15 de agosto de 2012

Produtivismo Acadêmico

- A que serve a pesquisa em nossa universidade?
- Qual a política de produção científica atualmente implementada em nosso país?

- Para que serve a pós-graduação: Formação de professores? Desenvolvimento técnico dos profissionais? Formação de pesquisadores?

- Que pesquisa defendemos e para que?

Estas foram as questões norteadores da mesa de discussão realizada hoje no auditório da reitoria da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com a temática "Pós-graduação e produtivismo acadêmico: os desafios da produção do conhecimento científico na contemporaneidade", com os palestrantes convidados Prof. Ângelo Emílio da Silva Pessoa (Departamento de História da UFPB) e Prof. Fernando Cunha (Departamento de Educação Física da UFPB). A mesa de discussão foi promovida pelos pós-graduandos da UFPB e pelo comando local de greve (Sindicato dos Docentes da Universidade Federal da Paraíba - Adufpb).

O Prof. Ângelo Pessoa afirmou que precisa haver produção científica na universidade, mas não produtivismo. Ele considerou que, a exemplo dos professores, muitos dos próprios alunos de graduação também já estão sendo condicionados por essa lógica do produtivismo. Exemplificou isso com o caso de um aluno da UFPB que praticamente não vinha assistindo às aulas, dedicando-se a apresentar trabalhos em vários congressos da sua disciplina, nacionais e internacionais. "Muitos alunos de graduação já estão sendo corrompidos pelo produtivismo, preocupando-se apenas com o que dá pontuação no Lattes". Comentou ainda sobre a ocorrência frequente do auto-plágio, em que se publica várias vezes o mesmo trabalho, com títulos diferentes, destacando, neste sentido, que isso não é produtividade.

O Prof. Ângelo Pessoa continuou, mas discorrendo, desta vez, sobre a falta de compromisso e seriedade de muitos docentes universitários, e que falta de compromisso ocorre de uma forma geral. Afirmou que muitos apenas recebiam seus salários, mas não trabalhavam efetivamente. Comentou exemplos conhecidos de professores que passaram pela UFPB sem nunca ter trabalhado na realidade.

O Prof. Ângelo mencionou também que é importante combater a dicotomia ensino-pesquisa, salientando o fato de que o docente é contratado através dos concursos para as universidades públicas para o cargo de Professor de Ensino Superior e, portanto, não pode querer se dedicar exclusivamente à pesquisa, e se deseja ser exclusivamente pesquisador, não deveria prestar concurso para professor. "Se alguém quer ser pesquisador, que busque realizar concurso em outras entidades  em que o foco seja a pesquisa", disse.

O professor salientou que não é contra a produtividade, mas contra o produtivismo, que se prende a critérios puramente quantitativos, e não promove avanços. Importante mesmo, segundo ele, é avaliar qual é repercussão social do conhecimento e qual é a ética que permeia a atuação do pesquisador. Afirmou ainda que a ética está banida do contexto dessa competitividade desenfreada na pesquisa nas universidades. Para ele, é importante que se discuta o rigor científico, o compromisso social da pesquisa, e que, antes de tudo, a pesquisa não se constitua apenas elemento do produtivismo para estabelecer "carreirismos". 

Concluiu afirmando que é importante que se publique, mas que se mantenha o compromisso com o ensino também, atando a ponta da ciência com o essencial da graduação, ou seja, o ensino voltado à formação profissional.

Em seguida, o Prof. Fernando Cunha passou a apresentar suas ideias, afirmando que não vivemos em uma sociedade do conhecimento, mas na "sociedade da ilusão". A ciência é realmente, segundo ele, fundamental para a humanidade. Mas também distinguiu conceitualmente produtividade de produtivismo. Diferente da produtividade, o produtivismo estaria pautado na pragmatismo e nos ditames mercadológicos.

O Prof. Fernando prosseguiu mencionando que o sistema de avaliação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que se baseia na lógica do produtivismo, criou um novo status para a função docente. Comentou ainda a meta inalcançável representada pelas exigências da Capes, guiada pelo produtivismo, pois a produtividade tem uma validade, que atualmente é de três anos, e que considera primordialmente a dimensão  quantitativa da produção. Destacou que essa lógica fez com que o professor passasse a ser reconhecido, e a se reconhecer, pela sua produção científica. Finalizou, então, concordando com o Prof. Ângelo, que falou anteriormente, no sentido de que não se pode dicotomizar ensino e pesquisa na prática docente.