6 de dezembro de 2013

Síndrome de SAPHO


Por Germana Ribeiro de Lucena
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
A síndrome de SAPHO cursa com sinovite, acne, pustulose, hiperostose e osteíte. Seus primeiros casos foram descritos na década de 60, por pesquisadores franceses. Sua prevalência é de 1:10.000, maior no sexo feminino e em crianças, jovens até adultos de meia-idade. Sua patogênese permanece desconhecida, entretanto há indícios da presença de fatores genéticos e infecciosos em seu desenvolvimento e manutenção. Os sinais e sintomas da síndrome são inespecíficos, portanto seu diagnóstico é de exclusão. O diagnóstico diferencial por ser feito com doenças infecciosas, neoplasias e artrite idiopática juvenil.

Palavras-chave: Sinovite. Hiperostose. Osteíte
           
Os primeiros casos da síndrome de SAPHO foram descritos durante a década de 60, devido a relatos de pacientes que apresentavam as seguintes manifestações clínicas: pústula palmoplantar, psoríase pustulosa, hidroadenite supurativa, acne severa, sinovite periférica, osteíte asséptica localizada na parede anterior do tórax e outros locais do esqueleto. (BENHAMOU et al., 2006). Então, um grupo de pesquisadores franceses decidiu realizar estudos sobre tais relatos, que culminaram com a agrupação destas manifestações sob a sigla SAPHO, cujo significado inicial era Síndrome de Acne Pustulosa, Hiperostose e Osteíte. Posteriormente, houve a troca da palavra síndrome por sinovite (NAGUWA et al., 2012).
A síndrome de SAPHO é considerada rara, possivelmente devido a seu subdiagnóstico. Estima-se que sua prevalência seja de 1:10.000 e maior no sexo feminino. Este problema pode acometer pacientes de todas as faixas etárias, entretanto é mais frequente em crianças, jovens e adultos de meia-idade (NAGUWA et al., 2012).
Atualmente, ela é definida através da associação variável entre um amplo espectro de manifestações osteoarticulares e cutâneas - pústula palmo-plantar e acne grave (SIMON; ASSMANN, 2011)
Deve ser suspeitada em pacientes que preencham no mínimo um dos seguintes critérios diagnósticos:
(1)Manifestações osteoarticulares com acne conglobata, fulminante ou hidroadenite supurativa;
(2)Manifestações palmoplantares com pustulose palmoplantar; 
(3)Hiperostose axial ou apendicular com ou sem dermatose; 
(4)Osteomielite multifocal crônica e recorrente envolvendo esqueleto axial ou apendicular com ou sem dermatose.      
Embora as dermatoses pustulosas tenham sido descritas inicialmente como elemento unificador da síndrome, sua presença não é considerada atualmente indispensável para a definição do quadro.
Embora a patogênese da doença permaneça desconhecida, há evidências da presença de um componente genético contribuindo para seu desenvolvimento, o que se baseia no fato de haver um agrupamento familiar de pacientes com a patologia. Além desse fator, há indícios de que a susceptibilidade à doença seja atribuída à presença do alelo SNP Mdm2 T309G, responsável por induzir elevados níveis de Mdm2 e, desse modo, uma resposta menos eficiente do gene P53, com possível aumento da atividade do NFkB. (ASSMANN et al., 2010).
Os estudos mais recentes sobre o tema apontam uma provável associação entre fenômenos auto-imunes e infecções. E propõem que agentes infecciosos, sobretudo P. acnes, possam desencadear uma resposta inflamatória mediada por receptores toll-like, com produção de anticorpos com reação cruzada (ASSMANN; SIMON, 2011)
O envolvimento articular é insidioso, cursa com dores de forte intensidade, edema de tecidos moles, rubor e calor nos locais afetados, limitação do movimento e rigidez matinal. As regiões mais afetadas, em adultos, são: parede anterior do tórax (65-90%), coluna (30%), sobretudo a lombar e cervical; em crianças: os ossos longos, sobretudo tíbia e fêmur. Sinovite em articulações periféricas, distantes do sítio de envolvimento ósseo primário, é comum em adultos, embora seja rara em crianças. (NAGUWA et al., 2012).
Manifestações cutâneas podem ocorrer ou não, quando presentes podem ser: simultâneas (em menos de 30% dos pacientes), anteriores ou posteriores, as ósseas. Tais lesões são dermatoses neutrofílicas, dentre as quais a mais comum é a pustulose palmo-plantar (50-75%); a acne conglobata ou fulminante acomete apenas 25% dos pacientes, com maior prevalência no sexo masculino. Manifestações sistêmicas são incomuns, entretanto, pode haver febre e elevação de proteína C reativa (NAGUWA et al., 2012).
Os sinais e sintomas da síndrome de SAPHO não são específicos, portanto seu diagnóstico é de exclusão, os critérios utilizados para isso foram elaborados por Benhamou et al. (1988) A presença de no mínimo um dos quatro critérios de inclusão é suficiente para diagnosticar a síndrome. Os critérios são os seguintes:
×   Critérios de inclusão: manifestações osteo-articulares  e acne conglobata, fulminante ou hidradenite supurativa; manifestações osteoarticulares      e pustulose palmo-plantar; hiperostose com ou sem dermatose; osteomielite multifocal recorrente crônica envolvendo esqueleto axial ou periférico com ou sem dermatose;
×  Critérios de exclusão: osteomielite séptica; artrite infecciosa da parede anterior do tórax; infecção com pustulose palmo-plantar; ceratodermia palmo-plantar; hiperostose esquelética idiopática difusa, exceto para associação fortuita; manifestações osteo-articulares com terapia com retinoide.
- Possíveis associações com psoríase vulgar, enterocolopatia, espondilite anquilosante e infecções bacterianas;
O diagnóstico diferencial pode ser feito com osteomielite infecciosa, osteossarcoma, sarcoma de Ewing, metástase óssea, granuloma eosinofílico, doença de Paget, espondilodiscite infecciosa, osteoartrite esterno-clavicular, osteíte condensante da clavícula, osteonecrose da epífise medial clavicular e artrite idiopática juvenil.
Guerra et al. (2005) questionam se a Síndrome de Sapho é uma entidade rara ou subdiagnosticada. Esta afecção deve ser considerada como diagnóstico diferencial em todo paciente que apresente quadro doloroso de parede torácica ou dor torácica musculoesquelética acompanhada de manifestações dermatológicas e/ou osteíte.

Referências
ASSMANN, G.; SIMON, P. The SAPHO syndrome--are microbes involved? Best Pract Res Clin Rheumatol. 25 (3): 423-34, 2011.
ASSMANN, A. D. WAGNER, M.; MONIKA, M. et al. Single-nucleotide polymorphisms p53 G72C and Mdm2 T309G in patients with psoriasis, psoriatic arthritis and SAPHO syndrome. Rheumatology International, 30 (10): 1273–1276, 2010.
BENHAMOU, C. L.; CHAMOT, A. M.; KAHN, M. F. Synovitis-acne-pustulosis hyperostosis-osteomyelitis syndrome (SAPHO). A new syndrome among the spondyloarthropathies? Clin Exp Rheumatol 6:109-12, 1988.
CHAMOT, C. L.; BENHAMOU, M.F.; KAHN, L. et al. Acne-pustulosis-hyperostosis-osteitis syndrome. Results of a national survey. 85 cases. Rev Rhum Mal Osteoartic, 54 (1987), pp. 187–196
GUERRA, J. G.; LIMA, F. A. C.; MACEDO, L. M. G. et al. Síndrome SAPHO: entidade rara ou subdiagnosticada? Radiol Bras 38 (4): 265-271, 2005.
NGUYEN, M. T.; BORCHERS, A.; SELMI, C. et al. The SAPHO syndrome. Semin Arthritis Rheum. 42 (3): 254-65, 2012

Imagem:  Guerra et al. (2005).