde de pessoas com transtornos mentais. Isso se baseava em experiências de semestres anteriores, onde os grupos discutiram principalmente como pessoas com doenças mentais enfrentam estigma e discriminação ao buscar cuidados de saúde. No entanto, para minha surpresa, o grupo optou por abordar a saúde mental sob uma perspectiva mais ampla, ao considerar como diferentes grupos sociais como idosos, mulheres no climatério, pessoas com deficiência, profissionais de saúde, e moradores de áreas periférica — enfrentam questões de saúde mental.

Referência do trabalho mencionado:
GAINO, L. V. et al. O conceito de saúde mental para profissionais de saúde: um estudo transversal e qualitativo. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.) [online]. 2018, vol.14, n.2, p.108-116. https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2018.149449.