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18 de fevereiro de 2025

DEVOLUTIVA: SEMINÁRIO "PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO E ESTIGMA NA ATENÇÂO À SAÚDE"

 

II Seminário de Diversidade Étnica e Cultural na Medicina no Semstre 2024.2 - CCM/UFPB
Esta é a memória do Seminário sobre Preconceito, Discriminação e Estigma na Atenção à Saúde, apresentado pelas alunas Bianca Catarina, Hevilly Kelly e Vanessa Ingrid, no âmbito da disciplina "Diversidade Étnica e Cultural na Medicina". Neste encontro, exploraramos como essas questões impactam a prática médica, a relação entre profissionais de saúde e pacientes, e a promoção de um cuidado mais equitativo e humanizado. Agradecemos pela presença de todos os estudantes da turma e consideramos que esse momento contribuiu para reflexões e diálogos transformadores.
Os principais diapositivos apresentados foram os seguintes:

A exposição do grupo foi excelente. A distinção conceitual entre preconceito, discriminação e estigma foi elaborada de forma clara, porém o conceito de estigma precisou ser enfatizado em um feedback rápido após a exposição, pois é fundamental compreender esses diferentes tipos e formas de problemas que acarretam desigualdade e exclusão social. 
O grupo apresentou uma conceituação apropriada de preconceito e discriminação. 
Preconceito, como uma atitude ou crença negativa em relação a um grupo ou indivíduo, baseada em generalizações, estereótipos ou falta de conhecimento, geralmente implicando juízos desfavoráveis e irracionais como, por exemplo, acreditar que pessoas idosas precisam que seus acompanhantes falem por elas durante uma consulta médica. 
Discriminação, como a manifestação prática do preconceito, como foi enfatizado na exposição, envolvendo ações ou comportamentos que resultam em tratamento desigual ou injusto a determinados grupos. Pode ocorrer de maneira explícita ou sutil, individualmente ou institucionalmente, como por exemplo, considerar que uma pessoa com orientação sexual que não coincide com a heteronormativa é um paciente promíscuo.
Por outro lado, o estigma é um processo social que desvaloriza ou marginaliza uma pessoa ou grupo com base em uma característica percebida como indesejável, como foi exposto durante a apresentação oral do seminário. Contudo, é necessário completar esta definição: O sociólogo canadense Erving Goffman conceituou estigma como um atributo profundamente desvalorizador que desacredita um indivíduo perante a sociedade. Em sua obra Estigma: Notas Sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada (1963), ele descreve o estigma como um fenômeno social que surge quando alguém é marcado por uma característica considerada desviada em relação às normas culturais. A palavra "estigma" vem do grego e significa "marca".
Esses conceitos estão interligados: o preconceito alimenta a discriminação, e ambos contribuem para a manutenção do estigma em diferentes contextos sociais, incluindo o da saúde.

Participações orais da turma
Pedro comentou que o trabalho é relevante e esclarecedor, destacando que buscou responder à pergunta 1 e estabelecer conexões com o seminário anterior. Ele também refletiu sobre a homogeneidade do perfil dos estudantes de medicina, observando que, nas escolas privadas, esses alunos têm pouco contato com minorias, o que reduz as oportunidades de desenvolver a intersubjetividade no ambiente escolar.
Além disso, Pedro compartilhou uma percepção adquirida durante o primeiro período do curso, notando que há vagas de estacionamento sobrando em outros centros acadêmicos, enquanto no Centro de Ciências Médicas (CCM) há escassez. Ele também mencionou que os próprios estudantes desvalorizam disciplinas da área humanística, muitas vezes rotulando-as como irrelevantes e cumprindo-as apenas por obrigação, como no caso da disciplina de diversidade.
Hevelly complementou a fala de Pedro, ressaltando a importância do esforço dos docentes para garantir que os alunos tenham contato com comunidades marginalizadas. Ela destacou que a elite manifesta uma espécie de repulsa e que, ao participarem de atividades práticas em comunidades periféricas, alguns estudantes chegam a dizer que a faculdade os colocou em um "buraco" e expressam rejeição ao atendimento dessas populações. Ela também enfatizou que a disciplina, por si só, não é suficiente para desenvolver plenamente a sensibilidade e a competência cultural dos alunos, sendo essencial que haja vivências práticas e contato real com as monorias identitárias. Por fim, ressaltou a necessidade de denunciar casos de discriminação e estigmatização contra minorias no ambiente acadêmico.
Nathália parabenizou o grupo e observou que, por vezes, profissionais de saúde já formados demonstram atitudes preconceituosas. Ela destacou que pacientes podem sentir medo ao perceberem o médico como superior, devido às diferenças de poder na relação médico-paciente. Além disso, mencionou que alguns médicos acreditam que não enfrentarão consequências ao desrespeitar pacientes, e que essa sensação de superioridade frequentemente é normalizada.
Bianca acrescentou que profissionais experientes, especialmente os mais velhos, frequentemente exibem comportamentos discriminatórios em relação a minorias. Ela observou que médicos formados em universidades federais tendem a ser mais humildes e enfatizou a importância da criação de comitês dedicados a avaliar e combater a discriminação e estigmatização de minorias nos ambientes de saúde.
Estudos recentes corroboram essas preocupações. Pesquisas indicam que vieses implícitos podem perpetuar disparidades no atendimento a populações marginalizadas, afetando a comunicação entre pacientes e profissionais de saúde. Iniciativas têm sido propostas para identificar e mitigar essas tendências, promovendo interações mais equitativas e respeitosas. 
Além disso, a presença de informações tendenciosas nos currículos médicos pode influenciar negativamente a formação dos profissionais, perpetuando preconceitos e práticas discriminatórias. Projetos que utilizam inteligência artificial para identificar e corrigir esses vieses nos materiais educacionais têm sido desenvolvidos, visando a resultados de saúde mais justos e inclusivos. 
Portanto, é fundamental implementar estratégias que promovam a conscientização e a educação contínua dos profissionais de saúde, abordando vieses implícitos e explícitos. A criação de comitês e a adoção de ferramentas tecnológicas podem ser passos significativos para garantir um ambiente de saúde mais inclusivo e equânime para todos os pacientes.
Antônio Neto compartilhou uma experiência vivida como estudante em uma disciplina sobre populações excluídas, destacando uma questão preocupante relacionada ao atendimento à comunidade LGBTQIAPN+ nas Unidades de Saúde da Família. Ele relatou que a discriminação ainda é uma realidade marcante nesses espaços, especialmente para pessoas transexuais, que frequentemente não têm seu nome social reconhecido pelos profissionais de saúde. Essa falta de reconhecimento institucional não apenas fere direitos fundamentais, mas também compromete a dignidade e o acesso equitativo à saúde, princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS).
Observou-se que, diante desse cenário de discriminação, muitas pessoas LGBTQIAPN+ evitam buscar atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), sobretudo nos períodos da manhã e da tarde, quando a movimentação é maior. Esse comportamento reforça um fenômeno conhecido na literatura como “evitação de cuidados de saúde” (healthcare avoidance), no qual experiências negativas anteriores e o medo da revitimização afastam determinados grupos do acesso aos serviços de saúde. Diante dessa problemática, a comunidade LGBTQIAPN+ se mobilizou e levou suas demandas à Secretaria Municipal de Saúde, reivindicando a implementação de um atendimento noturno. A proposta visava criar um ambiente onde essas pessoas se sentissem menos expostas à discriminação e mais seguras para acessar os serviços de saúde.
Durante a discussão, Antônio Neto recordou a leitura feita pelo professor Vladimir (Departamento de Promoção da Saúde/CCM/UFPB) de uma frase de Paulo Freire: “Nada é, tudo está.” Esse pensamento freiriano reflete a concepção de que a realidade é dinâmica e está em constante transformação, cabendo à educação e à mobilização social o papel de promover mudanças estruturais. Essa perspectiva dialoga com a necessidade de desconstrução de práticas discriminatórias nos serviços de saúde, enfatizando o caráter processual da construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Vanessa complementou a reflexão trazendo um exemplo dentro do próprio ambiente acadêmico, especificamente no Centro de Ciências Médicas, onde já presenciou diversas manifestações de discriminação velada contra grupos identitários. Segundo ela, discursos passivo-agressivos, frequentemente disfarçados sob a justificativa de que “é só brincadeira”, são uma forma insidiosa de perpetuação da exclusão. Esse tipo de microagressão, conforme apontado por estudos sobre preconceito estrutural, contribui para um ambiente hostil e dificulta a plena inclusão desses grupos, tanto no ensino quanto na assistência à saúde.
Realmente me sinto, como docente, muito satisfeita quando há essa correlação feita pelos meus alunos, quando eles remetem o que estão estudando no momento a vivências anteriores, de outros componentes curriculares e práticas de campo. A frase "Nada é, tudo está", atribuída ao filósofo Paulo Freire, um dos principais pensadores da educação crítica, é uma expressão que reflete e está alinhada ao pensamento dialético e com a pedagogia freireana, que valoriza a educação como um processo contínuo de mudança e construção coletiva.
José Henrique abordou o "processo de apaziguamento de questões que tiveram origem violenta", destacando a necessidade de enfrentamento dessas problemáticas. Ele mencionou a visão do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre que, em uma antiga entrevista à revista Veja, afirmou a existência de uma democracia racial no Brasil — um conceito que, na realidade, se revela um mito. Para reforçar essa reflexão, ele citou estudos do genoma humano que indicam que, entre os brasileiros testados, 70% das mulheres apresentam ascendência genética feminina negra. Esse dado convida a uma análise mais profunda sobre o processo histórico de formação da população brasileira e suas implicações na persistência das desigualdades raciais. José Henrique enfatizou ainda que o combate ao preconceito, à discriminação e à estigmatização é um desafio complexo, mas essencial, e que a postura necessária deve ser sempre a do enfrentamento dessas injustiças.
Hevelly trouxe para o debate a questão das diferenças geracionais, discutindo os desafios e malefícios associados a essas disparidades. Ela ressaltou como os preconceitos voltados às gerações mais antigas muitas vezes invisibilizam suas contribuições e perpetuam estereótipos, dificultando o diálogo intergeracional e a valorização da experiência acumulada ao longo do tempo.
Vanessa complementou a discussão trazendo um dado impactante: 85% dos brasileiros reconhecem que o racismo existe no país, mas apenas uma pequena parcela se identifica como racista. Esse paradoxo revela um problema estrutural e cultural profundo, no qual o racismo é amplamente percebido como uma questão externa, sem um reconhecimento individual da própria responsabilidade na reprodução dessas desigualdades.
Por fim, Braz problematizou a ideia de que seria possível atuar sem nenhuma forma de discriminação, destacando que o preconceito, de alguma forma, já está internalizado em todos. Para ilustrar esse ponto, ele compartilhou uma experiência pessoal: ao ir a uma consulta médica, não mencionou inicialmente que era filho de uma médica e que era um estudante de medicina. No entanto, ao revelar essa informação durante a conversa, percebeu uma mudança drástica na postura do profissional que o atendia. Esse episódio o levou a refletir sobre por que o atendimento não havia sido conduzido desde o início com a mesma atenção e respeito, questionando, assim, os critérios subjetivos que influenciam as relações sociais e profissionais.

Participações da turma por escrito
Gabriel Costa afirmou que o trabalho explorou as diferenças entre preconceito, discriminação e estigma na atenção à saúde, destacando como esses fatores impactam o acesso e a qualidade do atendimento. O preconceito foi abordado como um julgamento prévio, baseado em crenças muitas vezes inconscientes que os profissionais de saúde podem ter em relação a determinados grupos, como pessoas LGBTQIAPN+, negros, indígenas e usuários de substâncias psicoativas. Já a discriminação foi apresentada como a concretização desse preconceito em ações ou omissões que resultam em atendimentos negligentes, recusa de cuidados ou tratamento diferenciado. O estigma, por sua vez, foi analisado como um fenômeno social que rotula e marginaliza certos pacientes, comprometendo sua autoestima e adesão ao tratamento. O estudo reforçou a importância de uma formação voltada para a humanização do atendimento e para o reconhecimento desses vieses, propondo estratégias como educação continuada, escuta ativa e acolhimento qualificado para superar essas barreiras no cuidado em saúde.
João Gabriel Toledo destacou que o curso de Medicina, muitas vezes, prioriza excessivamente a dimensão técnica, relegando a segundo plano a formação humanística e social do profissional. Esse enfoque pode perpetuar barreiras de preconceito que se manifestam no exercício da profissão. Em algum momento da carreira, todo médico atenderá pacientes em situação de vulnerabilidade, como pessoas negras, em situação de pobreza ou pertencentes a outros grupos historicamente excluídos. Para garantir um atendimento digno e equitativo, é fundamental que o profissional esteja preparado para acolher e cuidar de qualquer indivíduo que necessite de assistência, reconhecendo a igualdade de todos em dignidade e direitos. Nesse sentido, torna-se indispensável que o curso de Medicina incorpore reflexões sobre essas questões ao longo de sua formação, promovendo uma prática médica mais ética e inclusiva. Além disso, é essencial incentivar a denúncia de discriminações no ambiente de saúde e exigir a aplicação de medidas punitivas adequadas para combater essas práticas.
João Gabriel Moraes complementou ressaltando que preconceito, discriminação e estigma no atendimento à saúde representam barreiras significativas à adesão ao tratamento e impactam negativamente os desfechos clínicos. O receio do julgamento leva muitos pacientes a evitar consultas, omitir sintomas e abandonar tratamentos, resultando em diagnósticos tardios e agravamento de complicações. Grupos como pessoas vivendo com HIV, indivíduos LGBTQIAPN+, usuários de drogas e pessoas com transtornos mentais são particularmente vulneráveis a essas barreiras, o que compromete não apenas sua saúde física, mas também sua saúde mental. A exclusão e o atendimento de baixa qualidade nesses contextos aumentam os índices de morbidade e mortalidade. Para reverter esse cenário, é imprescindível investir na capacitação de profissionais de saúde, na criação de ambientes acolhedores e na garantia do sigilo no atendimento. Além disso, políticas públicas inclusivas devem ser fortalecidas para assegurar um sistema de saúde acessível e equitativo para todos.
Júlia Medeiros complementou a discussão ao destacar que as barreiras no atendimento podem se manifestar tanto de forma explícita, por meio de discriminações diretas e comentários preconceituosos, quanto de maneira sutil, gerando desconforto durante as consultas. Esse ambiente de insegurança pode dificultar a comunicação do paciente sobre suas queixas e sobre como seu contexto cultural influencia sua saúde. Para Júlia, esse cenário não apenas compromete a longitudinalidade da terapêutica, ao fragilizar o vínculo entre médico e paciente, mas também gera impactos significativos na dimensão emocional dos indivíduos. Ela enfatizou que preconceitos reforçados por profissionais de saúde — que deveriam atuar como rede de apoio e referência no cuidado — podem agravar sentimentos de isolamento e baixa autoestima, além de contribuir para o desenvolvimento ou a piora de transtornos mentais, como a depressão. Diante disso, ela defendeu a necessidade de uma formação médica mais sensível às questões da diversidade, de modo a garantir um atendimento que seja tecnicamente competente e humanamente acolhedor.
Rodrigo Lima, ao responder à pergunta apresentada pela equipe do seminário sobre como as barreiras no atendimento afetam a adesão e os excessos clínicos, destacou que a discriminação de grupos minoritários é um problema presente em diversos aspectos da vida das pessoas que sofrem com ela, incluindo o acesso à saúde. Como exemplo de discriminação estrutural, ele mencionou o fato de que, em João Pessoa, foi criado um ambulatório voltado para o atendimento de pessoas LGBTQIAPN+, porém, esse serviço está localizado em um hospital conhecido pelo tratamento de infecções sexualmente transmissíveis. Essa escolha, marcada pela insensibilidade institucional, reforça estereótipos e afasta muitos pacientes do atendimento, levando à perda de uma oportunidade essencial de cuidado em saúde.

Além disso, Rodrigo ressaltou que práticas discriminatórias ocorrem de forma cotidiana, como no caso de médicos que, devido a preconceitos, podem oferecer um atendimento diferenciado a uma pessoa negra, chegando até a prescrever tratamentos distintos daqueles convencionais como forma de expressar sua rejeição. Como consequência, pacientes negros podem perceber essas discrepâncias no atendimento e, por isso, optar por evitar certos profissionais ou até mesmo os serviços de saúde. Essa realidade estrutural compromete o acesso à saúde e impede que milhares de pessoas recebam atendimento adequado.
João Pedro Farias complementou a discussão ao enfatizar a importância de promover um atendimento em saúde mais equitativo, humanizado e livre de discriminação. Ele destacou que a formação dos profissionais de saúde deve ser constantemente aprimorada, com currículos que enfatizem a empatia, a inclusão e o respeito à diversidade cultural, garantindo que o atendimento seja acessível e acolhedor para todos. Além disso, ressaltou que a humanização no cuidado exige políticas institucionais eficazes no combate a preconceitos e estigmas, criando espaços seguros tanto para pacientes quanto para profissionais.
Por sua vez, João Pedro apontou que a identificação e a superação das barreiras ao acesso e à qualidade do atendimento são cruciais. Questões como preconceitos, falta de acessibilidade e comunicação inadequada impactam diretamente a adesão dos pacientes aos tratamentos, além de influenciar negativamente os procedimentos clínicos. O compromisso com um sistema de saúde mais justo passa, portanto, pela eliminação dessas barreiras e pela construção de um ambiente verdadeiramente inclusivo.
Arthur Felipe destacou que as barreiras no atendimento à saúde impactam diretamente a adesão ao tratamento e os desfechos clínicos dos pacientes. Segundo ele, quando um indivíduo se sente julgado ou desvalorizado, há uma maior tendência a evitar o retorno ao serviço de saúde, o que pode retardar diagnósticos e agravar doenças. Além disso, o julgamento e a discriminação podem gerar sentimentos de vergonha e baixa autoestima. Arthur também ressaltou que os estigmas enfrentados por grupos minoritários estão associados a transtornos alimentares, ansiedade e depressão, fatores que comprometem tanto a adesão ao tratamento quanto a qualidade de vida. Para ele, a superação dessas barreiras por meio de uma atenção mais humanizada e baseada em evidências é essencial para minimizar seus impactos e promover um atendimento mais inclusivo e eficaz.
Também participaram da discussão por comentários escritos os seguintes alunos: Ádria, Rafael Luiz, Lívia, Laura, Anna Luísa, Rafael Carvalho, Kaio Henrique, Maria Fernanda, Ana Clara e Lucas Freire.

7 de outubro de 2024

SEMINÁRIO SOBRE DIVERSIDADE RELIGIOSA E SAÚDE - PARTE 2

#diversidadeesaude #religião #ufpb #medicinaufpb #cristianismo  #autonomia #eticamedica #matrizafricana #rituais #competenciacultural

Neste vídeo, apresentamos a parte 2 da memória do Seminário sobre Diversidade Religiosa e Saúde com a turma de Medicina 117 da UFPB. 
A devolutiva  em vídeo das atividades de sala de aula sobre diversidade cultural religiosa ressalta a importância de um atendimento de saúde inclusivo e culturalmente sensível, que reconheça e respeite as implicações e práticas religiosas dos pacientes. Esse registro oferece uma oportunidade de reflexão sobre o papel da diversidade religiosa na formação médica, promovendo uma prática mais humanizada e integrativa.

6 de outubro de 2024

SEMINÁRIO SOBRE DIVERSIDADE RELIGIOSA E SAÚDE - PARTE 1


#diversidadeesaude #religião #stf #ufpb #medicinaufpb #testemunhasdejeova #autonomia 
Neste vídeo, apresentamos a memória do Seminário sobre Diversidade Religiosa e Saúde com a turma de Medicina 117 da UFPB, ocorrido em 22 de setembro de 2024. O seminário abordou a importância de considerar as diversas religiões no contexto da prática médica, destacando como a espiritualidade e a fé podem influenciar a percepção de saúde e o tratamento de pacientes.
Durante o evento, os estudantes discutiram temas como a relação entre religião e saúde, o impacto das religiões sobre procedimentos médicos, e a necessidade de uma abordagem sensível e respeitosa às diferentes tradições religiosas no atendimento médico. 

Assista ao vídeo para relembrar os principais momentos do seminário, incluindo as apresentações dos grupos, a discussão em sala e as contribuições dos professores. A atividade reforça a importância de um atendimento de saúde inclusivo e culturalmente competente, que valorize as preocupações e as práticas religiosas dos pacientes.

Esse registro é uma oportunidade para reflexão sobre o papel da diversidade religiosa na formação médica e na construção de uma prática humanizada e integrativa.

22 de setembro de 2024

ETARISMO E ATENÇÃO À SAÚDE

 

No seminário sobre etarismo e atenção à saúde, apresentado pela turma 117 do curso de Medicina da UFPB, o grupo composto por Gabriele, Maria Luisa, Luisa, Aoliabe e Maria Clara, abordou questões essenciais sobre a discriminação e os desafios enfrentados pelos idosos no acesso e no cuidado com a saúde.

Exposição 
Luisa iniciou a apresentação utilizando um recorte do filme "Up! Altas Aventuras", uma animação que conta a história de um idoso em um momento de transição de vida após a perda da esposa. A cena escolhida ilustrou o impacto emocional dessas mudanças, refletindo as dificuldades que muitos idosos enfrentam ao se depararem com novas realidades. 
Em seguida, Gabrielle deu continuidade ao tema discutindo a discriminação institucional, interpessoal e autoimposta, destacando que muitas vezes os idosos têm sua autonomia prejudicada, inclusive em consultas médicas, quando outras pessoas falam por eles, mesmo quando poderiam exercer seus direitos. Gabrielle mencionou o Relatório Global sobre Etarismo, que revela que 50% dos idosos sofrem atitudes discriminatórias que afetam sua saúde, e também discutiu a presença de idosos no mercado de trabalho, exemplificando com o caso da modelo de 73 anos chamada Rosa Saito. Ela pontuou que a discriminação contra idosos em todas as esferas é uma violação aos direitos humanos.

Maria Heloísa seguiu com uma exposição sobre os maus-tratos sofridos pelos idosos, abordando diversos tipos de violência, como abuso patrimonial e financeiro, frequentemente cometidos por familiares. Ela citou o Estatuto do Idoso e ressaltou a falta de atenção às necessidades dessa população, inclusive quanto à sua sexualidade. Além disso, mencionou o "Junho Violeta", movimento que alerta para os diferentes tipos de violência praticadas contra pessoas idosas, exemplificando com um caso recente de um idoso que morreu após ser violentamente agredido. Maria Heloísa reforçou a necessidade de suspeição nos atendimentos de saúde, alertando que negligência e discriminação podem culminar em violência psicológica e física.
Luísa abordou a exclusão digital dos idosos, mencionando um estudo que analisou os efeitos do uso do computador na cognição, estado emocional, qualidade de vida e habilidades manuais dos idosos. Ela destacou que as dificuldades enfrentadas por essa população são, em grande parte, de origem física e orgânica, com consequências significativas para a qualidade de vida. Além disso, mencionou a Fundação de Apoio ao Deficiente (FUNAD) e os desafios que os idosos enfrentam no acesso a serviços dessa instituição, principalmente relacionados ao uso de tecnologia para encaminhamentos online.

Aoliabe tratou da formação médica voltada para o cuidado com os idosos, criticando a deficiência na capacitação dos profissionais para lidar com essa população. Ela destacou que o rodízio em geriatria no Hospital Universitário Lauro Wanderley é opcional para os alunos do internato, o que pode impactar sua formação. Aoliabe compartilhou o caso de uma amiga que acompanhou a avó em uma consulta na Unidade de Saúde da Família, onde foi prescrito um ansiolítico inadequado para sua idade. Ela reforçou a importância da presença de geriatras nas equipes de atenção primária.
Por fim, Maria Clara abordou a saúde mental dos idosos, discutindo os fatores biológicos, psicológicos e sociais que influenciam o bem-estar dessa população. Ao encerrar o seminário, foi realizada uma dinâmica interativa com um quiz no aplicativo Kahoot, envolvendo todos os presentes na revisão sobre os conteúdos apresentados.
Também participei do Quiz com o nome de “Dona Anésia”, uma personagem criada pelo cartunista Will Leite. Ela é uma senhora rabugenta e franca, conhecida por suas críticas ácidas e certeiras. Os participantes do seminário não perceberam esse nome peculiar, possivelmente porque minha pontuação no teste ficou em apenas 3.999 pontos, não alcançando o pódio!...


Discussão
A discussão do seminário sobre etarismo na saúde começou com Sadrak relembrando o livro "O Demônio do Meio-Dia", que aborda a melancolia de uma idosa, e compartilhou uma experiência pessoal relacionada à sua avó, que sofria superproteção familiar. Rebeca complementou com a questão da geriatria, mencionada por Aoliabe, destacando a prescrição inadequada de medicamentos para idosos, como o uso automático de Memantina para déficits cognitivos. Ela também lembrou de dois livros de Ana Cláudia Quintana, que abordam o processo de envelhecimento e a importância de um acompanhamento geriátrico a partir dos 50 anos, ressaltando a melancolia no contexto da morte. Rebeca mencionou o conceito de testamento vital, em que a família, muitas vezes, toma conta da consulta, uma questão mencionada por Maria Heloísa. Felizardo levantou a questão do etarismo autoimposto, associando-o ao filme "O Pior Vizinho do Mundo", exemplificando como os idosos podem internalizar preconceitos. Um exemplo trazido foi o de um vídeo sobre uma estudante de 40 a 50 anos que apareceu em A repercussão do vídeo em que estudantes jovens do curso de Biomedicina de uma universidade particular de Bauru-SP zombaram de uma colega de 40 anos traz à tona questões importantes relacionadas ao etarismo, à cultura de bullying e ao ambiente acadêmico. Rebeca ainda falou sobre a corrida durante a velhice, relacionando com o médico e escritor brasileiro de 81 anos, Dráuzio Varela, que tem participado de várias corridas e eventos esportivos, reforçando seu compromisso com um estilo de vida ativo, enquanto Aoliabe lembrou que há alunos de 50 a 55 anos nas turmas de graduação em medicina da UFPB.
Felipe destacou a contradição entre o aumento da expectativa de vida e o aumento do preconceito contra idosos. Samuel compartilhou uma lembrança de sua avó, de 87 anos, que, após receber um elogio sobre sua beleza, rechaçou-o dizendo que "velha não é bonita", exemplificando o etarismo autoimposto. Luísa, também expositora do seminário, mencionou atrizes como Cláudia Raia, que teve uma gravidez após os 50 anos, e Mônica Martelli, que viveu momentos importantes fora do "tempo socialmente esperado". Rômulo elogiou o grupo pela apresentação e falou sobre sua convivência com a avó, que tem vergonha de se expressar nas consultas e resiste à inclusão digital. Letícia Meira reforçou a relevância do tema, lembrando como os idosos são frequentemente negligenciados e infantilizados, mencionando uma youtuber chamada Sônia Maite que aborda essas questões.
Karolina trouxe à tona a negligência em relação à dosagem de medicamentos para idosos, comparando com a atenção dada às crianças. Maria Eduarda compartilhou que as avós viúvas tendem a se autolimitar, como percebeu com sua própria avó, menos preocupada com sua qualidade de vida após a viuvez. Letícia Fonseca apontou a fragilidade dos idosos e como, muitas vezes, os próprios filhos limitam suas atividades, resultando em quadros de depressão, especialmente durante a pandemia. Emanuel falou sobre o mito envolvendo a sexualidade na velhice e os golpes contra o patrimônio sofridos por idosos. Hugo discutiu o descompasso entre a educação médica e o aumento da expectativa de vida, enquanto Ramon mencionou "A Sociedade do Cansaço", do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, argumentando que, por deixarem de produzir, os idosos são marginalizados.
Flávia relembrou que Rebeca havia comentado que sua avó foi à geriatria aos 50 anos, mas que ela não conseguia imaginar sua própria mãe fazendo isso aos 40. Mabel ressaltou que o respeito aos idosos é uma questão cultural, e Marcos observou que os jovens com sinais de calvície geralmente começam tratamentos precoces, por motivação estética e como um tipo de repulsa a aspectos relacionados ao envelhecimento. Ruth falou sobre uma blogueira de 73 anos que desafia estereótipos de vestimenta para idosos, Rose Saito, enquanto Guilherme finalizou mencionando o isolamento social e a marginalização dos idosos dentro de suas próprias famílias.

Feedback da Moderadora
A análise do seminário sobre etarismo na saúde revela um debate rico e multifacetado, que abrange experiências pessoais, reflexões teóricas e referências culturais, trazendo uma compreensão mais profunda sobre como o etarismo se manifesta e é internalizado na sociedade. Vou pontuar os aspectos mais interessantes e fundamentá-los teoricamente:
1. Superproteção e Infantilização de Idosos
O relato de Shadrach, sobre a superproteção familiar sofrida pela avó, e de Letícia Fonseca, sobre como filhos limitam as atividades dos pais idosos, traz à tona o conceito de infantilização, onde os idosos são tratados como incapazes de tomar decisões ou de viver de maneira independente. Isso se conecta com o que Letícia Meira chamou de negligência, onde a sociedade muitas vezes infantiliza ou ignora as necessidades dos idosos. Segundo Gullette (2004), essa infantilização reduz a autonomia dos idosos e pode contribuir para a depressão e perda de qualidade de vida, o que foi destacado por Felipe ao mencionar o aumento do preconceito contra idosos, apesar da maior expectativa de vida.
2. Prescrição inadequada e atenção médica
Rebeca e Carolina abordaram a questão da prescrição inadequada de medicamentos para idosos, como o uso automático de memantina para déficits cognitivos, e a negligência em relação à dosagem de medicamentos. Esses exemplos refletem um problema importante na geriatria, que é a iatrogenia – danos causados por tratamento médico inadequado, frequentemente relacionado à falta de formação médica sobre o envelhecimento saudável. Segundo Pilotto e Martin (2018), a educação médica precisa evoluir para lidar com a complexidade das condições geriátricas, algo que Hugo também mencionou ao discutir o descompasso entre a educação médica e o envelhecimento da população.
3. Etarismo autoimposto
O conceito de etarismo autoimposto, discutido por Rebeca e exemplificado por Samuel, quando sua avó rejeitou um elogio por acreditar que "velha não é bonita", reflete a internalização do preconceito. De acordo com Lévy (2009), quando os idosos internalizam estereótipos negativos sobre o envelhecimento, isso pode afetar negativamente a sua autoestima e saúde, levando a um ciclo de autoexclusão e retração social. Emmanuel também trouxe a questão do mito da sexualidade na velhice, outro aspecto de como os idosos internalizam limitações sociais impostas, que reforçam sua marginalização.
4. O papel das representações culturais e midiáticas
A menção a atrizes como Claudia Raia e Mônica Martelli, por Luísa, que desafiam os estereótipos de idade ao vivenciarem gravidezes e momentos importantes após os 50 anos, reflete o impacto que as representações culturais têm na percepção sobre o envelhecimento. O exemplo de uma blogueira que desafia estereótipos de vestimenta para idosos, trazido por Ruth, também destaca como figuras públicas podem romper com os estigmas associados à velhice. A gerontologia social enfatiza a importância das representações culturais em moldar percepções sobre o envelhecimento, mostrando que as normas sociais sobre o que é “apropriado” para cada idade são construções que podem ser desafiadas.
5. Isolamento social e marginalização dos idosos
Guilherme e Ramon destacaram o isolamento social e a marginalização dos idosos em suas famílias e na sociedade, temas também discutidos em A Sociedade do Cansaço, de Byung-Chul Han, mencionada por Ramon. Isso está relacionado ao conceito de invisibilidade social dos idosos, amplamente discutido em estudos sobre envelhecimento. Segundo Victor (2012), a exclusão social dos idosos muitas vezes resulta de uma sociedade que valoriza a produtividade e marginaliza aqueles que já não contribuem economicamente, reforçando o etarismo.

Considerações Finais
O seminário explorou de forma abrangente o etarismo em suas várias dimensões, com discussões baseadas em experiências pessoais, literárias e culturais. Teoricamente, os tópicos abordados remetem a conceitos fundamentais da gerontologia e gerontologia crítica, como infantilização, iatrogenia, etarismo autoimposto, invisibilidade social e a importância de representações culturais positivas na construção de novas narrativas sobre o envelhecimento. Essa discussão não só ilumina as desigualdades enfrentadas pelos idosos, mas também desafia as normas sociais e médicas que perpetuam o preconceito etário.


Referências
GULLETTE, M. M. Aged by Culture. Chicago: University of Chicago Press, 2004.

PILOTTO, A.; MARTIN, F. C. Comprehensive Geriatric Assessment. Cambridge: Cambridge University Press, 2018.

LEVY, B. R. Stereotype embodiment: a psychosocial approach to aging. Current Directions in Psychological Science, v. 18, n. 6, p. 332-336, 2009.

VICTOR, C. R. Loneliness in later life. In: Loneliness: Evidence and Interventions. Age UK, 2012.

HAN, B. C. A Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Editora Vozes, 2017.

10 de setembro de 2024

CAPACITISMO NA ATENÇÃO À SAÚDE

 
Durante a apresentação e  discussão do projeto baseado em equipes sobre capacitismo na disciplina de Diversidade Étnica e Cultural na Medicina, os alunos José Natanael, João Vitor, Caio, Carlos e João Vítor Estrela abordaram o tema de forma abrangente. Eles apresentaram a conceituação do capacitismo, e este como problema de saúde pública, além da questão da deficiência oculta. O grupo apresentou também os diferentes modelos de deficiência e os vários tipos de capacitismo: sistêmico, institucional, interpessoal e internalizado. Além disso, os integrantes do grupo trouxeram dados do canal de denúncias Disque 100, destacando as barreiras enfrentadas por pessoas com deficiência, e mencionaram a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF).
Os alunos também destacaram exemplos de atletas das Paralimpíadas em Paris, com ênfase no sucesso dos atletas brasileiros, que até o momento conquistaram 89 medalhas, incluindo cinco de ouro. Mencionaram especificamente o paraibano Petrúcio, atleta paralímpico que treinava na Universidade Federal da Paraíba. 
Para engajar os colegas, eles conduziram um quiz sobre capacitismo e atenção à saúde. Após o quiz, iniciei a discussão e abri espaço para os alunos participarem do debate. Comentei positivamente sobre a inclusão do conceito de diversidade funcional, destacando a visão mais ampla e inclusiva do grupo em relação às questões de deficiência, o que reflete um entendimento mais profundo das múltiplas dimensões da diversidade humana. Por fim, sugeri que, na apresentação dos trabalhos futuros, além das dinâmicas de grupo e debates, os próximos projetos fossem incluídos estudos de caso para enriquecer ainda mais a discussão e contextualizar o problema na prática.
A discussão começou com Ruth abordando o capacitismo estrutural e as barreiras de acessibilidade presentes em diversos contextos, como trabalho, estudo e, especialmente, em instituições de educação e saúde. Felizardo trouxe à tona exemplos de capacitismo observados na própria universidade. Ronielle comentou sobre a rotulação de pessoas ou instituições consideradas capacitistas, mas destacou que, em algumas escolas, alunos com deficiência intelectual acabam sendo nivelados por baixo, pois não conseguem acompanhar o ritmo de ensino. Ele também mencionou que a inclusão de crianças com autismo nas salas de aula, mesmo quando não têm deficiência intelectual, é limitada a um tutor, o que pode ser visto como segregação. Emmanuel acrescentou que a lei exige que crianças com autismo ou deficiência intelectual tenham acompanhantes, mencionando um caso em que sua mãe, professora municipal, precisou exigir a aplicação dessa norma em sua escola.
Felipe destacou a necessidade de tratar as diferenças de forma equitativa, com mais recursos econômicos e profissionais capacitados para atender as crianças com deficiência no sistema escolar. Karolina elogiou o grupo e apontou que a frase "nivelar por baixo" é capacitista, além de comentar que as Paralimpíadas têm menos visibilidade que as Olimpíadas, o que também reflete um tipo de capacitismo. Letícia Araújo reforçou essa observação, destacando a diferença de repercussão entre os dois eventos.
Sadrak complementou mencionando que a expectativa de limitação quando se trata de considerar pessoas com deficiência é comum, porém todos temos deficiências, ainda que nem todas sejam visíveis. Ele citou a falta de design universal como uma barreira generalizada, mencionando como frutas pré-cortadas nos supermercados são um exemplo de acessibilidade, mas com um custo elevado, é inacessível para a maioria das pessoas com deficiência. Ele também comentou sobre a inadequação de slides e materiais para pessoas com deficiência visual, incluindo daltônicos.
Samuel parabenizou o grupo e relembrou um atleta paralímpico chinês sem membros superiores, destacando a inclusão na música com exemplos como o baterista Rick Allen da banda Def Leppard, que continuou na banda após um acidente que resultou em deficiência motora. Ele também mencionou o guitarrista Tony Iommi da banda Black Sabbath, reforçando a importância da inclusão de pessoas com deficiência na música. Ambos sofreram acidentes graves que resultaram em perda de membros, mas superaram esses desafios para continuar suas carreiras musicais. Rick Allen perdeu o braço esquerdo em um acidente de carro em 1984. Ele desenvolveu uma técnica para tocar bateria usando um kit modificado, que lhe permitiu continuar como o baterista da banda. Tony Iommi perdeu a ponta de dois dedos da mão direita em um acidente de trabalho aos 17 anos, pouco antes de se juntar ao Black Sabbath. Ele usou dedais de borracha e afinou sua guitarra de forma mais leve para facilitar o toque. Assim, ambos são exemplos de superação e adaptação, continuando a tocar seus instrumentos de forma inovadora mesmo após enfrentarem limitações físicas.
A discussão também abordou preconceitos linguísticos, incluindo termos usados em esportes paralímpicos, como a "bocha", que seria pronunciada de forma diferente conforme a região do Brasil. Nesse ponto da discussão, surgiu a ideia de outro tipo de discriminação, a que envolve regionalismos e pronúncias diversas, mas surgiu o insight sobre a necessidade de evitar esse tipo de discriminação e qualquer outro, mesmo em brincadeiras. 
Francisco, ao complementar Sadrak, trouxe sua experiência como ex-estudante de Arquitetura, destacando a falta de acessibilidade nas calçadas e no campus da universidade, lembrando que o planejamento urbano muitas vezes ignora as necessidades de pessoas com deficiência. Ele retomou o ponto sobre o custo elevado de frutas pré-cortadas, ressaltando a inacessibilidade econômica para pessoas com deficiência que precisam desses produtos.
Ana Luisa compartilhou sua vivência ao visitar o Instituto dos Cegos de João Pessoa, apontando que mesmo em instituições especializadas há barreiras significativas. Francisco voltou a falar sobre a priorização de espaços para carros em detrimento de pessoas em áreas comerciais, observando que o lucro é mais valorizado que a acessibilidade. Emmanuel trouxe de volta o tema das Paralimpíadas e destacou o subfinanciamento de esportes para pessoas com deficiência, em contraste com o patrocínio elevado de esportes como o futebol para cegos.
Flávia encerrou a discussão mencionando as barreiras estruturais nas escolas, apontando que a deficiência é diversa e que o sistema educacional brasileiro ainda não implementou completamente as obrigações legais para inclusão. Ela compartilhou a experiência de um colega com deficiência em sua escola, reforçando que a inclusão ainda é exceção. Letícia Fonseca citou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que prevê a autonomia do pedagogo e o auxílio de sala para crianças com deficiência, ressaltando a falta de abordagem desse tema nos cursos de pedagogia. Guilherme finalizou comentando que a infraestrutura das instituições reproduz o capacitismo por meio das barreiras presentes tanto no sistema de saúde quanto no de educação.
Houve entrega de 20 participações por escrito dos outros componentes da turma.
O seminário decorrente do projeto baseado em equipes sobre capacitismo na atenção à saúde proporcionou uma oportunidade valiosa para refletirmos sobre as barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência no acesso aos serviços de saúde. Ao longo da discussão, ficou evidente que o capacitismo não é apenas uma questão de acessibilidade física, mas também de atitudes e práticas que perpetuam a exclusão e a discriminação.
Compreendemos que o capacitismo se manifesta de diversas formas, desde a falta de infraestrutura adequada até a desvalorização das capacidades das pessoas com deficiência. Esse preconceito estrutural afeta negativamente a saúde e o bem-estar dessas pessoas. Relatos de experiências pessoais destacaram a importância de ouvir e valorizar as vozes das pessoas com deficiência. Os desafios enfrentados por elas, como a falta de acessibilidade e o preconceito, foram discutidos em profundidade.
O combate ao capacitismo na atenção à saúde exige um esforço coletivo e contínuo. É fundamental que todos os envolvidos, desde gestores até profissionais de saúde e a sociedade em geral, se comprometam a promover a igualdade e a dignidade das pessoas com deficiência. Somente assim poderemos construir um sistema de saúde verdadeiramente inclusivo e acessível para todos.

21 de agosto de 2024

RACISMO NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE: SEMINÁRIO COM A TURMA 117 MED/UFPB

 

Memória do II seminário da disciplina de Diversidade Étnica e Cultural na Medicina no semestre 2024.1, com a turma 17/Medicina/UFPB, com o tema "Racismo na Atenção à Saúde"

1. Exposição

A apresentação foi iniciada por Felipe, que explorou os conceitos de raça, racismo, discriminação e estereótipos.

Em seguida, Edvaldo apresentou dados estatísticos e aspectos legais relacionados ao racismo, destacando a identidade social, o sofrimento racial, e a associação frequente entre grupos étnicos e criminalidade. Ele mencionou ainda o Estatuto da Igualdade Racial e a Lei nº 14.532, de 2003, que agrava a penalidade para injúria racial.

Samuel prosseguiu, discutindo o impacto do racismo institucional na saúde da população negra. Ele relembrou a trajetória de Vivien Thomas, pioneiro da cirurgia cardíaca, cuja história inspirou um filme que evidencia como a medicina teria progredido mais se ele tivesse tido a oportunidade de concluir seu curso. Samuel também abordou as questões de racismo e oportunidades na carreira médica. 

Ramon, em sua exposição, tratou dos acidentes e incidentes relacionados à iniquidade na assistência à população negra. Ele observou que tais desigualdades nem sempre resultam de racismo intencional, mas são fruto do racismo estrutural, muitas vezes inconsciente. Ele ainda mencionou que a literatura e os estudos empíricos, assim como o senso comum, apontam que se acredita que a mulher negra necessita de menos anestesia durante a episiotomia, uma percepção decorrente do racismo científico. Ramon enfatizou que essa prática não significa que os médicos sejam racistas de forma explícita. 

Por fim, Guilherme propôs soluções, como a reformulação do currículo do curso de medicina, e comentou que a implementação da lei de cotas raciais tem, paradoxalmente, promovido menor diversidade racial em diversos cursos universitários, incluindo o de medicina.

Para concluir o seminário, Marcos, que não pôde comparecer presencialmente, enviou um vídeo aplicando um questionário via Google Forms, onde os participantes responderam a um quiz sobre o conteúdo apresentado pelos colegas.


2. Discussão

A discussão iniciou-se com várias inscrições de alunos da turma, começando por Flávia. Ela destacou a relevância dos casos clínicos como uma forma importante de aprendizado sobre questões de diversidade, especialmente sobre o racismo na atenção à saúde. Flávia também observou que há uma crescente discussão sobre o racismo entre os estudantes de medicina atualmente. Em seguida, Heloísa comentou que nunca havia percebido como os casos clínicos podem ajudar a refletir sobre essas questões. Letícia F. acrescentou que, além de não ser racista, é essencial adotar uma postura antirracista. Já Letícia M. elogiou a apresentação do grupo, afirmando que ela foi além do conhecimento pré-existente e ressaltou as perspectivas apresentadas para combater o racismo no contexto da saúde.

Emanuel abordou a política afirmativa de cotas nas seleções de estudantes para universidades, sugerindo que a lei deveria ser revisada em alguns aspectos. Em resposta, Edvaldo, membro do grupo, comentou que, mesmo após 14 anos da implementação das cotas, apenas 3% dos médicos são negros, levantando uma questão retórica sobre possíveis falhas no sistema.

Ruth elogiou a apresentação e fez uma distinção entre racismo interpessoal e racismo institucional. Ela destacou que as instituições refletem a base racista da sociedade, associando-se a diversos tipos de preconceito. Sadrack, por sua vez, criticou a falta de ação concreta de muitos governos no combate ao racismo, apesar dos discursos. Ele defendeu a importância das cotas e sublinhou que essas políticas garantem oportunidades às pessoas negras, que são direito delas. Sadrack também enfatizou que, além do ingresso na universidade, é crucial assegurar a permanência dos estudantes cotistas. Por fim, ele mencionou o livro “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, como uma obra relevante que auxilia na compreensão dessas questões.

Dando continuidade à memória desse seminário sobre Racismo na Assistência à Saúde, Francisco destacou que há uma percepção e um discurso recorrente que posicionam a pessoa negra sempre como paciente, e não como integrante da equipe de trabalho. Ele sugeriu que a convivência com pessoas negras fora do ambiente acadêmico pode ajudar a reduzir preconceitos e discriminações, uma ideia que também se aplica a outros grupos minoritários socialmente. Francisco declarou que o relacionamento com pessoas fora da academia, especialmente aquelas com identidades diversas, têm um impacto positivo no combate ao racismo.

Rômulo trouxe um relato pessoal para ilustrar a complexidade do racismo. Ele contou a história de um amigo pardo, filho de uma mulher negra, que foi separado da mãe em um aeroporto devido à suspeita de sequestro, apenas porque a mãe tinha a pele mais escura que a dele. Esse episódio, segundo Rômulo, demonstra como o racismo afeta não só a pessoa diretamente visada, mas também seus familiares. Edvaldo abordou a questão da sub-representação racial em relação à moradia. Ele observou que os bairros mais nobres são habitados quase exclusivamente por brancos, enquanto as periferias são majoritariamente negras. Esse cenário reflete-se também na medicina, uma área ainda predominantemente ocupada por pessoas brancas, reforçando o caráter elitizado do curso de medicina.

Ruth retomou a discussão ao apontar que, historicamente, a narrativa sobre os negros tem sido controlada por pessoas brancas, o que pode introduzir vieses, pois a perspectiva branca é diferente. Ela mencionou a autora Chimamanda Ngozi Adichie, que popularizou a expressão "o perigo de uma única história". Ela argumentou que limitar-se a uma única narrativa sobre um povo ou uma cultura cria estereótipos e desumaniza as pessoas. Adichie defende a multiplicidade de vozes e histórias como forma de representar com mais precisão a complexidade das vidas humanas. Ruth ressaltou a importância de trazer o protagonismo negro para dentro da universidade e na história contada, garantindo que os negros possam contar suas próprias visões.

Rebeca destacou ainda a importância da representatividade negra na escola e na universidade, ressaltando como a presença de vozes e histórias negras é essencial nesses espaços. Além disso, ela abordou o tema das guerras no contexto atual, observando que os conflitos na África recebem pouca cobertura midiática em comparação com outras guerras ao redor do mundo. Rebeca também lembrou que existiram outros holocaustos além do que mais conhecemos, mencionando, por exemplo, o extermínio dos aborígenes na Austrália. Em um relato pessoal, Rebeca compartilhou a experiência de pertencer a duas famílias muito diferentes entre si, refletindo sobre a complexidade de lidar com pessoas de outras gerações, como os avós, que muitas vezes têm uma visão diferente e, por vezes, carregada de preconceitos e discriminação em relação a grupos identitários, como os negros. Ela destacou a dificuldade de dialogar ou tentar apresentar uma nova perspectiva, mais aberta, sobre o mundo para essas pessoas. Rebeca ainda relatou eventos de racismo cultural, em que se distinguem os cabelos das mulheres negras como “ruins”, na visão generalizada na sociedade brasileira de que o ideário hegemônico de aparência desejável e de beleza física é o modelo europeu, branco e com cabelos lisos. Rebeca também considerou fundamental que a história africana fosse incluída nas demais disciplinas do curso de Medicina, ampliando assim a compreensão dos futuros profissionais sobre a diversidade cultural. Complementando o que foi dito por Rebeca, Felipe lembrou do quadro "A Redenção de Cam", de Modesto Brocos, que retrata uma avó negra celebrando o nascimento de uma criança branca em uma família mestiça, trazendo à tona questões sobre identidade e raça.

Jallysson, por sua vez, mencionou ser parte de uma família interracial e compartilhou uma experiência pessoal, onde seu sobrinho, de pele clara, enfrenta questionamentos na escola sobre as diferenças entre sua cor e a do pai, que é pardo. Essa situação ilustra a necessidade de entendimento e aceitação das diferenças dentro do próprio núcleo familiar. Ronielle comentou que os debates sobre racismo muitas vezes permanecem superficiais, sem abordar as raízes profundas que sustentam o preconceito e a discriminação em nossa sociedade, fatores que impactam diretamente a prática de assistência à saúde. Ele destacou que o próprio governo brasileiro implementou uma política de embranquecimento e que muitas nações africanas foram escravizadas, com pessoas da nobreza, incluindo príncipes e reis, sendo sequestradas. Além disso, Ronielle observou que a cultura negra é frequentemente demonizada, reforçando a negação de nossa origem africana, como exemplificado pelo embranquecimento de figuras históricas. Ele mencionou, por exemplo, que Jesus, apesar de ser do reino da Judeia, no antigo Israel, provavelmente tinha a pele escura devido à sua ascendência egípcia. Também lembrou que Cleópatra, rainha do Egito, era uma mulher negra, destacando que o Egito está localizado na África, o que ilustra também as raízes do racismo estrutural. Ronielle também ressaltou que o movimento negro dos anos 1960, com sua luta por direitos e igualdade, foi uma busca por reparação histórica. Ele explicou que, após a abolição da escravatura, os negros libertos foram deixados sem recursos ou bens, o que levou à formação das favelas nos morros, onde muitos antigos quilombolas passaram a residir. Mesmo diante de políticas afirmativas, Ronielle mencionou que há pessoas negras e pardas que se opõem às cotas, ignorando o fato de que essas políticas são uma forma de reparação histórica. Ele destacou também o mito da democracia racial no Brasil e a importância das cotas, argumentando que, se a meritocracia fosse o único critério, o elitismo nos cursos de medicina se perpetuariam, já que, historicamente, os médicos eram oriundos de famílias ricas. Ronielle concluiu afirmando que a participação dos brancos é crucial no engajamento na luta antirracista.

Por fim, João Guilherme acrescentou que, embora se fale muito sobre racismo, o protagonismo negro ainda é escasso nas principais instâncias de estruturação da sociedade, destacando-se, contudo, nos esportes. Ele apontou que o racismo se manifesta também na percepção de que os negros se destacam predominantemente na sociedade como atletas, pelo desenvolvimento da força física, reduzindo suas capacidades intelectuais e reforçando estereótipos racistas.

As participações por escrito iniciaram com a contribuição de Lívia. Ela destacou que o problema do racismo institucional e interpessoal persiste em grande parte devido à complacência de profissionais que, embora não se considerem racistas, também não se empenham em ser antirracistas. Dessa forma, a impunidade relacionada a esse crime vai além da esfera jurídica, permeando também a esfera pessoal e o ambiente de trabalho. Se um comentário ou comportamento racista provoca uma reação de correção e reprovação generalizada e pública, frequentemente o autor não é responsabilizado por suas ações. Ela lembrou que o livro "Pequeno Manual Antirracista" aborda esse tema de forma eficaz e pode servir como um aprendizado valioso para futuros profissionais de saúde.

Em seguida, Emilly comentou que o racismo está enraizado no Brasil, sendo perceptível no dia a dia e afetando diretamente a assistência à saúde. Tanto os usuários quanto os profissionais de saúde sofrem com preconceito cotidianamente. Exemplos comuns incluem médicos negros que enfrentam discriminação devido à cor da pele, como quando são confundidos com enfermeiros—ainda que não haja demérito na enfermagem , o racismo estrutural se manifesta na ideia de que uma pessoa negra não pode ser médica, considerando que se trata de um curso historicamente elitizado. Além disso, Emilly comentou que há casos recorrentes de fraudes em universidades públicas no que diz respeito às cotas raciais. Esse ponto foi aprofundado pelo colega de turma Edvaldo, em sua apresentação, quando observou que, apesar da lei de cotas existir há 14 anos, a quantidade de estudantes de medicina e médicos negros ainda é muito pequena em comparação ao que seria desejável. Ele também destacou que, embora disciplinas como diversidade étnica e cultural contribuam para a formação médica em questões raciais, a UFPB continua a presenciar atitudes racistas estruturais, como a negligência ou conivência em relação a fraudes nas cotas raciais, o que compromete o desenvolvimento acadêmico.

Fernanda, por sua vez, destacou a fala de Ramon sobre a situação das mulheres negras durante o pré-natal, que recebem menos orientações e são mais sujeitas à episiotomia. Ela compartilhou sua experiência de participação em uma pesquisa realizada no hospital universitário, onde revisou prontuários de mulheres que deram à luz no hospital, constatando que a grande maioria das mulheres pardas e negras sofreram episiotomia durante o parto, procedimento que estava registrado nos prontuários dessas mulheres de forma “escancarada”. A episiotomia é considerada uma forma de violência obstétrica.

Aoliabe comentou que o grupo apresentou bem sobre o grave problema do racismo em relação às políticas de saúde e também na educação. Sob essa ótica, ele comentou que uma ação muito bem implementada para tentar reparar as perdas históricas e aumentar a quantidade de estudantes negros, tanto em medicina quanto em outros cursos de graduação, faria política de cotas sociais. "Com uma política, já vemos a quantidade de médicos negros no Brasil aumentar e, com isso, também aumenta a qualidade de vida na população negra no Brasil. Além disso, cabe também ao governo implementar mais formas de avaliação mais severas para crimes de injúria racial", disse ele.

Isa escreveu que, inicialmente, em a frase, "não basta não ser racista, é preciso ser antirracista", reflete a ideia de que simplesmente não praticar o racismo não é suficiente; é necessário agir ativamente contra o racismo para promover a justiça social e combater a discriminação racial. Ela comentou ainda que essa frase apresentada durante a exposição do seminário lhe marcou, já que esse pensamento deve ser usado tanto na vida privada quanto na vida profissional. "O grupo apresentou o tema trazendo pontos fora do senso comum e estimularam a nossa autocrítica de uma forma muito didática", disse Isa.

Hugo comentou que gostou da fala da colega Ruth durante a discussão em sala de aula, quando ela abordou o viés trazido na construção dos processos históricos, a qual é feita por pessoas brancas e isso agrava o cenário de desigualdade racial. 

Danilo comentou sobre o racismo na medicina e no racismo em geral. Ele recomendou o documentário "Good Intentions", criado por Walter Williams, um economista e comentarista social, que critica várias políticas governamentais, especialmente aquelas relacionadas à guerra contra a pobreza. Williams argumenta que essas iniciativas, embora bem-intencionadas, muitas vezes tiveram efeitos adversos nas comunidades que deveriam ajudar, especialmente a comunidade afro-americana, mostrando uma perspectiva diferente sobre como a sociedade, ao tentar resolver problemas com boas intenções, acaba muitas vezes piorando os problemas, visto que não se procura saber o que essa mesma população verdadeiramente precisa sem dar voz às pessoas que estão vivenciando as desigualdades.

A participação de Isadora foi a seguinte: ela considerou que o racismo pode se encontrar de forma muito velada na universidade, nas falas e nos pequenos atos, e ela acha que é por tentativas de erradicar e reprimir o racismo completamente que muitas vezes as pessoas pardas são invisibilizadas. "Temos olhos de embranquecimento da população, e em algumas falas os meninos discutiram sobre como na nossa sala não havia pessoas negras, mas isso também acaba reprimindo pessoas presentes na sala de aula, por se considerarem pardas", opinou.

Luísa comentou uma denúncia de um caso recente de racismo dentro de uma unidade de terapia intensiva de um hospital privado da zona sul de São Paulo, o que chama a atenção para a urgência de letramento racial de profissionais de saúde e da criação de canais de acolhimento para as vítimas. Ao perguntar sobre sua alta ao médico, uma paciente negra ouviu deste que iria deliberar com a equipe sobre a sua “carta de alforria”, deixando o local aos risos. A paciente foi agredida e saiu do hospital com a percepção de não ter recebido o cuidado adequado para o seu quadro clínico.

A contribuição de Mabel destacou a importância de promover campanhas educativas sobre o racismo e seus impactos na saúde, tanto para o público em geral quanto para os profissionais de saúde. Além disso, ela enfatizou a necessidade de incentivar a participação ativa das comunidades negras em fóruns de discussão sobre saúde, garantindo que suas vozes sejam ouvidas nas tomadas de decisão.

Maria Clara comentou que o seminário apresentado pelo grupo a fez refletir profundamente sobre o impacto do racismo na medicina, especialmente como ele compromete um dos direitos constitucionais mais fundamentais: o direito à saúde. Ela enfatizou a importância de discutir a diversidade ainda na graduação nos cursos da saúde. Gabrielle destacou o valor de a UFPB ter incluído essa disciplina no currículo de garduação em medicina, permitindo que questões raciais, especialmente o racismo, sejam abordadas. Ela ressaltou que ampliar a compreensão sobre essa questão é essencial para garantir um cuidado integral ao paciente. Ela referiu que os dados apresentados por Edvaldo, revelando que apenas 3% dos médicos se autodeclaram pretos, enquanto 88% da população carcerária é preta, foram alarmantes,e tais números evidenciam como o racismo impede a integração justa e eficiente dessa população na sociedade. Gabrielle ainda declarou que o ambiente da sala foi acolhedor, permitindo que os colegas compartilhassem suas vivências na luta contra o racismo. Ana Luíza escreveu que achou o seminário sobre racismo na assistência médica extremamente relevante para a formação dos futuros médicos, já que eles irão atender uma grande parcela de pacientes negros e pardos. Ela destacou a importância de entender o papel do médico na promoção da igualdade na atenção à saúde. Ana Luíza destacou que o grupo que apresentou o seminário chamou sua atenção ao abordar a importância da discussão de casos clínicos, uma ferramenta essencial para inserir o médico nesse universo da diversidade. Felizardo mencionou que, durante a apresentação, o que mais o impactou foi a reflexão sobre o racismo como um obstáculo ao cuidado integral da pessoa. Ele destacou que, com o cuidado técnico, se os processos sociais e étnico-raciais não forem considerados, o cuidado não será completo. Nesse sentido, ele ressaltou que é fundamental não apenas abordar a questão racial, mas também considerar o contexto sociocultural como ferramenta para mitigar os efeitos do racismo na saúde.

Júlia destacou a teoria do sociólogo francês Pierre Bourdieu, que define a violência simbólica como uma forma sutil de dominação e exclusão, capaz de incutir nos indivíduos conceitos e regras que os mantêm na condição de dominados. Ela considerou que o grupo abordou com competência essa violência simbólica, discutindo preconceitos, estereótipos e estatísticas relevantes sobre a saúde da população negra. Ela também considerou importante salientar a falta de representatividade étnico-racial na literatura médica, especialmente porque a cor da pele pode influenciar a manifestação de certas doenças dermatológicas. "Quando a literatura não inclui imagens de quadros dermatológicos com imagens de pessoas com diferentes tons de pele, o tratamento oferecido à população negra é comprometido", concluiu Júlia.

Emilly comentou que um ponto crucial abordado durante o seminário foi a importância de ser antirracista, combatendo ativamente pensamentos e atitudes racistas no dia a dia. J. V. Estrela observou que o racismo tem sido historicamente associado à cor da pele, desde a época da escravatura. Ele citou grandes ícones do esporte e da luta pelos direitos civis, como Jesse Owens, que em 1936, em Berlim, venceu medalhas de ouro olímpicas em pleno regime nazista, além de figuras como Malcolm X e Martin Luther King, que lutaram pela causa antirracista globalmente. No Brasil, ele mencionou pensadores como Florestan Fernandes, além de atletas como Leônidas da Silva, o "Diamante Negro". Na atualidade, ele destacou o jogador Vinícius Júnior, do Real Madrid e da seleção brasileira, como um importante porta-voz na luta antirracista. Na área da saúde, João Victor enfatizou a importância da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra para promover a integralidade do cuidado. Ele defendeu a necessidade de discutir casos clínicos relacionados ao tema e de transformar a maneira como a integralidade do cuidado é abordada, combatendo tanto o racismo institucional quanto o interpessoal.

Caio sugeriu, no contexto do racismo na medicina, a recomendação do filme autobiográfico "Mãos Talentosas", que narra a trajetória do neurocirurgião Ben Carson, destacando as várias fases de sua vida e as barreiras que enfrentou por ser uma pessoa negra. O filme ilustra não apenas sua pioneira carreira na neurocirurgia pediátrica, mas também a disparidade entre o número de médicos brancos e negros, e a relevância de sua figura tanto na medicina quanto na política, onde chegou a concorrer à presidência dos Estados Unidos.

J. V. Ramos destacou que a discussão sobre o racismo na medicina foi bem introduzida pelos médicos, provocando uma reflexão crítica em diversas frentes. É essencial que os profissionais de saúde reconheçam seus próprios preconceitos e se empenhem em erradicá-los em suas práticas, incluindo a discriminação. A formação médica deve incorporar uma educação que aborde a diversidade cultural, o racismo e suas consequências para a saúde dos pacientes. "Além disso, é crucial promover uma prática inclusiva que abranja uma variedade de grupos sociais e étnicos, assegurando que todos os pacientes recebam o melhor atendimento e tratamento possível", disse Ramos, que ainda destacou que iniciativas para aumentar a diversidade nas profissões de saúde são igualmente fundamentais para garantir uma representação mais equitativa. Ele disse ainda que essas reflexões e ações são urgentes e necessárias para que o sistema de saúde se torne mais justo e igualitário. "O combate ao racismo na medicina é um passo crucial para garantir que todos os indivíduos, independentemente de sua origem racial ou étnica, tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade", finalizou.

Carlos elaborou um mapa conceitual, incluindo no centro do gráfico a expressão "estatísticas reveladoras", que conecta à sub-representação nas universidades, à sub-representação em cargos de maior remuneração e à sub-representação em cargos de liderança. No centro de um outro diagrama, ele colocou o termo "currículo universitário", ligando-o a um "currículo eurocêntrico," "perpetuador de desigualdades" e "falta de representação histórica dos povos indígenas e afrodescendentes." Outro diagrama apresenta a palavra "legislação" no centro, com setas para "igualdade de oportunidades," "combate à discriminação" e "somente leis não são suficientes." Carlos enfatizou que é fundamental que universidades, empresas e instituições públicas se comprometam com a diversidade e inclusão por meio de ações afirmativas, educação antirracista e interseccionalidade entre raça, gênero, classe social e outras identidades.

José Nathanael mencionou o estudo da sífilis em Tuskegee (1932-1972), realizado no Alabama, EUA, com participantes negros, que não receberam o sem tratamento adequado, que já existiu a partir da década de 1940, para avaliar a evolução natural da doença. Ele comentou que o referido estudo apresentou vários problemas bioéticos, como a falta de informação aos participantes sobre sua condição de saúde e a negação do tratamento com penicilina, evidenciando o desrespeito à autonomia e bem-estar dos negros, mesmo na saúde e na pesquisa científica.

Karolina parabenizou o grupo pela apresentação dinâmica de rica e abordou o racismo estrutural no Brasil, que afeta vários aspectos da vida. Ela criticou o discurso de meritocracia, que ignora as iniquidades, ressaltando que os dados do seminário, mostrando que apenas 3% dos médicos se autodeclaram negros, são alarmantes. É necessário refletir e mudar esses discursos prevalentes para promover maior representatividade. Ela salientou que a política de saúde do Brasil prevê cuidado universal, e é fundamental que futuros médicos garantam esse cuidado integral a todos, independentemente de sua cultura ou cor de pele.

Finalmente, Maria Eduarda destacou a discussão sobre o racismo institucional, que muitas vezes é associado a ofensas explícitas. Ela enfatizou a importância de uma postura ativa de combate ao racismo e a compreensão integral do paciente para promover o melhor cuidado possível. Maria Eduarda também elogiou a inclusão de dados estatísticos pelo que apresentou o tema para validar suas perspectivas e expressou sua surpresa com o fato de que apenas 3% dos médicos são negros. Ela concluiu que a base estrutural do racismo perpetua as desigualdades socioeconômicas e que é crucial discutir e buscar soluções para mudar essa realidade continuamente.


3. Comentários da Moderadora

Para concluir, farei alguns comentários finais que, em virtude da exiguidade do tempo da aula presencial, não foi possível compartilhar. Quero destacar o fato de um dos participantes expressar preferência por participar da discussão posta por escrito, devido ao receio de cometer um erro ao falar oralmente, o que poderia ser mal interpretado. Ele pode haver temido que suas palavras fossem mal interpretadas ou que ele fizesse uma declaração considerada ofensiva ou insensível. Ele se sentiu mais confortável formulando suas ideias de forma escrita, onde poderia revisar e refinar suas palavras antes de compartilhar. A escolha de participar por escrito pode também mostrar uma conscientização e sensibilidade em relação ao tema do racismo, ao reconhecer a complexidade e a delicadeza do assunto e preferir uma abordagem que permitisse uma reflexão mais cuidadosa. Contudo, essa estratégia de aprendizagem no formato escrito pode ser mais eficaz para organizar e comunicar pensamentos complexos. Ao escrever, há uma expressão mais clara e precisa das suas ideias. Esse comportamento sugere a necessidade de criar um ambiente seguro e acolhedor nas discussões sobre temas sensíveis, onde os estudantes se sintam confortáveis para expressar suas opiniões sem medo de julgamento. Além disso, percebi que será interessante promover uma outra discussão sobre como abordar discussões difíceis com respeito e empatia, além de incentivar uma comunicação aberta e construtiva.

A frase “em uma sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista” foi mencionada por vários participantes durante o seminário, tanto na parte expositiva quanto na fase de discussão oral e escrita. Tra-se de uma citação icônica, frequentemente atribuída a Angela Davis, uma importante ativista e acadêmica americana, conhecida por seu trabalho em direitos civis e feminismo negro.

O antirracismo é o processo ativo de identificação e eliminação do racismo por meio da mudança de sistemas, estruturas organizacionais, políticas, práticas e atitudes, de modo que o poder seja distribuído e compartilhado de forma equitativa. São estratégias, teorias, ações e práticas que desafiam e combatem o racismo, as desigualdades, os preconceitos e a discriminação com base na raça.

Assim como no último encontro de nossa disciplina, observei uma participação ativa e engajada dos estudantes, refletindo um profundo interesse pelo tema discutido. O seminário foi marcado por contribuições significativas e um diálogo produtivo, que evidenciaram o comprometimento dos participantes com os objetivos do seminário.

Os participantes demonstraram capacidade de análise e empatia, trazendo à tona experiências e perspectivas pessoais que enriqueceram a discussão. A abordagem baseada em projetos permitiu uma exploração profunda dos impactos do racismo na atenção à saúde, e os alunos apresentaram propostas inovadoras para promover a inclusão e o apoio a pacientes de diferentes origens.

A participação ativa foi um ponto alto da atividade, com muitos integrantes da turma oferecendo insights valiosos e questionamentos desafiadores que estimularam uma discussão rica. A reflexão crítica sobre as questões levantadas mostrou um amadurecimento no entendimento do tema abordado e uma disposição para questionar e buscar soluções para problemas complexos.

O feedback dos participantes à exposição pelo grupo foi positivo, com muitos destacando a relevância do tema abordado. A exposição do grupo e as participações dos colegas no seminário evidenciaram um avanço significativo na compreensão e aplicação dos conceitos discutidos, e as contribuições de cada um foram valiosas para o desenvolvimento do seminário como um espaço de aprendizado e crescimento contínuo.

Combater a discriminação no sistema de saúde é fundamental para promover a igualdade e garantir que todos tenham acesso a cuidados adequados, como por exemplo, por meio se políticas públicas, educação, inclusão e representatividade. Como foi mencionado na fase de exposição, existe a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), que visa reduzir desigualdades, incentiva os gestores a investirem em ações para as populações mais vulneráveis, incluindo o tema do racismo na educação permanente e fomentar estudos e pesquisas. A educação é essencial. Campanhas de conscientização, grupos de discussão e programas de treinamento podem ajudar a combater preconceitos. Mas é essencial incluir representantes de diferentes grupos étnicos nas equipes de saúde. Isso ajuda a sensibilizar os profissionais e a melhorar a compreensão das necessidades específicas de cada comunidade. Acompanhar indicadores de saúde por raça e etnia é fundamental para identificar desigualdades e implementar medidas corretivas. A luta contra a discriminação é contínua e requer esforços conjuntos da sociedade, profissionais de saúde e gestores.