11 de julho de 2011

A Síndrome do Lobo Frontal

Por Gabriela Lemos Negri

Estudante do Curso de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
A Síndrome do Lobo Frontal (ou Síndrome Disexecutiva) caracteriza-se por alterações de personalidade, prejuízo do comportamento social, distúrbios cognitivos e outras alterações neurológicas. Pode apresentar-se clinicamente sob duas formas: (1) resultante de lesões nos giros orbitais mediais e tratos que atravessam a região, caracterizando-se por uma diminuição do senso ético e autocrítica, indiferença afetiva, irrascividade e euforia, e (2) os que resultam de lesões dorso-laterais, com uma tendência geral à indiferença e apatia, lentidão, falta de iniciativa motora e automatismo nas respostas. Observa-se frequentemente a sobreposição de sintomas órbito-frontais e dorso-laterais no mesmo indivíduo.

Palavras chave: Síndrome do Lobo Frontal. Síndrome Disexecutiva. Neuropsiquiatria.

O lobo frontal é responsável por uma ampla gama de funções cerebrais complexas. O controle de execução e planejamento, aspectos motivacionais do comportamento e de alta ordem de controle motor representam algumas dessas importantes funções. Pode ser subdividido em quatro componentes: pré-motor/motor, pré-frontal dorso-lateral, pré-frontal medial e órbito-frontal. O termo Síndrome do Lobo Frontal aplica-se apenas a esses três últimos componentes. Também conhecida como Síndrome Disexecutiva, caracteriza-se por alterações na personalidade, distúrbios cognitivos, prejuízo do comportamento social e outras alterações neurológicas.
O distúrbio nas funções executivas, ou seja, nos processos responsáveis por direcionar e gerenciar habilidades emocionais, cognitivas e comportamentais, conduzem a perdas na capacidade de tomar iniciativa; focar o que é relevante na execução de tarefas, eliminando estímulos distratores competitivos; poder de planejamento e solução de problemas complexos ou que fogem à rotina; flexibilidade para tomar estratégias que visem à solução de problemas; capacidade de monitorar e avaliar o próprio comportamento e desempenho, quando necessário. As conexões do córtex pré-frontal com as áreas motoras, o sistema reticular ativador, o sistema límbico e o córtex de associação posterior servem para ilustrar o aspecto regulador das funções motivacionais, atentivas, emocionais, perceptivas, cognitivas e comportamentais.
No que diz respeito ao aspecto clínico, a síndrome do lobo frontal envolve dois tipos básicos de sintomas: 1) os resultantes de lesões nos giros orbitais mediais e tratos que atravessam a região, e 2) os que resultam de lesões dorso-laterais, sendo frequente a sobreposição de sintomas órbito-frontais e dorso-laterais no mesmo indivíduo.
O primeiro tipo é caracterizado por uma diminuição do senso ético e da autocrítica, despreocupação com relação ao futuro, indiferença afetiva, irrascividade e euforia (antigamente conhecida como mória). Costuma-se descrever esses paciente como rudes, irritáveis, hipercinéticos, jocosos, impulsivos e sem as restrições sociais inerentes ao indivíduo adulto. Demonstram excessiva desinibição e, a depender da gravidade do caso, podem apresentar um julgamento moral comprometido.
A síndrome órbito-frontal pode assemelhar-se a quadros maníacos ou sociopatas, sendo a função pré-frontal alvo de inúmeros estudos entre os indivíduos com características anti-sociais. No que diz respeito à cognição, esses pacientes costumam apresentar um comprometimento na capacidade de inibir a interferência de estímulos externos irrelevantes ou tendências internas distratoras. Como consequência dessa falha no controle de interferências, são comuns os sintomas de perseveração, impulsividade, comportamento de imitação e utilização.
As lesões dorso-laterais, por outro lado, apresentam uma tendência geral à indiferença e apatia. Observa-se uma falta de iniciativa do ato motor, automatismo nas respostas e lentidão. O indivíduo apresenta dificuldade não apenas para dar início a ações espontâneas, deliberadas, como também para finalizar aquelas as quais deu início.
De acordo com a literatura, lesões extensas nessas áreas conduzem a alterações importantes relacionadas à organização de movimentos e ações, desintegração de programas motores e deficiência no processo de comparação de um ato motor com seu plano original. Observa-se excessiva rigidez de comportamento, perseverações, inércia de estereótipos motores, flexibilidade conceitual baixa. Com relação aos seus aspectos cognitivos pode-se observar déficit de atenção, memória, planejamento e linguagem, essa última destacando-se principalmente pela diminuição da fluência verbal e deficiência de habilidades pragmáticas ou dialógicas. É possível ainda ocorrer disprosódia e disfasia.
Anormalidades na estrutura e função do lobo frontal tem sido relacionadas a diversos transtornos neuropsiquiátricos, incluindo o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), depressão, esquizofrenia e Transtorno Bipolar. Transtornos do desenvolvimento, tais como síndrome de Down, Síndrome de Rett, Síndrome do X Frágil, Síndrome de Williams, Neurofibromatose Tipo I idiopática, Autismo, Síndrome de Tourette e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade tem sido particularmente enfatizados.

Referências
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