17 de junho de 2011

Xerostomia

Por Gabriela Lemos Negri
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB


Resumo
A xerostomia corresponde a uma sensação subjetiva de escassez ou carência absoluta de saliva na cavidade oral. Também conhecida como asialorreia ou boca seca, não constitui uma entidade clínica por si só, antes representando uma manifestação de uma disfunção no aparato salivar. São inúmeras as causas atualmente conhecidas como responsáveis por esse sintoma, devendo-se destacar: uso de certos medicamentos, especialmente os quimioterápicos; emprego de tratamentos baseados no uso de radiações ionizantes; diabetes mellitus; e doenças auto-imunes, sobretudo a síndrome de Sjögren. Trata-se de um sintoma com consequências físicas, psicológicas e sociais importantes.  É importante que os médicos tenham um adequado conhecimento deste problema.

Palavras chave: Xerostomia. Boca Seca. Estomatologia.

A xerostomia (do grego xero: seco; stoma: boca) representa a manifestação clínica mais comum das disfunções salivares, sendo definida pela percepção subjetiva de boca seca, resultante de uma diminuição no fluxo salivar. Inicialmente acreditava-se que essa manifestação era própria de pessoas da terceira idade, no entanto, estudos mais recentes demonstram que cerca de 20% das pessoas acometidas apresentam idade em torno de 20 anos, enquanto 40% têm mais de 60 anos. A frequência observada também foi maior em mulheres, em virtude das inúmeras alterações hormonais associadas com a gravidez, climatério e menopausa.

A saliva desempenha um papel essencial na manutenção da saúde bucal. Além de atuar na umidificação dos tecidos da cavidade oral, sua propriedade lubrificante auxilia no processo de formação e deglutição do bolo alimentar, auxilia a fonética e também na proteção dos tecidos contra danos tanto por agentes mecânicos quanto por microorganismos nocivos. Estudos recentes desenvolvidos na França pelo Instituto Pasteur identificaram ainda a presença de propriedades calmantes e analgésicas do fluxo salivar.

Assim, se a saliva desempenha um importante papel na proteção do ambiente oral, e as reduções na quantidade de saliva aumentam o risco de doenças bucais. Xerostomia ou a percepção de uma boca seca agora está sendo reconhecido como um importante fator de risco para doenças dentárias. Além disso, a sensação subjetiva de boca seca é uma condição debilitante por si mesma, pelo impacto sobre a qualidade de vida dos doentes afetados. Uma em cada cinco pessoas relatam alguma forma de boca seca, e há uma crescente prevalência na população idosa.

A diminuição da saliva pode acarretar uma série de sintomas, como sensação de ardor e dolorimento na língua; distúrbios gastrointestinais; secura bucal; dificuldades na fala, mastigação e percepção do sabor dos alimentos conduzindo, entre outros, a distúrbios de nutrição. Pode-se observar também o aparecimento de fissuras nas comissuras labiais, dipsia constante, presença de aftas bucais, acúmulo de placa dental bacteriana, halitose, desgaste do esmalte dentário, maior suscetibilidade a infecções por Candida albicans. As cáries e a doença periodontal representam uma das principais complicações da xerostomia, que frequentemente é acompanhada de palidez, perda do brilho e adelgaçamento da mucosa.

A hipofunção das glândulas salivares pode resultar de diversas causas como: doenças sistêmicas, transtornos de ansiedade, desidratação e infecções agudas das glândulas salivares. A xerostomia crônica, com asialorréia permanente, relaciona-se frequentemente com doenças autoimunes, infecciosas, alérgicas, reumatológicas (sobretudo a síndrome de Sjögren), anomalias congênitas, menopausa, fibromialgias, radioterapia no câncer (cerca de 60 a 88% dos casos com doença oncológica avançada), diabetes mellitus, transtornos psiquiátricos, doença de Alzheimer, AIDS e uso de substâncias adictivas como álcool e tabaco. Uma outra afecção comumente responsável por essa manifestação em mulheres é o diabetes gestacional. Contudo, o uso de medicamentos ainda é a principal causa de secura bucal.

O diagnóstico é eminentemente clínico. Deve-se fazer uma avaliação minuciosa da cavidade oral, podendo-se empregar métodos quantitativos que determinem a secreção salivar em repouso ou sob estimulação, caso seja necessário.

Referências
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Fonte da imagem: hometreatment.net