18 de fevereiro de 2009

"Mapa clínico" das enfermarias como ferramenta didática de Semiologia Médica


A importância da Semiologia na formação do médico é ressaltada nas novas Diretrizes Curriculares da Graduação em Medicina, no que concerne ao aprendizado de técnicas de exame clínico:

- Art 4, § V: Realizar com proficiência a anamnese e a consequente construção da história clínica, bem como dominar a arte e a técnica do exame físico (Resolução CNE/CES Nº 4, de 7 de novembro de 2001).

É importante ressaltar também que forma mais eficaz de ensinar semiologia aos alunos é através da realização dos exames clínicos nas enfermarias, o que já era preconizado por William Osler, muito tempo atrás, quando ele dizia que não seria ensino médico sem o paciente, e que o melhor ensino é aquele ensinado pelo próprio paciente, enfatizando a importância do ensino da Semiologia à beira do leito.

Justifica-se, portanto, a constante busca de abordagens didáticas que favoreçam o aluno e o paciente na prática pedagógica da Semiologia. E foi desta preocupação que surgiu a idéia de melhor organizar a ação pedagógica cotidiana na nossa disciplina.

Desde o ano de 2003, a monitoria de Semiologia Médica (Medicina / CCM / UFPB) tem-se mostrado essencial na inserção do aluno iniciante na prática didática no contexto hospitalar, porque é a primeira fase em que o aluno vai ter contato direto com o paciente e necessita de alguém que o ajude inicialmente nesta abordagem. Atualmente, também é atribuição dos monitores melhorar a sistemática de inclusão dos pacientes internados nas aulas práticas da disciplina.

Anteriormente, era preciso ir até a enfermaria localizar os pacientes em condições de participar das aulas práticas, o que era feito quase na hora da aula e dava margem a imprevistos. Então tornou-se necessário aperfeiçoar esse procedimento, o que nos fez buscar uma nova forma de organização das aulas práticas e que resultou neste relato de nossa experiência.

O objetivo desta postagem é descrever a experiência didática realizada nas atividades da monitoria de Semiologia, através da elaboração do mapa clínico das enfermarias como ferramenta didática no planejamento das aulas práticas. Trata-se de uma experiência em vigência no projeto de nossa monitoria, realizado junto aos pacientes internados nas enfermarias de clínica médica do nosso hospital-escola.

A coleta de informações é feita através de um formulário que é preenchido de acordo com os achados encontrados nos prontuários, os quais são confirmados pela realização do exame físico dos pacientes pelos monitores. O procedimento tem o objetivo de avaliar os achados semiológicos presentes e o estado clínico dos pacientes e determinar se o paciente tem condição de participar das aulas práticas e se concorda em participar. O formulário é composto pelos seguintes itens: diagnóstico principal, estado clínico, aceitação em participar das aulas práticas, dados relacionados à história clínica do paciente e achados semiológicos objetivos.

Na disciplina, há oito monitores, e este grupo é dividido em quatro duplas com a tarefa de acompanhar a rotatividade de 70 leitos da enfermaria de clínica médica. Após a coleta de dados, os achados semiológicos mais relevantes são transferidos para uma planilha eletrônica (figura acima) acessível a todos os professores e monitores da disciplina.

Essa planilha é atualizada a cada três dias pelos monitores que, após cada visita à enfermaria, acrescenta um dado novo ou exclui algum dado que, por ventura, não exista mais. Aqui está um modelo da planilha, onde na primeira linha de cada coluna está cada parte do exame físico (ectoscopia, cabeça e pescoço, respiratório, cardiovascular e abdome), onde os monitores vão preenchendo com os respectivos achados encontrados pelos monitores. Pressionando sobre cada achado na tela, abre-se uma janela onde aparece a identificação do paciente, o número de seu leito, e a descrição do achado semiológico registrado.

Os resultados preliminares desse projeto que está em execução já permitem verificar maior praticidade nas aulas de treinamento dos alunos, quanto à indicação dos pacientes a serem examinados durante a aula e, assim, tornou mais ilustrativas as práticas de demonstração de semiotécnica e exame físico.

Um outro aspecto positivo foi em relação à maior facilidade do trabalho dos professores da disciplina que, agora, podem saber com antecedência quais os pacientes que aceitam participar das práticas, o que facilitou seu trabalho de demonstração da semiotécnica para os alunos. Além disso, o que é mais importante, aqueles pacientes que não estão em condição clínica ou psicológica, ou que preferem não participar, não são perturbados desnecessariamente.

Por outro lado, o projeto também tem contribuído para a aproximação dos monitores em relação aos pacientes, assim como a melhora da relação aluno-paciente. Em suma, melhoraram o planejamento das aulas pelos professores, o treinamento dos monitores, o conforto dos pacientes e o aprendizado dos alunos da disciplina.

O presente projeto, que passamos a chamar de “Mapeamento Clínico” tem representado uma iniciativa prática importante do transcorrer da disciplina de Semiologia, oferecendo vários benefícios para o funcionamento didático dela.

Este é um projeto em andamento, e pretendemos aperfeiçoá-lo, a fim de contribuir com o ensino dos alunos de smeiologia e desenvolvimento dos monitores. Assim, a grande quantidade de atividades cotidianas da disciplina, podem ser realizadas com mais eficiência através de medidas simples delegadas aos monitores, no sentido de melhorar a prática de ensino de Semiologia Médica.