13 de fevereiro de 2021

CASO CLÍNICO: CRISE EM SAÚDE MENTAL

Um homem de 36 anos é levado ao pronto-socorro sob custódia temporária (internação involuntária) após análise da equipe do serviço de atendimento móvel à urgência (SAMU) que seguiu fluxo relacionados à crise em saúde mental, e da guarda municipal ter interferido no atendimento inicial.

O paciente ficou extremamente agressivo durante uma desavença com sua parceira. A raiva foi desproporcional ao teor do evento e ele começou a gritar, jogar objetos a esmo e quebrou seu celular. A seguir, usou uma lâmina de barbear para fazer vários cortes superficiais bilaterais na parte interna dos seus antebraços. Nesse momento, os pais adotivos dele, preocupados, ligaram para a unidade de crise de saúde do serviço comunitário de funcionamento 24 horas, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS-III).

Durante a avaliação para a internação, o paciente referiu já ter se machucado várias vezes antes, inclusive se esmurrando e queimando várias partes do corpo com um isqueiro em ocasião anterior. Quando questionado sobre o que o deixou perturbado a ponto de querer fazer essas coisas, o paciente afirmou: "Todo mundo me odeia, e sempre me abandonam!" A seguir hostilizou o avaliador, dizendo: "O outro orientador de internação era muito melhor do que você. Pessoas como você me deixam assim!" Uma breve revisão dos registros do hospital revelou que o paciente teve vários episódios semelhantes nos últimos anos.

Na avaliação de acompanhamento, o paciente revelou que os conflitos são comuns nas suas relações interpessoais. Ele disse: "Nem sei mais quem eu sou. Todas as pessoas estão apenas me usando". O paciente informou que costuma ser irrefletido em seu comportamento, explicando: "Às vezes eu saio e fico com gente que conheci em algum aplicativo só para sentir alguma coisa. Eu sempre me sinto vazio depois."

O paciente reconhece que ocasionalmente não come quando “não está em um dia bom”. Seu humor é significativamente instável. Ele explica: "Alguns dias, parece que tudo é incrível, mas em poucas horas ou em um dia eu acordo e percebo que nada presta." Quando indagado há quanto tempo isso acontece, ele responde: "Eu sempre fui assim."

O paciente tem dificuldade ocasional de conciliar o sono; no entanto, afirma que sempre sente necessidade e vontade de dormir, mas às vezes simplesmente não consegue. Quando perguntado se já teve ideação suicida antes, ele conta: “Uma vez, tomei 10 comprimidos de ibuprofeno para mostrar aos meus pais como eles são horríveis”. O paciente nega ter planos ou intenção atuais de se matar, mas afirma: "Às vezes fico cansado e simplesmente não quero sentir mais nada. É sempre quente ou frio, nunca nada é morno." Quando indagado sobre seus pais e sua parceira, ele diz: "Eu não os machucaria de verdade, mas espero que se sintam mal quando eu me corto."

Exame físico: Altura 1,73 m e peso 72,57 kg. Pressão arterial de 138/94 mmHg; temperatura de 36,8 °C; e saturação de oxigênio de 97% em ar ambiente.

O paciente parece desmazelado e agitado, tem atitude tensa e aumento da atividade psicomotora. Tem uma equimose no lado direito da região frontal e apresenta cicatrizes e cortes superficiais recentes bilaterais nos antebraços (Figura no topo da postagem).

O paciente está taquicárdico, com 110 batimentos por minuto (bpm). Ausculta cardíaca sem sopros, atrito ou galope. Ritmo cardíaco regular. Frequência respiratória elevada de 18 incursões respiratórias por minuto (irpm). Pulmões limpos. Abdome indolor e peristáltico, timpânico à percussão. Não apresenta assimetria facial e o exame dos pares cranianos está normal.

Ao exame do estado mental, o paciente está vigil e orientado no tempo e no espaço. Parece deprimido e ansioso, e exibe algum excesso de atividade motora. Sua fala varia amplamente em volume, ritmo e tonalidade, sendo flutuante ao longo da entrevista. Sua capacidade de recordação é boa quando avaliada para memória imediata, recente e distante.

Seu processo de raciocínio é ocasionalmente tangencial, mas pode ser redirecionado; o conteúdo do pensamento é dominado pelos atuais fatores de estresse. Ele repete sem cessar: "Não é justo". O paciente refere depressão e história importante de automutilação. Indagado sobre o seu humor, ele responde: "Me sinto vazio". Ele apresenta labilidade afetiva. Parece capaz de vir à consulta, mas nem sempre coopera. Seu senso crítico é pobre a limitado, pois aparentemente minimiza a importância do próprio comportamento. Sua capacidade de julgamento também é pobre. O paciente nega alucinações auditivas e visuais.

O eletrocardiograma (ECG) revela frequência cardíaca de 110 bpm, sem outras alterações. A tomografia computadorizada de crânio sem contraste é normal, sem indícios de acidente vascular encefálico, lesão de massa ou sangramento. Os resultados do exame toxicológico de urina são negativos. Exame de urina dentro dos limites normais. Hemograma completo, bioquímica e níveis do hormônio estimulante da tireoide dentro dos intervalos de referência.

Com base nesses achados, qual dos diagnósticos a seguir é o mais provável?

(a) Transtorno bipolar

(b) Transtorno de ajustamento

(c) Transtorno de personalidade histriônica

(d) Transtorno de personalidade borderline

(e) Transtorno de estresse pós-traumático

Caros leitores, respondam nos comentários. Quando houver um comentário, ou mais, postarei o diagnóstico e concluirei a publicação do caso clínico.