18 de outubro de 2015

Ao Bom Médico...

"O bom médico é aquele que refaz, mesmo sem o saber, a trajetória da medicina através dos tempos. 
Como Hipócrates (460-377 a.C.), sabe que a vida é curta mas a arte é longa; sabe que a ocasião é fugidia, a experiência, enganadora, o julgamento, difícil." [...] 
"O bom médico sabe, como o francês Ambroise Parré (1510-1590) que curar é mais do que intervir; curar como diz a origem latina da palavra, significa cuidar." [...]
"O bom médico sabe, como o inglês Thomas Sydenham (1624-1689), que a enfermidade tem certa lógica, segue aquilo que se pode chamar de uma história natural, que aos poucos, e seguindo um trajeto mais ou menos previsível, transporta a pessoa para outra realidade, a realidade da doença" [...]
"O bom médico sabe, como o alemão Rudolf Virchow (1821-1902), que a doença deve ser procurada não apenas no que é visível, mas também ali onde os olhos não enxergam". [...] 
"O bom médico, como o austríaco Sigmund Freud (1856-1939), sabe que é preciso ter coragem de defender as próprias convicções, como aquelas sobre a existência do inconsciente, mesmo quando elas se chocam com os preconceitos e as idéias preestabelecidas.
O bom médico sabe, como o brasileiro Oswaldo Cruz (1872-1917), que é preciso enfrentar a doença na população, mesmo trabalhando na complicada fronteira entre medicina e política. [...]

"O bom médico talvez não seja tão famoso como Hipócrates ou Parré, quanto Sydenham ou Virchow, quanto Freud ou Oswaldo Cruz; mas para seu paciente, para a comunidade da qual cuida, ele é a própria medicina, ciência e arte."

[In: SCLIAR, M. O olhar médico: Crônicas de Medicina e Saúde. São Paulo: Agora, 2005]