🩺✨ Primeiros passos na arte de ouvir: meus alunos vivenciando sua primeira anamnese — um marco na formação médica, onde escutar o outro é o início de todo cuidado. A Primeira anamnese a gente nunca esquece! Começando a jornada de ouvir com atenção, acolher com empatia e cuidar com responsabilidade. Estes são cinco dos meus alunos de práticas do grupo de tutoria em Semiologia neste semestre 2025.1 na nossa universidade (UFPB), nota máxima na avaliação do Ministério da Educação em 2025: Ana, Neto, João Gabriel, João Pedro e Rodrigo.
Com mais de três décadas ensinando semiologia médica, aprendi que a anamnese é muito mais do que uma etapa inicial da consulta. Ela é o momento em que o médico se apresenta ao paciente como alguém disposto a escutar, acolher e compreender. É, sobretudo, um exercício profundo de empatia, escuta ativa e construção de vínculo.
Mas essa arte não nasce pronta.
Estudantes de medicina, ao se depararem com a tarefa de conduzir uma anamnese, enfrentam inseguranças naturais: como formular perguntas? Como lidar com o silêncio? Como reagir diante de uma emoção inesperada? Como ordenar as informações e, ao mesmo tempo, manter o acolhimento? Essas dúvidas não se resolvem apenas com teoria. Exigem vivência, repetição, orientação — e, acima de tudo, acompanhamento.
A presença do professor ou preceptor nesse processo faz toda a diferença. Não se trata de "corrigir" a entrevista, mas de ajudar o estudante a encontrar sua voz, seu estilo, seu modo humano de se comunicar com o outro. Acompanhá-lo é oferecer segurança, modelar atitudes, apontar caminhos éticos e técnicos, e ensinar que cada pergunta carrega um gesto de cuidado.
É também mostrar que a anamnese não é um roteiro engessado, mas uma conversa orientada por escuta atenta e respeito. A experiência clínica nos ensina que muitos diagnósticos se revelam nas entrelinhas do discurso do paciente — e o estudante precisa aprender a "ler" essas entrelinhas.
Além disso, é no acompanhamento que cultivamos valores fundamentais para a prática médica: humildade, paciência, atenção plena. É ali, no contato com o paciente real, que o estudante compreende que a medicina começa com uma história — e que saber ouvir bem é o primeiro passo para cuidar com excelência.
Acompanhar estudantes na anamnese é, portanto, um gesto de compromisso com o futuro da medicina. É formar não apenas profissionais competentes, mas médicos sensíveis, capazes de ouvir com o coração e interpretar com o raciocínio clínico.
Que continuemos, como educadores, a valorizar esse momento formativo. Porque toda boa medicina começa com uma boa escuta — e todo bom médico, com alguém que o ensinou a escutar.
“Ser médico é, antes de tudo, ser um bom ouvinte.” (Pedro Nava)